- Danvers está em outro planeta, numa missão com seus aliados Krees. Ela é capturada pelos Skrulls e submetida a uma sonda mental. Na tentativa de fuga, ela cai na Terra junto com os Skrulls que a capturaram. Ela consegue entrar em contato com seus aliados Krees (usando uma linha telefônica a cabo, porque f**a-se a lógica) e eles informam que levarão vinte e duas horas para alcançá-la. Nada faz sentido: ela é capturada num planeta alienígena mas, instantes depois, está na Terra com os Skrulls. Enquanto isso, seus aliados Krees, que estavam naquele mesmo planeta, levarão mais de vinte horas para alcança-los?
- Danvers cai numa Blockbuster e detona um stand de True Lies, no susto. Por uma coincidência incrível do destino (friamente calculada pelos roteiristas), o disparo destrói a cabeça de Schwarzenegger, mas Jamie Lee Curtis fica intacta. Também pudera: quer símbolo melhor para masculinidade tóxica do que Schwarzenegger em seu auge? Fora que a cena é também uma ofensa a James Cameron, o diretor que nos entregou algumas das personagens femininas mais memoráveis do cinema moderno: Sarah Connor e Ellen Ripley, por exemplo. Fora que, recentemente, ele também auxiliou a levar Alita para as telas grandes.
- Talos, o comandante dos Skrulls que caíram na Terra, parece assumir o comando da S.H.I.E.L.D. em pouco tempo. Apenas mais tarde os roteiristas informam que ele já esteve na Terra anteriormente e os espectadores são levados a acreditar que ele assumiu a identidade do diretor da superintendência em algum ponto no passado. Nesse caso, o que aconteceu com o verdadeiro diretor? Além disso, quando Talos saiu na missão para capturar Danvers em outro planeta, ficando fora por sabe-se lá quanto tempo, ninguém da S.H.I.E.L.D. percebeu sua ausência?
- Danvers cai na Blockbuster e conversa com o segurança do estacionamento durante a noite. Na cena seguinte, os Skrulls são mostrados saindo do mar... e já é dia. Levando em conta que eles caíram juntos na Terra, simplesmente não faz sentido. Fury chega ao local pouco depois de Danvers entrar em contato com Yon-Rogg (durante o dia) e são emboscados por um Skrull. Acontece a cena do trem e, durante toda perseguição, Fury consegue seguir o dito cujo, mesmo estando de carro. Também é interessante notar que, mesmo com toda a zorra acontecendo dentro do trem, ninguém sequer pensa em acionar os freios de emergência. Novamente, nada faz sentido.
- Kelly Sue Deconnick, a feminista de carteirinha que entrou na indústria dos quadrinhos por conta da influência de seu marido beta (Matt Fraction) e que foi responsável por reformular Carol Danvers como Capitã Marvel nas HQ’s em 2012, tem um
cameo no filme. Ela deve ter pensado que as feministas da mídia puxa-saco iriam entrar em polvorosa por conta disso, mas não vi ninguém comentando a respeito, em lugar nenhum. Ao menos foi satisfatório saber que ninguém sequer percebeu a presença de Deconnick no filme.
- Por algum motivo, Danvers decide ir a um determinado bar, que aparenta ter alguma ligação com seu passado. Ela ouve um “tem um sorrisinho para mim?” de um motoqueiro branco (pois é, ela é uma vítima do patriarcado) e rouba a moto do infeliz. Legal saber que a amnésia não a impede de pilotá-la com perfeição... Enquanto isso, Fury recebe instruções de Talos para ir atrás dela sozinho e não confiar em ninguém. E, na cena seguinte, eles se encontram no tal bar, magicamente. Não custa lembrar que, na ocasião, ela se lembra de um outro cara branco dizendo para ela, naquele mesmo bar, para que desista de ser piloto, porque “o cockpit tem esse nome por uma razão” (a audiência precisa ser lembrada que ela é uma vítima do patriarcado, né?) Na sequência, há um diálogo sem pé e nem cabeça, no qual Danvers faz perguntas de cunho pessoal a Fury, para se assegurar que ele não é um Skrull. Levando em conta que ambos mal se conhecem, o diálogo não faz o menor sentido. E, sem qualquer razão em especial, Fury decide levar Danvers a uma base governamental, indo contra as instruções de Talos, para não confiar em ninguém. Não satisfeito, ele mente para os agentes da base, dizendo que Danvers faz parte da S.H.I.E.L.D., porque não havia nenhuma outra forma melhor de fazer o roteiro andar, pelo visto.
- Na tal base, eles invadem a gigantesca sala de arquivos e, logo de cara, encontram o que procuravam: anotações de Mar Vell escritas na língua dos Kree. Fury e Danvers se separam e, quando Talos chega com seus agentes ao local, Fury percebe que ele não é o diretor. Retorna ao arquivo e, para despistar os agentes, usa um chamariz. Logo em seguida, confronta Talos. Fury remove o pente da arma do infeliz e, segundos depois, tenta atirar com ela, certamente porque o filme precisa mostrar que Fury é um completo idiota. Durante todo o quebra pau, que faz barulho para cacete, os agentes não vem ao auxílio de Talos. Apenas quando Fury é resgatado por Danvers, é que eles dão as caras, porque esse roteiro ama coincidências, por mais ilógicas que sejam. Para fugir da base, eles se apossam de um Quinjet com capacidade de decolagem vertical. Legal saber que a amnésia de Danvers também não a impede de pilotar uma aeronave desse tipo com perfeição, mesmo que ela não tenha tido qualquer contato com essa tecnologia anteriormente.
- Fury e Danvers se dirigem para o subúrbio da Louisiana, onde se encontra a casa de Maria Rambeau, que pode ter mais informações. Após um monte de diálogos sofríveis cheios de validação emocional, Talos dá as caras e Maria simplesmente não se choca por ter um cara verde em sua sala. Do lado de fora da casa, sua filha é mantida cativa por um cúmplice de Talos. Ele explica que detém uma gravação em seu poder, oriunda da caixa preta de um voo experimental, com a voz de Danvers. Num certo ponto do diálogo, ele retruca Maria, se referindo a ela como “garota”. E a despeito da filha estar sob poder de outro Skrull, Rambeau julga sensato ameaçar Talos, porque chamar uma mulher de “garota” era uma ofensa horrível nos anos 90, como bem sabemos.
- Danvers recupera a memória relativa ao acidente do voo experimental com o Motor da Velocidade da Luz, feito junto com Mar Vell. São abatidas por Yon-Rogg, que executa Mar Vell a sangue-frio, ao invés de captura-la com vida, para tortura-la e obter informações. Danvers explode o Motor, para claro desespero de Rogg. E nada disso faz sentido, porque Krees e Skrulls já tem tecnologia de dobra espacial, muito superior à velocidade da luz. Além disso, não dá para entender porque diabos Mar Vell tentava desenvolver o Motor com tecnologia terrestre dos anos 90, quando possuía tecnologia Kree à sua disposição, oculta num determinado laboratório orbital. Ainda bem que ela não tinha qualquer pressa em ajudar Skrulls fugitivos ou encerrar a guerra deles com os Krees, não é mesmo?
- Na gravação, descobrem os vetores para a localização do laboratório orbital de Mar Vell, onde se encontra o núcleo do Motor da Velocidade da Luz (vulgo: Tesseract). O cúmplice Skrull de Talos faz modificações no Quinjet (com objetos encontrados no quintal da casa de Rambeau, que fica perdida no meio do nada, no subúrbio da Louisiana), para que ele possa fazer voos orbitais. E obviamente as modificações precárias funcionam, por conveniência do roteiro. Rambeau decide ser co-piloto, tomando parte de uma guerra para a qual não está preparada. Para isso, ela deixa sua filha com os avós, já que ela é mãe solteira (porque obviamente ela não precisa de homem nenhum, é claro). Qual o problema se ela morrer em virtude dessa atitude imprudente e deixar a filha órfã, né?
- Em órbita, Danvers utiliza seu uniforme Kree para remover a camuflagem do laboratório de Mar Vell e, ao entrarem, ela não a restaura, porque o roteiro precisa que os Krees encontrem o laboratório logo em seguida. Danvers é forçada a confrontar a Inteligência Suprema num combate mental e, acessando as memórias da humana, a Inteligência coloca
Come As You Are como trilha sonora para marcar o confronto. Detalhe: a música é do álbum Nevermind, lançado em 1991. Carol Danvers foi raptada na Terra em 1989. Como ela se lembra da música é apenas mais um furo para ser acrescentado a esse roteiro porco. Não que a essa altura do filme, alguém ainda se importe, é claro. É nesse confronto que Carol afirma ter lutado com uma mão amarrada nas costas durante toda sua vida. Ao remover o abafador de poder em seu pescoço, simbolicamente ela se livra da opressão do patriarcado e, finalmente, se torna uma Mary Sue completamente invulnerável e invencível, exatamente como toda feminista se enxerga, sabe-se lá por qual motivo.
- Após toda treta no laboratório, Maria consegue pilotar o Quinjet modificado de volta para a Terra e vencer uma Kree experiente, membro da Staforce, em combate aéreo... porque sim. Afinal, assim como Danvers, ela não tem experiência de pilotagem envolvendo o Quinjet e a tecnologia nele utilizada, mas quem se importa?
- A Armada de Ronan, o Acusador, utiliza dobra espacial para chegar até a órbita terrestre e decide obliterar o planeta com uma chuva de ogivas balísticas, a despeito do fato de Yon-Rogg se encontrar na Terra e ainda não ter tomado posse do núcleo do Motor da Velocidade da Luz. Mas que ele e o objetivo da missão que se fodam, né?
- Após tudo, resta apenas lidar com Yon-Rogg, que é facilmente abatido por um “hit kill” de Danvers, já que ela não precisa provar coisa alguma para homem branco nenhum. E assim, ela finalmente humilha o patriarcado, seu grande inimigo durante todo o filme.
- Concluindo, Danvers decide partir para o espaço para ajudar os Skrulls a encontrarem um lar. Nem passa pela cabeça dela procurar sua família e informar-lhes que ela está viva. Como ela passará duas décadas no espaço auxiliando os Skrulls (vai ser incompetente assim lá no inferno...), significa que, durante todo esse tempo, ela continuará sendo considerada como morta pela sua família. Que grande heroína, né? É bonito de se ver quanta consideração ela possui em relação à sua própria família. Quem dirá em relação a desconhecidos...