Meu pai mesmo vive(ia) me enchendo o saco falando que eu sou brasileiro e devia tentar crescer no Brasil ao invés de "sofrer no Japão".
Ele parou o dia que ele tá aqui, fazendo o mesmo discurso que eu não era nada aqui e que eu devia fazer faculdade no Brasil. Uma que eu acho a ideia dele sobre se você nascer em algum lugar tem que ficar lá até morrer. Uma porque eu só existo por conta de imigrações e outra que ele mesmo odeia a cidade que ele nasceu e cresceu.
Mas enfim, ele parou de me apurrinhar o dia que eu falei sobre a minha vida, até puxei um cartão de visita com meu nome (tanto em romano quanto em japoronga), mostrei pra ele comentando "se você não acredita que eu não vivo com um chicote nas costas, tá aí".
Conheci gente que era engenheiro civil no Brasil, e por conta da constante violência jogou tudo pra cima, mudou-se pro Japão, estudou, tirou uns certificados, arrumou emprego em escritório e a única vez que eu vi ele estressado foi por minha culpa, que eu tava gritando com o chefe dele e ele tava preparado pra pular encima de mim pra me segurar, porque dizia ele que parecia que eu ia atacar o cara.
Gente boa ele.
Conheci outro que veio por indicação pra ajudar na construção de um prédio em Tokyo (era engenheiro também). Gostou daqui, estudou bagarai, converteu alguns certificados e tá por aqui.
Vários exemplos.
Assim como tem vários exemplos que prefere o Brasil apesar dos pesares(meu próprio pai, por exemplo). Meu irmão também, o professor de universidade de Kobe chegou a me ligar pedindo pra eu tentar convencer o meu irmão a ficar por aqui e trampar com ele. Mas ele preferiu voltar pro Br.
A vida é um negócio peculiar, eu nem pensava em vir pro Japão, decidi de supetão, tirei o visto e sai fora assim que fiz 18 anos.
Eu queria sair do país desde os 15, tava juntando dinheiro e procurando meios que fazer o mais rápido possível. Não acho de todo uma calamidade, pelo menos não na época que eu morava ai.
Mas eu via o povo da escola, e ficava pensando "se esse é o futuro... Tá complicado isso aqui".
Em partes por arrogância minha mesmo. Embora eu não me achasse lá muito inteligente, ainda nem acho. justamente por isso eu achava que eu não era lá muito inteligente e mesmo assim eu ficava facil em primeiro lugar em nota da escola mesmo sem estudar pra nada. Só ia pra escola pra dormir, jogar e brigar.
Bagulho era tão bizarro que mesmo no ensino médio eu só levava 1 caneta pra escola e mesmo assim as vezes brotava escola particular me oferendo bolsa de estudos. No fundamental eu cheguei a aceitar mas voltei pra estadual porque pra mim a única diferença era o tempo que eu era obrigado a ficar na escola. E que na particular eu tinha que ser um tanto mais civilizado por estar "ganhando um favor da escola".
E eu não me achava lá muito inteligente porque eu tinha parâmetros diferentes, além de ser constantemente comparado ao meu irmão pelos meus pais.
Era tipo "se você não ser exatamente igual ele você precisa se esforçar mais". Mas quando eu conseguia algum destaque era um "não é nada demais"."deixa eu ver a novela da Globo".
Resumindo. Eu achava a grande maioria dos alunos das escolas que eu estudava bem "tapados". E imaginava esse monte de "tapados" construindo uma nação. Não tinha como dar bom.
Aí começou as políticas de matar o ensino médio e upar porcamente o superior.
Eu não sabia se tava certo. Mas apostei meu futuro nisso. E ainda tinha tempo de voltar atrás se quisesse.
Aqui eu fiz uns cursos, segui o "monkey see monkey do". Aprendi a me virar completamente sozinho. Arrumei um bom emprego(que eu tô querendo parar e voltar pro interior), mas não penso em voltar pro Br não.