Nota 9 na IGN Brasil:
http://br.ign.com/odallus-pc/5813/review/review-odallus-the-dark-call
Se você tem mais de 20 anos de idade, provavelmente vai olhar para Odallus: The Dark Call, novo game do estúdio brasileiro JoyMasher, e seu cerebro vai gritar coisas como "Castlevania! Metroid! Nintendinho!" Mas basta dar algumas horas de atenção para o game e a ilusão de que essa é uma experiência sustentada apenas por nostalgia se desmancha.
Ao invés de tentar meramente copiar o apelo de jogos que nos deixam saudosos, Odallus galga nas costas dos gigantes que o inspiraram para observar velhas ideias através de um novo ângulo. É uma mistura bem sucedida de referências e mecânicas que -- apesar de bastante antigas quando observadas separadamente -- formam algo único e especial.
É um botão para sua espada, um para pulo e um para usar suas armas secundárias -- machado, tocha e lança, cada uma com efeitos e usos distintos. Em um mundo medieval macabro que parece uma mistura de Lovecraft com H.R. Giger (artista responsável por criar o conceito do filme Alien: O Oitavo Passageiro), você explora diversas fases em busca de segredos, equipamentos e melhorias para suas armas e armaduras. A tese de Odallus é simples, direta e segura. Muitos jogos excelentes fizeram já fizeram isso antes, mas Odallus vai além em suas entrelinhas, acertando em cheio na hora de pontuar o ritmo de sua aventura para jogadores modernos, menos pacientes e com menos tempo livre em mãos.
Odallus é dividido por imensas fases 2D oferecidas em um mapa-mundi que apresenta todas as informações necessárias para o jogador, como quantidade de segredos já descobertos. Inicialmente, essas fases são exploradas em uma ordem definida para nos ensinar e habituar às suas mecânicas, mas logo ficamos livres para explorar o mundo na ordem que quisermos. É um olhar diferente para a base do gênero que chamamos de "metroidvania": em vez de nos jogar em um mundo imenso e sem rumo definido na busca de melhorias para nosso personagem, o jogo entrega diversas fases relativamente grandes que oferecem, cada uma, sua pequena cota de segredos, mistérios e momentos inesquecíveis.
O design das fases de Odallus é brilhante. Com dezenas de atalhos totalmente interligados, ela permite uma exploração sem medo de se perder enquanto fortalece a sensação de que estamos fazendo progresso constantemente. Mesmo as maiores fases do game se tornam bastante intuitivas uma vez que você abre todos os atalhos que te levam rapidamente do começo ao fim do mapa. Como o jogo não é terrivelmente difícil -- algo que pode frustrar um pouco quem esperava uma experiência tão retrô quanto os gráficos 8-bit de Odallus --, a exploração é mais pautada pela curiosidade e diversão do que pela obrigação de ficar mais forte para vencer os desafios.
Esse modelo de fases com exploração livre (que remete um pouco à pegada de Demon’s Crest ou Demon’s Souls) também nos salva de uma das maiores maldições dos metrodivanias habituais: o backtracking, ou aquela obrigação de retraçar seus passos em busca de segredos. Se você costuma caçar cada pequeno colecionável em busca da satisfação quase irracional de completar 100% do jogo, Odallus se prova um grande amigo. Ele não vai consumir muito de seu tempo com longas caminhadas irrelevantes por cenários que você já viu.
A única reclamação que tenho em relação à Odallus é que eu queria mais. Mais fases, mais colecionáveis, mais tempo nessa brincadeira de explorar por explorar. Você pode terminar Odallus com 100% em cerca de cinco ou seis horas. Não é um jogo curto, considerando que foi desenvolvido por um estúdio independente brasileiro e que custa apenas R$ 25, mas a experiência é tão divertida que não dá para evitar aquele gostinho de quero mais.
Odallus é o legado de jogos que são muitas vezes replicados, mas raramente de maneira tão competente. É injusto simplesmente classificá-lo como mais um metroidvania. É um game diferente, criado à partir de um verdadeiro respeito por experiências do passado. É humilde na reprodução de suas principais mecânicas, mas inovador e inteligente na relação que faz entre elas. E na sua coletânea de referências tão diversas, Odallus encontra coesão e qualidade que são únicas e exclusivas de sua experiência. A nostalgia, aqui, é só um belo de um bônus.
Quem deve jogar esse jogo
Qualquer cria dos anos 1980, que chegava da escola e corria para soprar as fitas do Super Nintendo, deve prestar atenção em Odallus. Quem gosta de exploração sem enrolação também vai se sentir em casa. O deslumbre de descobrir e conquistar é constante. O prazer de fatiar monstros bizarros com o mero toque de um botão, sem se preocupar com mecânicas complicadas e exigentes, também.
O Veredicto
No fim das contas, é a primorosa relação entre fases de exploração muito inteligentes e mecânicas comprovadamente divertidas que faz Odallus: The Dark Call ir além de sua tese e se tornar um dos melhores games brasileiros dos últimos tantos anos. Não é bem um Metroid, não é exatamente um Castlevania. Mas é bom para caramba mesmo assim.