Gráficos e ambientação: 10/10
The Last of Us 2 é um jogo tecnicamente impecável, assim como a Rockstar embasbacou os jogadores no Red Dead Redemption 2 com um open world visualmente espetacular, a Naughty Dog fez o mesmo aqui, porém agora numa aventura linear story driven.
É possível ver em cada centímetro da tela a absurda quantidade de dinheiro gasta para a construção do universo de forma tão detalhada. Todos os ambientes são extramente bem polidos e as animações são de longe as melhores que já vi num jogo de videogame, nele até os NPCs receberam um tratamento de personagem principal com captura de movimento e voz impressionantes.
Durante os combates parece que estamos literalmente assistindo a filme de ação do tanto que a qualidade das animações é alta e fazem bom uso da câmera para enfatizar os acontecimentos. O cuidado que tiveram ao fazer os inimigos interagirem entre si de forma mais natural, por exemplo chamando por seus nomes, só aumenta ainda mais a imersão do jogador. Particularmente só achei alguns gritos de agonia ao morrerem meio caricatos quebrando um pouco o realismo, mas isso é um detalhe perto da grandiosidade dos outros feitos.
Jogabilidade e level design: 8/10
A jogabilidade em geral é boa, mas tem algumas mecânicas que me incomodaram.
O jogo ainda é bem similar ao The Last of Us 1, porém com a adição da mecânica de se arrastar no chão para aumentar o grau de furtividade e a esquiva nos combates corpo a corpo, não é nada revolucionário que altere bastante a dinâmica das abordagens, mas gostei delas.
Pessoalmente o que não gostei foi da jogabilidade atabalhoada de forma excessiva no início sem os upgrades nas armas, eu entendi que queriam dar maior realismo e valorizar a progressão, mas só a achei chata e desnecessária como a do Red Dead Redemption 2, porém depois que fazemos os upgrades e pegamos armas melhores os combates ficam bem divertidos.
Outra mecânica que não gostei tanto foi do cover - ou a quase inexistência dele. Uncharted 4 tem um cover excelente e não entendi o motivo de não terem o aplicado no The Last of Us 2, na verdade tenho essa reclamação desde o primeiro, mas tenho a impressão que agora está pior. Basicamente o cover é só abaixar atrás dos objetos, o personagem não trava nas paredes e nem atira pelos lados, como em uma porta, eu particularmente não gostei e em jogos que misturam shooter com stealth um bom cover é algo necessário, Metal Gear Solid V por exemplo tem a premissa similar sem usar um botão de ação para realizar o cover, porém tem uma execução muito melhor.
A inteligência artificial dos inimigos no geral é boa, gostei por exemplo de como tentam te flanquear ao descobrirem onde está, porém achei eles muito binários, ou estão em modo de alerta ou estão te atacando, faltou o meio termo. Eu gostei do Metal Gear Solid V justamente pela inteligência artificial dos inimigos ter mais camadas dando maior espaço para o jogador errar e dar a volta por cima, geralmente nessas horas é quando acontecem as situações mais épicas. Já no The Last of Us 2 se por exemplo atacar um inimigo sem furtividade com o quadrado, mas o matando instantaneamente, os outros inimigos já começam a te atacar desde logo mesmo sem te ver ou serem avisados, enquanto no jogo do Kojima os inimigos só entram em estágio de combate ao conversarem no radio.
Acho que a Naughty Dog para não tornar a jogatina tão frustrante por causa de como funciona a inteligência artificial resolveram adicionar vários checkpoints, as vezes dentro até de um mesmo confronto tirando completamente o peso do game over. É uma escolha feita mais buscando o story driven do que o gameplay. Isso acabou prejudicando também o aspecto survival pelo jogador não ser incentivado a gastar mais itens do que deveria pois se morrer irá renascer poucos minutos antes (nas opções até mostram quando foi o último chackpoint).
O level design do The Last of Us 2 é muito bom, ao mesmo tempo que os ambientes são lindíssimos e verossímeis, também oferecem muitos espaços para dar covers ou fazer aproximações furtivas, como por exemplo usando os diferentes tamanhos de gramas. Eu só não gosto de como escondem as saídas nos mapas que envolvem os confrontos com os inimigos, assim como no Uncharted 4 é muito frustrante tentar passar pelo level na primeira vez apenas sendo furtivo sem saber onde é a saída, não acho que isso deveria ser uma dificuldade nesses locais por dar menos variedade de cumprir um mesmo objetivo de formas diferentes.
Eu particularmente gostei da parte de exploração, aqui oferecem bem mais variedade que o The Last of Us 1 cujos puzzles se resumiam em ficar carregando tábuas repetidas vezes, ainda trouxeram um pouco das mecânicas de plataforma da série Uncharted que casou muito bem ao dar maior complexidade ao level design. O pacing do jogo lembra bastante o do Half Life 2. Achei bem divertido buscar entradas alternativas ao se deparar com uma porta trancada numa sala que esconde bastantes suprimentos, porém em contra partida no meio do jogo já estava achando um saco ficar caçando itens escondidos pelos cenários, ficou parecendo apenas uma forma barata de esticar o tempo de jogo, acho que poderiam ter buscado uma outra solução com itens mais visíveis, em menos quantidade pelos cenários, porém com maior valor agregado. Pra mim ficar abrindo gravetas para não achar nada dentro é só uma mecânica realista que deixa a jogatina chata como o loot nos corpos do Red Dead Redemption 2.
No meio da aventura, assim como no Dragon Quest XI, acontece um evento que resetam o jogo e é preciso recomeçar do zero. Em ambos os jogos eu detestei isso, pois possuem uma progressão lenta e é bem broxante ter que recomeçar da estaca zero logo quando a jogatina estava numa escalada crescente de diversão justamente por oferecerem uma variedade maior de abordagens contra os inimigos. Eu queria ter no The Last of Us 2 todo o arsenal da primeira e da segunda parte ao mesmo tempo e não dividi-los. No Resident Evil 2 funciona por ser um jogo de progressão rápida ao contrário do The Last of Us 2, por isso o comparei a um JRPG.
Achei boa a variedade de inimigos, só podiam ter dado maior peculiaridade a cada um pra existir mais estratégia em quais matar primeiro e em como matá-los, mas no geral não comprometeu o pacing, ao longo do jogo sempre vão introduzindo um novo para deixar o desafio sempre fresco. O que realmente me decepcionou foram os bosses - ou a ausência deles. Praticamente enfrentamos um boss monstro que é bem decepcionante e um outro humano que a ideia é legal, mas a execução não achei a melhor por terem simplificado as mecânicas de stealth tornando a luta bem simplista ao invés de ser um confronto épico com uma grande variedade de abordagens. A grande maioria dos shooters que joguei possuem bosses bem fracos e similares, teria sido legal a Naught Dog ter tentado algo diferente como fez no Uncharted 2 com um final boss interessante. Resident Evil 2 por exemplo tem bosses mais divertidos de se enfrentar.
História e desenvolvimento de personagens: 5/10
The Last of Us 1 não tem uma história original, mas tem um desenvolvimento de personagens bem feito e um final impactante pelo personagem tomar uma decisão egoísta mas compreensível na visão dos jogadores. Considero uma boa trama e tem uma história que funciona muito bem fechada em si mesma, por isso achei um erro tentarem fazer um continuação direta, dificilmente iriam superá-lo seguindo o caminho mais do mesmo ou tentando subverter expectativas como aconteceu causando a revolta dos fãs.
Pra mim o grande problema do The Last of Us 2 não é nem com os fatídicos spoilers que acontecem no início e no meio do jogo, mas sim com as falhas de roteiro.
Durante a aventura achei até interessante os lugares que o Neil Druckmann queria chegar, o problema é que geralmente as motivações para os personagens irem do ponto A ao B são completamente inverossímeis, como assassinos matarem ou deixarem de matar a sangue frio conforme é conveniente pro roteiro.
No The Last of Us 1 é bem claro que o Joel é um anti-herói, assassino e egoísta. Até as motivações para ser o guardião da Ellie são egoístas, ele não pensaria duas vezes em matar quem fosse para protegê-la por lembrar a sua filha, quem jogou até o final sabe disso.
Agora no The Last of Us 2 os personagens que são assassinos, de forma compreensível por viverem num mundo apocalíptico, possuem motivações completamente inverossímeis para matarem ou não matarem, mudam conforme a conveniência do roteiro, por isso tem muita gente fazendo um paralelo com a Daenerys da oitava temporada do Game of Thrones.
O final então é bem ruim e esticaram a história além do que deveria - apesar do último level ser bem divertido de ser jogado, você se sente literalmente o Rambo de tão forte com armas apelonas.
Neil Druckmann teve a chance de encerrar o The Last of Us 2 de várias maneiras possíveis, seja com final "bom" ou "ruim", mas fez a pior escolha por ser completamente inverossímil e sem dar nenhuma satisfação para o jogador, achei bem sem graça e anticlímax.
O que me fez manter interessado na aventura é realmente a excelente direção narrativa da Naughty Dog que está muito acima dos concorrentes, atualmente apenas a Rockstar consegue brigar de igual pra igual, mas temos outros estúdios em ascensão nesse sentido como a Santa Monica e Insomniac.
Por fim, achei alguns flashbacks bem chatinhos de jogar e assistir, geralmente era a hora quando dava uma pausa ou ia pegar o celular para olhar as mensagens.
Conclusão:
Na minha opinião The Last of Us 2 é um bom jogo graças a ambientação, jogabilidade e a excelente direção narrativa da Naughty Dog, apesar de ter um roteiro fraco, porém não é uma continuação tão boa por terem tornado os acontecimentos do The Last of Us 1 irrelevantes sem chegar a lugar nenhum. Tenho pra mim que o jogo teria sido muito melhor aceito se fosse uma história paralela com novos personagens ou personagens secundários.
No geral acho que The Last of Us 2 vale a pena ser jogado só pela parte técnica que é incrível, pela boa jogabilidade e level design. A história não é tão boa, mas a excelente direção narrativa acaba mantendo o interesse do jogador. Por fim, acho que não compensa ficar brigando na internet seja pra defender ou hatear, no final é só um jogo de videogame que tem o propósito de divertir, não vai mudar a vida de ninguém se tiver a história que queria ou não.
Nota final: 8/10