Essa matéria da Vice (da época que ainda era portal informativo) sobre suicídio na PF é muito interessante. Pior é que quando você tenta tocar no assunto dentro da esfera concurseira só escuta discurso fácil de "meu sonho é entrar na PF", "não me importo, iria até pra Marte". Não se atentam minimamente ao que é a profissão de policial federal de fato, acham que vão só colocar uma arma na cintura, aparecer na TV prendendo traficante e político e no final do mês ganhar uma bolada. Como exemplifica a matéria, os casos de depressão e gente que vive na base de remédios é extenso. Isso não é só na PF, na PC e principalmente na PM também há muitos casos de doenças e de suicídios. Se não me engano aqui RS se o PM se mata a esposa e os filhos não ganham nada. Conheço um cara que me relatou que um PM, amigo dele, se matou no banheiro de casa com tiro na cabeça, a mulher quando o encontrou mexeu na cena para simular um assalto seguido de homicídio pra não perder a pensão. Todo mundo na corporação sabia, amigos sabiam, mas no papel a história foi outra, ninguém deu contra porque não querem correr o risco de deixar os familiares desamparados.
Por que os Policiais Federais Brasileiros Estão se Suicidando?
No Brasil, 30% dos policiais federais fazem tratamento psicológico com remédios. Em um ano, 11 se mataram.
Por
Débora Lopes
28 Abril 2015, 11:30am
ILUSTRAÇÃO POR JULIANA LUCATO.
Em junho do ano passado, um barulho de tiro no terceiro andar do prédio da Superintendência da Polícia Federal do Mato Grosso do Sul preocupou quem ainda estava trabalhando no local. Não era um confronto. O delegado Eduardo Jaworski Lima, de 39 anos,
foi encontrado morto em pleno ambiente de trabalho. Diagnosticado com depressão, ele passava por tratamento, mas não estava afastado do cargo. Longe da mulher, também delegada federal, e da filha de dois anos, tirou a própria vida.
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Entre março de 2012 e março de 2013, o número de policiais federais que se suicidaram assustou a corporação brasileira: 11 no total. Praticamente um por mês. Nos últimos anos, estudos, pesquisas e levantamentos demonstram que as questões ligadas à saúde psicológica dentro da Polícia Federal são preocupantes. Os sindicatos de diversos Estados do país denunciam o sucateamento da categoria.
Atualmente, estresse, alcoolismo, ansiedade, depressão e síndrome do pânico afetam muitos servidores. Dentre 11 mil policiais (número total da corporação brasileira) entrevistados recentemente, dois mil afirmam tomar algum tipo de medicamento para tratamento psicológico e psiquiátrico, de acordo com a
Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). O órgão denuncia a precariedade no setor: oficialmente, existem apenas um psiquiatra e cinco psicólogos para atender toda a PF.
FOTO: REPRODUÇÃO/FACEBOOK DA POLÍCIA FEDERAL
Agente federal há 18 anos, M.P.* conta que, nos últimos dias, ligou para um amigo também policial federal que estava retornando à função depois de 15 dias de férias. O colega de profissão desabafou que o descanso não foi suficiente: "Estou me entupindo de Rivotril pra ir trabalhar".
O assunto dos suicídios intrigou a delegada federal Tatiane da Costa Almeida, que levou a questão para fora do país ao defender a tese de mestrado
Quero Morrer do Meu Próprio Veneno no Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal_._ Para dar consistência ao trabalho acadêmico, ela entrevistou policiais federais e desenvolveu um questionário, que, posteriormente, foi aplicado à dois mil alunos da Academia de Polícia.
A ilusão com a rotina da profissão é um dos pontos que provavelmente deprime o policial recém-ingresso na corporação. "Quando estamos na academia, vivemos um mundo cheio de coisas novas. Aprendemos a lutar, a atirar, nos acostumamos com a agitação. Quando você começa a trabalhar, não existe todo esse dinamismo", frisa. Muitas vezes, o trabalho da PF é burocrático. Para a delegada, o inquérito policial é o maior exemplo de procedimento desprovido de "aventura".
O curso feito na Academia de Polícia dura cerca de cinco meses e só pode ser realizado em Brasília (Distrito Federal). O desempenho nas aulas implica na aprovação ou não do candidato. O que, segundo a delegada, já é estressante. É nessa primeira etapa que se inicia um dos grandes agravantes da profissão: o isolamento. "Ficamos internados. Só podemos sair aos fins de semana. Todos ficam longe da família e dos amigos." O
próprio site da Academia confirma a informação: "Para que os objetivos pedagógicos sejam alcançados, os alunos estão sujeitos a uma intensa rotina, sob regime de semi-internato, das 7h40 às 19h30, de segunda a sábado".
FOTO: ANDRE GUSTAVO STUMPF/ REPRODUÇÃO/ FACEBOOK DA POLÍCIA FEDERAL
A aprovação na PF não facilita a questão da distância, já que as primeiras ações acontecem em lugares inóspitos, como a Região Norte do país e as fronteiras. "Na falta de coisas agitadas pra fazer, o policial acaba ficando deprimido", diz Tatiane. Para o diretor-adjunto da Fenapef, Flávio Werneck, o isolamento faz parte da profissão e não pode ser visto como motivo principal. A precarização do trabalho parece ser mais grave. "Quando você é mandado pra cidades de fronteira do Brasil, você não recebe apoio nenhum do departamento", destaca. "Você vai às suas custas, tendo de pagar, inclusive, sua passagem pra ir lá. Você chega à cidade sem suporte pra moradia, hospedagem. Não te explicam o dia a dia do lugar, quais os riscos operacionais que você vai correr enquanto policial federal. E não tem um acompanhamento psicológico e psiquiátrico regular."
Tornar-se um policial federal pode ser sinônimo de prestígio e estabilidade profissional. Dados da Fenapef informam que o piso salarial de agente, escrivão e papiloscopista (policial especializado em identificação humana) é de R$ 8.702,20. Já o de delegado e perito criminal é de R$ 16.830,85. No ano passado,
600 vagas foram abertas.
Nem sempre os casos de suicídio são divulgados na imprensa. Em nota, a Fenapef diz acreditar que um acontecimento desencadeie o outro, "como se os policiais tomassem coragem para tirar a vida também". O tema é complexo. A própria assessoria de imprensa da PF se recusou a fornecer o número de policiais que tiraram a própria vida.
FOTO: REPRODUÇÃO/ FACEBOOK DA POLÍCIA FEDERAL
De acordo com uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) em 2012, 53% dos policiais entrevistados responderam que gostariam de se desligar da Polícia Federal. Quando perguntados sobre a existência de programas voltados para o bem-estar ou atenção à saúde do servidor dentro da PF, 88% afirmaram não haver qualquer programa do tipo.
"O número de psicólogos tem diminuído, porque agora a polícia está num sistema integrado de saúde junto com todos os órgãos do Executivo", explica a delegada Tatiane. "Então, talvez, devemos repensar e colocar mais psicólogos trabalhando diretamente com os policiais." A terceirização também pode ser um agravante na relação médico-paciente. "O policial é muito isolado, muito desconfiado. Talvez ele tenha dificuldade pra falar com psicólogos que não sejam do quadro da polícia. Seria interessante termos um médico que conheça melhor o dinamismo do nosso órgão."
Para o agente M.P., a ajuda efetiva dos profissionais de saúde mental deve também ser contestada. "Num ambiente de trabalho muito desgastante, muito corroído, não sei até que ponto o psicólogo pode ajudar." Para ele, o clima dentro da PF hoje é "beligerante"
A Fenapef também aborda o assunto, afirmando que "o grande problema é que os agentes federais se submetem a um regime de
trabalho militarizado, sem que tenham treinamento militar para isso". De acordo com a federação, a PF não cumpre com uma portaria da Secretaria de Direitos Humanos, que obriga o órgão a "desenvolver programas de prevenção ao suicídio, disponibilizando atendimento psiquiátrico, núcleos terapêuticos de apoio e divulgação de informações sobre o assunto".
Quando diagnosticado com transtornos psicológicos ou depressão, um policial federal pode ter sua arma e distintivo tomados pelo departamento. Para Jorge Caldas, presidente do
Sindicato Estadual dos Policiais Federais do Mato Grosso do Sul, isso é um desserviço. "Tirar a carteira funcional do servidor e seu armamento pessoal faz com que ele se sinta marginalizado dentro da própria instituição. Ele precisa de tratamento psicológico. É preciso recuperá-lo e trazê-lo de volta para a atividade policial", afirma.
De acordo com o sindicalista, não é bem o que acontece. "O que o departamento faz é não dar o devido tratamento. Esse servidor fica marginalizado, encostado em sua residência. Cai num nível de depressão e estresse tamanho que acaba recorrendo ao suicídio."
No Brasil, 30% dos policiais federais fazem tratamento psicológico com remédios. Em um ano, 11 se mataram.
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