Houve motivos para a rejeição e criação da má fama, entre a plebe ignara brasileira, dos motores 16V (que por pura preguiça vou usar como sinônimo de motor com 4 válvulas por cilindro, assim como usarei 8V como sinônimo de 2 válvulas por cilindro). Só um, na minha opinião, é realmente "culpa" das primeiras versões desses motores.
Quando esses motores chegaram ao Brasil eram vistos como caros e sofisticados. Muito mecânico se assustou e não sabia como fazer a manutenção. O que é mais fácil que aprender? Rejeitar. E fazer a cabeça do cliente que esses motores não prestam.
Mas há os mecânicos competentes, que não têm medo do novo e aprenderam como manter esses motores. Aí entra um segundo motivo, bem plausível: o tempo adicional que motores 16V exigem para manutenções como troca de correia dentada, ajuste de válvulas, etc. E em oficina, tempo é algo muito crítico. O que dá dinheiro é serviço rápido, simples e barato. Rotatividade. Carro parado em oficina é dinheiro perdido. Aí, das duas uma: o mecânico não pega o serviço ou, de forma absolutamente justa, cobra a mais pelo serviço do que cobraria em um motor 8V; afinal, é mais mão de obra. Mais ferramental específico e trabalho pra sincronizar (a velha marquinha de tinta não era mais tão prática...) Aí o cliente brasileiro médio deu a fama de "motor 16V tem manutenção cara".
Nessa de achar que a manutenção é cara, fez o dono do carro cuidar melhor de sua máquina? Porcaria nenhuma, aqui é Brasil, terra de levar vantagem em tudo! Uma correia dentada estourada não destruía mais 2 válvulas por cilindro, mas 4! Não era mais um comando de válvulas danificado, mas 2 (eu sei que há motores 16V com comando único, mas há engrenagens de sincronização adicionais, custa mais caro do mesmo jeito)! Duas vezes mais sedes de válvulas para assentar, cabeçote mais complexo para retificar! Não trocou o óleo corretamente? Aquela completadinha no posto resolve? Deu borra em tudo? É mais caro arrumar nos 16V! A culpa é do dono relapso? Nãããao, do motor, é claro, que não aguenta o tranco como os velhos AP e CHT.
Mas também houve pecados dos projetos dos motores ou das recomendações dos fabricantes. Eram motores novos pro Brasil, vários fabricantes mantiveram os intervalos de manutenção europeus. Deu muita m****, particularmente com o óleo. E como já falei, a manutenção era mais cara. Fechou-se o ciclo.
Ainda, motores 16V de baixa cilindrada e sem variação de fase dos comandos são "mortos" em baixa rotação. Um motor 1.0 16V das primeiras gerações é um martírio para trânsito urbano. Cansa. De verdade, é uma condução cansativa. E eleva o consumo, o motor precisa de giro pra desenvolver. Se tiver oportunidade, teste dois motores 1.0 do início dos anos 2000 e verá: o Fire 8V e o Fire 16V, ou mesmo o Renault 16V: o Fire 8V de 55 cavalinhos é muito mais adequado para trânsito urbano.
O último motor 16V do mercado brasileiro sem variação de fase dos comandos foi o Renault D4D, se não me engano; já descontinuado em 2016. Hoje em dia todos os "problemas" foram resolvidos. Quem ainda rejeita essa configuração de motor, dentre as opções atuais, está sem razão para tal.