Se pra você a crise que sofreu não foi impedimento para progredir e ter eventual sucesso, não quer dizer que pra grande parte dos brasileiros seja da mesma forma. Você ser o engenheiro uber que deu certo não significa que deu mais o sangue que milhares de engenheiros uber que continuam fodidos, a tendência é ter cada vez mais formados sem emprego, simplesmente pq formamos mais gente do que o mercado tem capacidade de absorver e começam a pedir diploma até para cargos que não deveríamos, pois de certa forma serve como um filtro inicial.
Você ralou bastante e aparentemente nem usou sua formação para conseguir seu cargo atual, mas atribui isso a ter feito engenharia. Vamos analisar sua conclusão. Acha que fez sentido:
- Estudar 5 anos ou mais da sua vida, numa área que não é fácil de aprender. (E possivelmente pagar por esses 5 anos de estudo)
- Gastar um desses anos fazendo um trabalho de conclusão, que demanda um baita investimento de tempo e as vezes outros recursos.
- Sofrer sabe-se lá quanto tempo num emprego informal que paga cada vez menos e só é possível ter algum retorno decente tendo um veículo quitado. (algo bem custoso atualmente e longe de ser a realidade do brasileiro médio)
- Estudar uma área inteira de conhecimento específico pra passar num concurso.
- Não utilizar esses 5 anos de estudo na área que vai atuar profissionalmente.
Se sua resposta pra isso é "sim", simplesmente por que "deu certo" com você, eu sinto muito e realmente não há argumento que vai mudar sua opinião. A minha impressão é que
VOCÊ está tentando encontrar justificativa emocional pra frustração de ter feito engenharia atoa.
As gerações mais novas aprenderam isso com os milhões de millenials frustrados, os quais os pais forçaram a fazer faculdade logo que saíram do ensino médio e isso não garantiu nada pra eles, pelo contrário, boa parte não trabalha na área que se formou, não conseguiu adquirir uma imóvel próprio antes dos 30, vive de aluguel, atua em subemprego, etc. Ou seja, os jovens de hoje absorvem o que a "geração frustrada" com as expectativas dos pais deixou de legado.
Somado a isso temos a condição social e financeira do brasileiro médio: não tem um puto pra cagar e limpar a bunda. Vende o almoço pra comprar a janta.
Isso que você falha em observar. Sim, a educação formal com certeza é o caminho mais curto pra conseguir sair da miséria no Brasil, o problema é que isso não garante nada, pelo contrário, os números mostram que temos formados demais pro mercado absorver. Pode endividar alguém e consumir anos e anos de sua vida a troco de nada.
O grande vilão desse seu pensamento é considerar necessário ser formalmente educado e ter curso superior pra conseguir ter um imóvel, ter lazer, etc. Tornou-se basicamente um requisito mínimo pra garantir uma vida confortável e, por ser o requisito mínimo, não é o suficiente na maioria das vezes.
Um país que exige que as pessoas tenham no mínimo um diploma pra ter algum tipo de dignidade está estruturalmente falho e as pessoas que não conseguem se sobressair não são as exclusivas culpadas de sua situação. É cômodo acreditar que quem não está fazendo faculdade, vivendo "um dia após o outro" o faz por demérito próprio, afinal "se a pessoa tem tempo pra um churrasquinho no final de semana ou pra ir ao bar com os amigos, poderia estar estudando."