Eu sou da opinião que jogos da série Zelda devem ser jogados em seu próprio ritmo e com um certo tempo dentre os mesmos, pois dada a formula repetitiva da série (Pegue as três coisas nesse templo de terra/vento/floresta, fogo e água; libere a Master Sword; pegue mais três coisas e depois acabe com o Ganon/dorf) é fácil sentir que você está fazendo a mesma coisa do jogo anterior com algumas poucas mudanças. O último Zelda que eu joguei foi o Wind Waker (WW), que por sinal foi último jogo que eu joguei no ano passado, três meses depois volto para a série com Twilight Princess. O Wind Waker mudou um pouquinho a fórmula introduzindo o mar com um monte de nada para fazer, entretanto o Twilight Princess voltou com tudo para a formula original.
Nas palavras do próprio
Aonuma:
"Twilight Princess, because I wanted to create something better than Ocarina."
The Legend of Zelda: Twilight Princess (TP) pega bastantes referências do Ocaria of Time (OoT) e tenta fazer um jogo que é “melhor” e “maior” em todos os sentidos, chega a ser desesperador essa mania de superar o OoT. As semelhanças são várias, você começa em um lugar pacato e pouco tempo depois tem que salvar o mundo, as primeiras dungeons tem praticamente o mesmo tema, e o mapa de Hyrule está de volta, só que dessa vez está bem maior. O jogo abandona o tema “Heartwarming” do Wind Waker e volta com tudo para a história “Dark” cheio de tragédias e monstros medonhos, e como gimmick da vez temos o Link Lobo.
Começando pela história. Esse jogo é a versão em vídeo game da palavra “Épico”. Pegando a definição de um dicionário aleatório temos:
“Observando ou pertencendo a uma composição poética longa, geralmente centrada em um herói, em que uma série de grandes realizações ou eventos é narrado em estilo elevado. ”
Você vai de fazendeiro à herói global. Em uma jornada enorme (literalmente) cheia de altos e baixos onde você deve derrubar inimigos maiores e mais medonhos a cada passo em lugares bem bizarros.
Eu gostei bastante da história do jogo, ela é legal e bem estruturada, o jogo tenta e consegue explicar várias coisas do mundo de Hyrule de forma coesa. Os Zoras não interagem com as outras criaturas por causa do rio e as outras criaturas não conseguem subir a cachoeira gigante para interagir com os Zoras, os Gorons e o vilarejo local de humanos estão “brigados” e as duas raças não se bicam, depois de você resolver o conflito as duas raças se tornam amigáveis e é possível ver Gorons e Humanos juntos em várias partes do mapa. Como a invasão do Zeth é uma espécie de ameaça invisível, vários NPC’s não fazem a menor ideia do que está acontecendo com o mundo, e por aí segue. São vários detalhes interessantes que deixam a história cada vez melhor. Eu só não gostei do vilão, para mim ele só cumpre o papel, e nada mais.
Com base nas minhas pesquisas de 5 minutos, várias pessoas reclamam do começo do jogo que é muito lento, e eu concordo 100% com essas reclamações. O jogo só te deixa andar livremente no mapa depois de pegar a Master Sword, o que acontece depois de dez horas ou mais de jogo. Antes disso você joga alternando entre o Link normal e o lobo Link. A parte do vilarejo eu até que gostei, certamente foi feito para aumentar a imersão do jogador para com os eventos que viriam à acontecer. É claro que como tutorial essa parte é bem chata, e não ter a possibilidade de pular esse “Tutorial” em playthroughs posteriores é desapontante. Depois de uma meia horinha o circo pega fogo e você finalmente pode jogar... mais ou menos.
Nas primeiras três dungeons (DEZ HORAS) você alterna entre o Lobo Link e o Link normal conforme o jogo deseja. Primeiro você começa a explorar o mapa inteiro com o Lobo à busca das Tears of Light, provavelmente o objetivo disso era familiarizar o jogador com o Lobo, e depois de liberar a área do Twilight você volta a ser o Link (túnica verde, chapéu pontudo, etc.) de sempre. Ficar procurando Tears of Light é um saco, para pegar as benditas é necessário ficar caçando uma série de besouros no mapa com os seus sentidos de lobo (é esse o nome mesmo). Durante essas caças você vai entrar em alguns combates com uns bichos pretos estranho que só morrem se matar os três ao mesmo tempo, depois de exterminar essas criaturas você cria (ou libera, exorciza, sei lá) um portal que poderá ser utilizado como ponto de Fast Travel futuramente no jogo (DEPOIS DAS DEZ HORAS). Os benditos dos besouros estão muito bem escondidos e alguns são bem chatos de encontrar. Inicialmente eu não tive problemas com essas partes, pois andar como o Lobo Link nunca realmente me irritou, o problema é que depois você precisa explorar novamente o mapa com o Link normal. Admito que é interessante ver rotas alternativas para o que você já vez, mas repetir tudo de novo fica monótono depois de um tempo.
O gameplay do lobo é simples, você ativa os sentidos de lobo para seguir algum tipo de rastro, e também serve para ver algumas coisas que o Link normal não consegue, como dicas para a dungeons, lugares para cavar para descobrir segredos, etc. No combate ele é igual, a única diferença é que ele não recebe nenhum ataque extra conforme o progresso do jogo, tem algumas pequenas diferenças aqui e ali, mas nada muito drástico. No late game o Wolfie é meio irrelevante, você usa de vez em quando para atravessar algum obstáculo ou para ajudar a resolver puzzles, alguns no final do jogo são bem legais com o lobo. Como gimmick eu realmente não me importo com o lobo, ele não é a sétima maravilha do mundo, mas não atrapalhou a minha experiência com o jogo, considerando o Skyward Sword, poderia ser muito pior.
O Link é aquela mesma coisa de sempre, o combate teve algumas melhorias, mas nada muito revolucionário. Conforme você vai explorando o jogo, você encontra umas pedras que pode uivar (que é horrível de escutar diga-se de passagem) e conversar com um espírito do passado, esse espírito te ensina novas técnicas que deixam o combate muito mais interessante, contra os monstros mais fracos do começo isso não faz muita diferença, mas, novamente no final do jogo, as lutas são mais divertidas, mesmo que fáceis, graças a essas habilidades novas.
Depois de se familiarizar com o jogo e pegar a Master Sword (DEZ HORAS) o jogo fica muito melhor, as dungeons mudam muito a formula padrão de Zelda e são extremamente divertidas, e finalmente poder transformar entre Lobo e Homem é deveras agradável, os pontos de Fast Travel estão bem posicionados e graças a isso andar pela Hyrule gigante nunca foi irritante, mesmo quando era necessário andar distâncias maiores a Epona estava lá para ajudar.
As dungeons desse jogo são brilhantes, só não gostei da "dungeon do passado", devido ao backtracking enorme, das outras eu gostei de tudo. São todas bem lineares, mas isso não às deixa fácil, alguns puzzles são realmente complicados e você precisa se concentrar para não se perder totalmente. Prestar atenção nos detalhes é essencial e a utilização dos itens é bem divertida (tirando a bola gigante de aço). Ainda nos itens, eu diria que essa imagem resume bem eles fora das dungeons:
Pegando o gancho da imagem, como companion nessa aventura temos a Midna, que eu detestei no começo do jogo e passei a adorar conforme o mesmo foi progredindo, vou manter essas informações breves pois eu recomendo descobrir por si só os motivos de adoração das massas pela Midna.
Infelizmente nem tudo são flores, o jogo tem uns problemas horríveis com o pacing. Como qualquer Zelda, antes de entrar na dungeons você tem que resolver alguns puzzles básicos para encontrar a dita dungeon, no TP isso é deveras irritante em certos pontos. Várias vezes o jogo vai parar o seu progresso para pedir uma coisa bizarra, dentre elas: conseguir um anzol especial pescar um peixe específico em um lugar específico, fazer uma Trading Sequence enorme, dentre outras pérolas. E mesmo as dungeons sendo maravilhosas, algumas coisas nelas são bastante irritantes, em algumas dungeons (estou olhando para você City in the Sky) é chato para carvalho ficar esperando alguma coisa se posicionar corretamente para você prosseguir com a dungeon, com umas animações extremamente lentas.
As side quests são poucas e nada interessantes, do meu ponto de vista é claro. Primeiro nós temos a versão TP das Golden Skulltulas, os 60 espíritos de Poe, você consegue esse matando Poe’s no mapa e nas dungeons, a recompensa para essa quest é patética, nos primeiros 20 você ganha um bottle, que é legal, depois é só rupee. O problema maior dessa quest é que os Poe’s só aparecem de noite e não tem nenhuma Song of Sun que te permite mudar o horário instantaneamente, ou seja, você tem que esperar anoitecer para procurar os malditos e ainda tem um limite de tempo para caçar eles. Também tem a quest de encontrar insetos dourados, que te dá alguns upgrades no tamanho da carteira e tem aquela Trading Sequence padrão, no lugar da Biggoron Sword nós temos a Magic Armor, que come rupees igual o Super Sonic come anéis (pun intended) no Sonic Generations e te deixa invencível enquanto você tiver dinheiro na carteira.
Falando exclusivamente da versão do WiiU, nós temos alguns upgrades no gráfico e algumas poucas mudanças técnicas, nada drástico. Mas nós também temos duas coisas novas que valem a pena mencionar. Primeiramente temos uma dungeons nova exclusiva para o Wolfie, a Cave of Ordeals que é uma dungeons de 50 níveis de puro combate. O problema é que essa dungeons só é liberada com o Amiibo do Wolf Link, se você não tem esse treco, não tem como jogar essa dungeons, e também não tem como conseguir a Wallet que suporta 9999 rupees.
O jeito Nintendo de te f***r
Também exclusivo da versão WiiU nós temos a adição de stamps que são utilizadas para alguma coisa no miiverse. É extremamente divertido ficar 30 minutos tentar alcançar um baú e conseguir uma stamp que você nunca vai usar na vida, seria realmente melhor pegar 20 rupees.
No final nós temos um jogo que certamente tem suas falhas, mas mesmo com essas falhas esse jogo ainda tem aquele pedigree da série Zelda, uma experiência única de aventura. Mesmo com todos os problemas que eu tive no jogo e mesmo até pensando em largar em certos pontos eu acabei gostando, e muito, do jogo. Eu diria que os pontos positivos excedem os negativos e recomendo fortemente para quem é fâ da série. Para os iniciantes eu não recomendaria, existem várias referências aos jogos anteriores que definitivamente melhoram a experiência do jogo.
Tempo de jogo:
40h58m
Nota:
9/10