Os caras são tão gênios que acham que ódio contra discurso de ódio "é contradição", rs. Para eles, lutar contra injustiças sociais requer necessariamente ao menos dois pré-requisitos básicos: a) ser sempre pobre e odiar o capitalismo (se for classe média, já é "caviar" e "socialista de smartphone"; não pode); e b) ser sempre o mais pacífico e molenga possível (ao mesmo tempo, se for exatamente isso, é zoado "por ser vegetariano", etc). Tudo errado.
Você pode muito bem usufruir do capitalismo, mas reconhecer que ele claramente também gera desigualdades que precisam ser dirimidas - um social-democrata, por exemplo, não luta pelo comunismo/fim do capitalismo, mas apenas pela sua maior "humanização". O mesmo vale para ser "pacifista e bobão". Não, existe, sim, um "ódio do bem". Ainda existe esta coisa chamada de "revolta contra o inadmissível". Até mesmo Jesus destruiu um mercado erigido em um templo sagrado - o seu próprio "ponto do inadmissível".
Por que diabos precisaríamos ser todos sempre como o Gandhi? Não, nós não precisamos (embora também ainda possamos ser, caso a estratégia assim o solicite). Esta é apenas mais uma fantasia pervertida alimentada pela direita sobre o que a esquerda deveria ser, e que obviamente já reflete todos os seus preconceitos. Ao mesmo tempo, também não é que não exista hipocrisia, impotência, privilégio e inoperância na esquerda (existe, sim), mas isto também não é absolutamente tudo o que por aí existe, assim como ainda existe uma direita respeitável, sincera, honesta e decente (ainda que discordemos dela).