Comparar Cavani com Romário é uma ofensa. Cavani é um excelente centroavante. A mim, está na mesma categoria de caras como Mário Jardel, Giovane Élber e Sony Anderson. Cavani não é melhor nem do que Suárez e Crespo, imagine ser comparado a Bebeto, a Careca e a Romário. Não há como.
Estes brasileiros eram jogadores completos, podiam criar e finalizar com a mesma desenvoltura. Eram jogadores efetivamente perigosos, não só dentro da área, mas fora dela.
Cavani e Suárez são centroavantes de um toque, são unidimensionais naquilo que podem ofertar para o coletivo. Quer dizer, precisam essencialmente ser municiados para poderem render. E rendem muito bem, é verdade. São dois dos cinco melhores centroavantes da atualidade. No entanto, se o jogo se mostra complicado para o seu estilo de jogo, jamais eles conseguirão manter no mesmo patamar de rendimento de seu ofício original atuando fora dele, por exemplo, jogando pelos lados, ou recuando mais, para buscar o jogo, como os brasileiros foram.
Percebam vocês: podemos chamar aqueles brasileiros craques, mas Suárez e Cavani, efetivamente, não.
Guardo para mim uma seguinte fórmula, que me ajuda muito a entender e a explicar o porquê do "craque" de futebol. É quase certo dizermos que todo craque de futebol, da história ou do presente, foram e são jogadores que transitaram, ao longo de sua carreira, por várias posições na sua zona de ofício (defesa, ou meio, ou ataque). Careca e Bebeto foram meias-atacantes; Romário, ponta.
Careca foi improvisado de centroavante com 17 anos no Guarani e de lá não mais saiu. Virou o segundo maior centroavante do mundo da década de 80, um nível inferior a Marco Van Basten. Todos o elogiavam pela sua excepcional qualidade técnica, domínio de bola, velocidade, ambidestria, jogo aéreo, habilidade, mas, principalmente, por sua inteligência para tabelar e troca de passes rápidos fora da aérea. Não sem razão que Wladimir, Leão, Neto e outros jogadores dizem que Careca foi o centroavante mais completo de nossa história e superior até mesmo a Ronaldo, a Reinaldo e a Romário.
Bebeto foi contratado do Vitória para ser o ponta-de-lança reserva de Zico. Depois foi posto na ponta-direita na reserva de Renato Gaúcho. Depois, mais maduro, virou o centroavante do Flamengo nos fins da década de 80. Depois virou o centroavante do Vasco e depois do La Coruna. Na seleção, jogava de centroavante com Muller, depois jogou de segundo homem do ataque, primeiro com Romário, depois com Careca, depois com Romário de novo, e, por fim, com Ronaldo.
Romário era ponta-esquerda no Vasco. Depois, à medida do tempo, se efetivou como segundo homem no ataque, e depois virou centroavante no fim da carreira do Dinamite e, depois, se firmando na posição no resto da carreira.
O Ancellotti disse a Falcão que ficava embasbacado com a capacidade do Brasil produzir centroavantes tão perfeitos. Ele disse que não conseguia entender o que levara Careca e Romário serem centroavantes, porque se fosse no futebol europeu, eles jamais seriam noves, mas trequartistas ou registas. O Falcão disse ainda que o seu amigo falou que nossos atacantes eram multifunções, de tal modo completos que podiam jogar em qualquer função da linha de ataque sem perder o seu ímpeto goleador e produtividade dentro de campo. E é a pura verdade!
Cavani e Suárez são assim? São excelentes centroavantes, mas longe de serem jogadores do quilate destes brasileiros. Cavani já jogou de segundo homem e de lado no PSG, mas não passou de um esforçado e voluntarioso jogador, porque tecnicamente ele não dava volume de jogo ao time. Só rende mesmo como homem de referência. Suárez, da mesma forma. É pouco mais técnico do que Cavani, mas ainda sim é um jogador que não confere perigo ao adversário e fornece volume de jogo jogando fora do seu habitat.
Aliás, sem saudosismo, quem de centroavante, hoje, nós podemos chamar de craque? Talvez o único seja aquele que nem sequer foi formado como centroavante, mas que vem fazendo a função quase que fortuitamente, justamente pelo seu ímpeto ofensivo descomunal.