São Paulo: Enxugando gelo
O São Paulo é um caso a parte entre os 12 grandes do país. Em dezembro, o clube divulgou o orçamento da temporada com a previsão de arrecadar R$ 60 milhões em venda de jogadores e mesmo assim não evitaria um déficit de R$ 7,5 milhões. Chegou a se reunir com os conselheiros para tratar da antecipação de receita (o que não foi aprovado).
Em janeiro, conseguiu vender o meia-atacante David Neres, cria da base, ao Ajax por R$ 40 milhões - com chance de lucrar mais R$ 10 milhões -, recebeu R$ 5 milhões pela transferência do meia Oscar do Chelsea para o Shanghai SIPG, do futebol da China, e já tem praticamente acertada a saída do zagueiro Lyanco ao Atlético de Madri por R$ 20 milhões. Vendas que, em tese, evitam o deficit. Assim, deu-se ao luxo até de gastar R$ 21,5 milhões para ter Lucas Pratto. Situação tranquila? Não é bem assim.
"No fim do ano o São Paulo mostrou aos conselheiros um orçamento que precisava arrecadar R$ 60 milhões em vendas e ainda assim ficaria com um deficit de R$ 7,5 milhões. Na prática, tinha de vender R$ 67,5 milhões porque não existe divulgar orçamento com prejuízo, ou com déficit. Tem de divulgar no mínimo 0 a 0", explicou o Itaú.
"Podemos até fazer uma conta simples: o São Paulo já vendeu neste primeiro semestre David Neres por R$ 40 milhões, sendo que pode vir a receber mais R$ 10 milhões no meio do ano, que depende de performance do atleta, número que ainda não dá para considerarmos. Então, são: R$ 67 milhões menos R$ 40 milhões do Neres, menos R$ 5 milhões do Oscar, menos R$ 20 milhões do Lyanco, que é uma venda que dizem que já aconteceu. Vai sobrar R$ 2 milhões de déficit. Em tese, com isso o clube praticamente fechava a conta do ano. Teve de vender, vendeu, resolveu o problema e toca a vida", disse.
"Mas não terminou aí. Começaram as contratações. De acordo com números divulgados pela imprensa, Pratto custou R$ 21,5 milhões. Toda a negociação tem comissão. Vamos dizer que tenha sido de 10%, que é algo usual, não é demérito, são R$ 2 milhões investidos. Aí tem o salário do atleta e pelo que li será de R$ 500 mil livres por mês. Isso significa que o imposto é o clube que terá de pagar. Se vai sair do clube é em torno de R$ 800 mil por mês. Como são 13 salários, são R$ 10 milhões no primeiro ano. Aí tem o Jucilei que deve ganhar uns R$ 400 mil por mês. No ano, são mais R$ 5 milhões. Ou seja, daquele 0 a 0 alcançado com as vendas, o São Paulo voltou a ter uma necessidade de arrecadar R$ 41 milhões, considerando esses gastos que foram feitos e que serão feitos ao longo do ano", prosseguiu o superintendente de crédito do Itaú BBA.
"Vamos dizer que para abater esse valor o São Paulo use a reserva para fazer um investimento, que estou considerando ser em torno de R$ 15 milhões. Ou seja, mesmo usando a reserva, o clube precisará de R$ 26 milhões para fechar o caixa. Se conseguir vender o Luiz Araújo, que teve proposta de R$ 20 milhões, ainda terá a necessidade de cobrir R$ 6 milhões em déficit. Neste exemplo, o São Paulo vai ter de vender os três jogadores que eu citei [Lyanco, Neres e Luiz Araújo] e mais alguém. Ou vai tomar dinheiro emprestado ou vai vender mais alguém para fechar a conta. O São Paulo vai vender quatro atletas, da base, que são jovens com potencial, para fazer investimento num atleta que já tem 29 anos e para repatriar outro para fechar a conta", completou.
Neste cenário, Grafietti concluiu que a fórmula usada pelo São Paulo pode representar um problema de difícil solução no futuro.
"Quando você trabalha numa empresa que tem necessidade de caixa estrutural, você vende ativo para resolver o problema. Vende um terreno, vende uma planta, para colocar o dinheiro em caixa e resolver seus problemas. O São Paulo está vendendo os atletas, os ativos, para comprar outros e para fechar a conta do ano. Vai chegar o ano que vem e provavelmente ele vai ter os mesmo problemas atuais. Do ponto de vista esportivo o torcedor deve estar feliz, e tem de estar mesmo porque foram boas contratações, mas do ponto de vista financeiro o São Paulo está enxugando gelo, está dando voltas. Continua tendo de vender atletas, atletas de potencial e ainda assim continua sem pagar a conta. Quando os dirigentes veem a público e dizem que o clube está com a situação semeada, eles passam a falsa impressão de que está semeada mesmo, mas sem estar."