“A escolha de Sofia” e outras notas de Carlos Brickmann
Uma candidatura se articula ao longo do tempo. O tempo passou e não há um nome sequer do centro que não seja nanico
Jair Bolsonaro (em entrevista a VEJA, na semana passada): “Há três, quatro anos eu não tenho tempo para falar em livro. (…) Eu fico no WhatsApp.”; Lula, em entrevista à Rádio Tupi, em 2009: “Eu não consigo ler muitas páginas por dia, dá sono. Vejo televisão. Quanto mais bobagem, melhor para mim. Eu quero é limpar a cabeça.”
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
Meryl Streep, obrigada pelos nazistas a decidir qual de seus dois filhos iria morrer (e, caso ela não o escolhesse, ambos seriam mortos), ganhou o Oscar pelo filme “A Escolha de Sofia”. Os eleitores brasileiros, obrigados a escolher entre dois candidatos que se destacam pelo radicalismo, também serão premiados: receberão o prêmio que Luzia ganhou atrás da horta.
É difícil para o eleitor anticomunista votar num candidato que, quando Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela, elogiou-o (“uma esperança para a América Latina”) e comparou-se a ele. Disse que Chávez não era anticomunista e ele, Bolsonaro, também não era. “Não há nada mais próximo do comunismo do que o meio militar”.
É difícil para o eleitor petista que vai ao delírio só de ver o retrato de Lula ser obrigado a votar num laranja confesso, que troca seu nome de família, aquele que seus pais utilizam, para, como o Chefe, usar o sobrenome de Lula (e não é só o sobrenome: faz-se chamar de Luís Fernando Lula Haddad). Usa máscaras de Lula para induzir eleitores a votar em seu nome. E confessa não ter a menor ideia do que fará sem viajar a Curitiba para visitar o Chefe na cadeia. Cafezinho com açúcar ou adoçante? É Lula que sabe.
Jaques Wagner, lulista entre os lulistas, rejeitou o papel subalterno que lhe queriam atribuir, de boneco de ventríloquo. Haddad se rebaixou, feliz.
Tudo atrasado
Fernando Henrique, a 16 dias da eleição, propôs aos candidatos de centro que se unam para evitar que o segundo turno seja disputado pelo homem da bala e o laranja de Lula. Boa ideia ─ mas agora, quando não dá mais tempo? E imaginemos que houvesse tempo: somar Alckmin, Marina, Álvaro Dias, Meirelles, Amoêdo é como juntar moedinhas para enfrentar o volume de dinheiro e joias do vice-presidente da Guiné Equatorial. Uma candidatura se articula ao longo do tempo. O tempo passou e não há um nome sequer do centro que não seja nanico. Até Alckmin: quatro vezes governador de São Paulo, uma vez, em 2006, candidato à Presidência (tomou uma surra de Lula, após garantir que os tucanos eram contra as privatizações ─ justo eles, que privatizaram com sucesso a Vale e a telefonia), até agora não conseguiu tornar-se conhecido do Nordeste. Perde em São Paulo, sua base eleitoral, reduto dos tucanos, para Jair Bolsonaro.
Ciro, talvez
Ciro Gomes, que se mantém vivo na disputa, poderia ser a solução para o centro. Já foi da Arena Jovem, já foi ministro de Itamar Franco (concluiu a implantação do Plano Real). Mas qual dos outros candidatos o aceitaria?
Meio tarde
Fernando Henrique, conversando com Bernardo Mello Franco, de
O Globo, concordou que seu apelo tem poucas chances de ser ouvido. “Mas temos de fazer algum esforço. Não sei se algo vai acontecer”. Não, não vai.
Fale o que eu quero
Paulo Guedes, que deve ser ministro da Economia se Bolsonaro for eleito, conhecido como Posto Ipiranga, já sabe de seus limites: foi só falar na volta da CPMF, o Imposto do Cheque, para tomar uma chamada do candidato. Bolsonaro deixou claro que quer eliminar impostos, não criar novos. Guedes explicou que o novo imposto iria substituir cinco ou seis impostos federais, mas Bolsonaro não gostou. “Não é a CPMF, seria um imposto único”, disse Guedes. Não adiantou: o Brasil já experimentou o Imposto Único, e descobriu que o Imposto Único era apenas mais um.
É demais
Bolsonaro acompanhou também as declarações de seu vice, general Hamílton Mourão, sobre uma Constituição redigida por pessoas não eleitas e o papel de mães e avós, que sem ter o pai e o avô em casa, não impediriam o recrutamento das crianças pelo tráfico. Mourão foi contido por Bolsonaro: nada de propor temas ainda não discutidos com ele. [...]
Fonte
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isto é uma coisa sinistra cara, pra chegar nesse ponto o nivel de desespero do país está alarmante
Pois é, velho... Quando soube que isso aconteceu no Ceará, o suposto curral eleitoral do "Coroné", também achei surreal.
Não participo aqui da pasta, mas venho aqui só pra relatar um acontecimento de ontem, no minimo, épico.
Estava num bar com uns amigos de esquerda, tomando umas e dialogando as ideias, eis que começa a passar uma carreata do Bolsonaro, que durou facilmente uns 20 minutos OU MAIS... Detalhe: Isso aconteceu numa cidadezinha pacata do interior de São Paulo com pouco mais de 100 mil habitantes (Mogi Mirim). Isso nunca havia acontecido por aqui com nenhum politico.
Foi lindo ver esses meus amigos CALADOS perante a realidade. Impagável a cara deles.
Provável reação do gamermaniacow durante a passagem da carreata: