Eu havia preparado uma resposta informativa e introdutória sobre o tema, mas por questões de tempo, estou postando somente agora.
O tema pode ser abordado de três formas, eu não questionarei aqui crenças, ou descrenças pessoais, sejam suas, sejam de outros usuários. Mas postarei algumas informações relacionadas as três principais perspectivas sobre o tema.
- O Diabo sob uma perspectiva alegórica e histórica
Na filosofia, na arte e na história humana, o Diabo não representa somente o "mau" e a "mentira". Representa também a ideia de rebelião, a dualidade do ser humano, o confronto entre a repressão e a liberdade, a quebra de paradigmas, o lado sensual humano, o lado audacioso e explorador.
Para quem tem interesse na incrível e expressiva força do Diabo, ou de Lucifer na arte e em alegorias relacionadas a condição humana, recomendo as seguintes obras.
"Paraíso Perdido" de John Milton
"O Casamento do Céu e do Inferno " de William Blake
"Fausto" de Goethe
Recomendo também a arte de Hieronymus Bosch, Franz Von Stuck e Francisco Goya.
- O Diabo sob uma perspectiva pessoal, como uma continuação do seu eu, como uma manifestação do seu subconsciente, como a representação do seu lado Sombra.
Simbologia, rituais, e crenças muitas vezes são formas de estimular o nosso inconsciente. Formas de enfrentarmos e conhecermos mais sobre o nosso próprio mundo interior.
Nos confins da nossa mente, lendas, mitos e arquétipos muitas vezes nos impactam mais do que o nosso lado racional capta. Uma lenda sedutora, pode ecoar dentro de nós como uma representação interna do nosso próprio eu.
Quando por meios ritualísticos, reflexivos, confessamos e apresentamos a nós mesmos o nosso lado sombra, não necessariamente nos tornamos destrutivos. Muitas vezes é possível encontrar traços nossos que nos tornam mais hábeis perante uma realidade competitiva e uma natureza predatória que domina os nossos arredores. Muitas vezes, quando conhecemos o nosso lado "mau", desenvolvemos mais controle, sabendo assim conter esse lado quando ele deve ser contido.
O auto conhecimento é também uma boa forma de anularmos ilusões, contermos a nossa arrogância. O "Lucifer interior", nos revela verdades sobre nós mesmos, sobre o que ocorre a nossa volta e compreensão muitas vezes gera a compaixão, a possibilidade de uma versão aprimorada e mais justa de nós mesmos. Existe algo similar no Budismo Tibetano, a busca pela ruptura das ilusões, o contato com as entidades coléricas interiores para ter forças para quebrar ilusões pessoais, para buscar inspiração intensa, etc.
Rituais que soam fantásticos, muitas vezes abrem as portas para uma perspectiva nova, o encontro com o subjetivo que tanto impacta as nossas vidas. Pense em aspectos emocionais e subjetivos na sua vida, desde sentimentos como amor, repúdio, aos sonhos mais frágeis e desejos mais intensos. São detalhes que certamente impactam o seu dia a dia mesmo sendo "invisíveis" e "não palpáveis", não é mesmo? Rituais podem servir como uma auto hipnose, uma forma de encontrar facetas em você mesmo, que racionalmente não seriam acessadas completamente.
Claro, a mente racional, a autocrítica são sempre necessárias para nunca você nunca permitir que uma experiência produtiva de contato com o seu inconsciente e subconsciente, acabe virando somente uma fantasia escapista, que anula a sua atuação real perante você mesmo e perante o mundo a sua volta.
Para quem tem curiosidade com esse tipo de coisa recomendo:
Liber Falxifer I & II - Um apanhado interessante de rituais relacionados ao seu "outro eu", ao "lado sombra", com muito da mitologia espiritualista relacionada a entidades similares a que conhecemos aqui no Brasil como as falanges de Exus.
Goetia na perspectiva do Aleister Crowley e outras publicações de autoria dele. Os textos do Crowley e da Thelema muitas vezes soam megalomaníacos, mas são interessantes e descrevem bem aspectos ritualísticos. Mais do que um "místico", na minha opinião, o aspecto mais interessante do Aleister Crowley é exatamente o mais palpável, a forma como ele viveu como desejou, a quebra de paradigmas, a perspectiva de liberdade pessoal.
- O Diabo sob a perspectiva mística e religiosa
O Diabo sendo uma entidade palpável, que abita outra dimensão paralela a nossa, assim como outras entidades.
Tudo o que eu escrevi sobre a questão subjetiva do inconsciente e do subconsciente se aplicam aqui, mas com a inclusão de todos os preceitos religiosos e da fé.
Não comentarei muito sobre, pois imagino que cada um aqui tenha uma perspectiva diferente. Mas vale comentar que até mesmo no Cristianismo, o Diabo e o profano já estiveram historicamente mais presentes, não como símbolo de todo mal, mas como parte integral da dualidade divina, assim como parte integral da condição humana.
Você comentou ter curiosidade sobre incorporação, possessão e influências diretas. Além dos rituais relacionados aos materiais citados, tente visitar um terreiro de umbanda, visite uma gira de esquerda e converse com alguns Exus incorporados e tire suas próprias conclusões. Seriam reais entidades? Seriam manifestações do inconsciente do médium que está em transe? Seriam pura ilusão.
Recomendo os livros do William Peter Blatty, são bons livros sobre a religiosidade, sobre a sanidade e envolvem o tema em questão, abaixo os livros:
The Ninth Configuration (existe também o filme, uma bela obra sobre religiosidade, sobre sanidade e sobre o questionamento em relação ao "mal")
The Exorcist
Legion
Existe também um livro escrito pelo Thomas B. Allen que narra os diários dos padres envolvidos no suposto exorcismo real que inspirou a obra de ficção (e o filme popular) The Exorcist (do Blatty)
Aí está, um breve resumo sobre o tema.