Tem que ser muito ingênuo pra achar que isso é por causa das falas do Bolsonaro.
Você acha mesmo que faria alguma diferença?
Este é o ponto central da questão.
Antes, é preciso deixar claro que oportunismo de outros países definitivamente existe. Faz parte do jogo, cada país está defendendo o que acredita ser melhor para os seus interesses. Se a França quer motivos para não fechar o acordo do Mercosul com a UE, de fato está encontrando estes motivos, mesmo que esteja sendo oportunista nisso. Outros países tem interesse em "proteger" o seu mercado interno contra a importação do Brasil, e também vêem essa oportunidade.
Mas qual a responsabilidade do governo atual?
Começou pela questão do aceleramento do desmatamento. As multas do Ibama pelo desmatamento ilegal
reduziram 34% em comparação com o ano passado. Esse número é ainda mais grave constantando a simples lógica que, havendo mais desmatamento, deveriam haver mais multas, e não muito menos.
O ministro Salles está reestruturando o ICMBio e o Ibama (órgãos de fiscalização), de acordo com a sua agenda "ambiental". A maioria de nós reconhece a necessidade de reduzir o tamanho do Estado e da sua intervenção, porém alguém acha que devemos reduzir o atendimento público de saúde? Pelo contrário, inclusive era o discurso do Novo, um Estado pequeno mas forte no que é essencial, como a saúde. E é a mesma lógica em relação a fiscalização. Pode-se reduzir órgãos de regulamentação, burocracia, e tal, mas a fiscalização deve ser
fortalecida, ainda mais em um eventual cenário de desburocratização e desgulamentação, mas independente disso
.
Salles também colocou as unidades de conservação sob revisão e até ameaça de extinção.
Tivemos um corte de 24% no orçamento do ibama. Sem hipocrisia, sabemos que com a crise e a baixa projeção de crescimento neste ano, cortes são necessários. Mas cortar no Ibama é burrice do ponto de vista econômico, e isto está muito claro hoje, com as perdas que já aconteceram de repasses (coisa pequena), e com riscos de perdas maiores com o desgaste da imagem do Brasil, perda de certificações, exportações, etc. Uma analogia, seria como fazer corte na área técnica do ministério da economia, que é responsável por encontrar soluções para a falta de dinheiro. Um tiro no pé.
Em fim, chegamos na postura do governo frente aos dados do INPE. Já foi uma questão bem debatida, o fato é que o governo escolheu o campo da retórica ao invés de receber os dados como um alerta e tomar medidas de imediato para fortalecer o combate contra o desmatamento.
Tudo isso culminou neste desgaste atual, agora em relação às queimadas.
O desmonte na política de proteção ambiental é real, e não apenas retórica. Por isso qualquer oportunismo encontra respaldo na péssima política ambiental até então. Agora, o governo entendeu a situação e aparentemente atuará para reverte-la ou conte-la. Uma atuação que, em essência, é completamente oposta ao que vinha sendo feito até agora sem os holofotes da mídia nacional e internacional.
Antes tarde do que nunca, por isso esse é um governo mais
reacionário do que conservador ou liberal. Em fim, veremos as ações do governo.