Hellskah
Mil pontos, LOL!
- Mensagens
- 9.483
- Reações
- 21.017
- Pontos
- 1.044
'Do cabelo duro': expressões racistas para não usar mais no Carnaval
Eu era criança no final da década de 90 quando a música "Fricote", de Luiz Caldas, lançada uma década antes, ainda causava polêmica na Bahia. "Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear", era o início da música. A canção que quase inaugura uma era de ouro da Axé Music na Bahia traz no centro uma expressão racista, "nega do cabelo duro".
Luiz Caldas, é lógico, não estava só. Ele levava à canção uma expressão popular que, entre tantas, foi carnavalizada em sua obra.
Esse assunto não é desimportante. O Carnaval é uma das maiores indústrias deste país. Nele várias disputas simbólicas são realizadas em nome do consumo. Fazer chacota de uma identidade é uma forma de desvalorizar as pessoas que levam aquela identidade como parte indexicalizada de sua vida.
Sou de uma época em que sentidos de "aba reta", por exemplo, eram colados no estilo do "marginal". Chamamos isso de indexicalização. Isto é, alguns sentidos são colados ou identificados como "naturais" de alguns sujeitos que portam aquelas características.
Quando alguém diz "velha carola", imediatamente pensamos numa senhora católica de certa idade frequentando assiduamente uma igreja católica. Assim, expressões racistas no Carnaval são uma forma de indexicalizar sujeitos, de "colar" neles sentidos pejorativos ou negativos.
Músicas como as já citadas e outras ("olha a cabeleira do Zezé", por exemplo) revelam o apreço da indústria do Carnaval em mimetizar negativamente ou atacar e desvalorizar identidades que não são consideradas um padrão.
Tiririca cantava, por exemplo, "veja os cabelo dela", e dizia "essa nega fede, fede de lascar". Luiz Caldas, como já referido, começa sua carreira com a "nega do cabelo duro". Bell Marques e o Chiclete com Banana, por sua vez, sempre falaram de cabelo em suas músicas ("Meu cabelo duro é assim, de pixaim").
Todos esses movimentos revelam o racismo recreativo no Carnaval de rua. Esse racismo linguístico pode ser tipificado como racismo recreativo e agora pode levar a uma pena de 2 a 5 anos, segundo a Lei 14.532/2023, sancionada pelo presidente Lula.
Uma coisa importante a saber sobre expressões racistas no Carnaval é que negros não são uma piada e nem um órgão sexual. As pessoas negras curtem, trabalham e sustentam o Carnaval de rua do país. Sendo uma festa de origem europeia, aqui ela ganhou a cor local da resistência afrodiaspórica e se perpetuou enquanto tal.
Pra que a gente repense algumas posturas neste Carnaval de 2024, separei aqui algumas expressões que sempre chamam a nossa atenção nestas épocas festivas :
NEGA MALUCA
FOVEIRO
TRIBUFU
MAVAMBO
PS : e como se não bastasse, há cidades que PROIBIRAM o uso de pistolas de água, mesmo as com estética infantil pois foi considerada humilhação, principalmente quando usadas em mulheres.
Porrada, entorpecentes e estupro de forma velada está liberado.
Eu era criança no final da década de 90 quando a música "Fricote", de Luiz Caldas, lançada uma década antes, ainda causava polêmica na Bahia. "Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear", era o início da música. A canção que quase inaugura uma era de ouro da Axé Music na Bahia traz no centro uma expressão racista, "nega do cabelo duro".
Luiz Caldas, é lógico, não estava só. Ele levava à canção uma expressão popular que, entre tantas, foi carnavalizada em sua obra.
Esse assunto não é desimportante. O Carnaval é uma das maiores indústrias deste país. Nele várias disputas simbólicas são realizadas em nome do consumo. Fazer chacota de uma identidade é uma forma de desvalorizar as pessoas que levam aquela identidade como parte indexicalizada de sua vida.
Sou de uma época em que sentidos de "aba reta", por exemplo, eram colados no estilo do "marginal". Chamamos isso de indexicalização. Isto é, alguns sentidos são colados ou identificados como "naturais" de alguns sujeitos que portam aquelas características.
Quando alguém diz "velha carola", imediatamente pensamos numa senhora católica de certa idade frequentando assiduamente uma igreja católica. Assim, expressões racistas no Carnaval são uma forma de indexicalizar sujeitos, de "colar" neles sentidos pejorativos ou negativos.
Músicas como as já citadas e outras ("olha a cabeleira do Zezé", por exemplo) revelam o apreço da indústria do Carnaval em mimetizar negativamente ou atacar e desvalorizar identidades que não são consideradas um padrão.
Tiririca cantava, por exemplo, "veja os cabelo dela", e dizia "essa nega fede, fede de lascar". Luiz Caldas, como já referido, começa sua carreira com a "nega do cabelo duro". Bell Marques e o Chiclete com Banana, por sua vez, sempre falaram de cabelo em suas músicas ("Meu cabelo duro é assim, de pixaim").
Todos esses movimentos revelam o racismo recreativo no Carnaval de rua. Esse racismo linguístico pode ser tipificado como racismo recreativo e agora pode levar a uma pena de 2 a 5 anos, segundo a Lei 14.532/2023, sancionada pelo presidente Lula.
Uma coisa importante a saber sobre expressões racistas no Carnaval é que negros não são uma piada e nem um órgão sexual. As pessoas negras curtem, trabalham e sustentam o Carnaval de rua do país. Sendo uma festa de origem europeia, aqui ela ganhou a cor local da resistência afrodiaspórica e se perpetuou enquanto tal.
Pra que a gente repense algumas posturas neste Carnaval de 2024, separei aqui algumas expressões que sempre chamam a nossa atenção nestas épocas festivas :
NEGA MALUCA
FOVEIRO
TRIBUFU
MAVAMBO
PS : e como se não bastasse, há cidades que PROIBIRAM o uso de pistolas de água, mesmo as com estética infantil pois foi considerada humilhação, principalmente quando usadas em mulheres.
Porrada, entorpecentes e estupro de forma velada está liberado.