Com relação ao documentário, o problema é o seu fulminante ataque repentino sobre alguém que há quase 10 anos havia tido a sua reputação basicamente vindicada perante o mundo após seguidas acusações de bizarrices e pedofilia.
Ele nos dá a clara impressão de ter vindo na esteira do movimento Me Too, que, longe de ser somente um autêntico movimento em prol dos sexualmente abusados, também se tornou um trampolim para carreiras combalidas, pegando carona em um narcisista vitimismo generalizado.
Sem contar a atual tendência dos chamados character assassinations, sempre envoltos por suspeitas sobre as suas reais motivações implícitas de bastidores. Ele segue documentários como o Surviving R. Kelly, mais um recém-dedicado a condenar abusadores e assediadores sexuais, e a tentar proteger vítimas de figuras poderosas, também seguindo na esteira do movimento Me Too.
Ainda assim, com todas estas suspeitas, Leaving Neverland consegue ser extremamente convincente na sua detalhada narrativa. A sensação, após assisti-lo, com frequência é de que "não há maneira alguma disto tudo ser apenas uma mentira elaborada, pois ela seria digna de um Oscar!" Fica difícil saber em quem acreditar aqui. E, não, não se trata aqui de "apenas dois convictos mentirosos contra todo o restante do mundo".
Apenas lembrem-se do bizarro segmento com Gavin Arvizo, em Living with Michael Jackson. Perdão, mas aquilo não é normal de jeito nenhum. As carinhosas falas, os dois sempre de mãos dadas, as apaixonadas expressões faciais, etc, tudo é extremamente suspeito. Infelizmente, não é totalmente incomum que nós tenhamos dois lados autenticamente antagônicos em nossa personalidade (um para a sociedade, e outro para nós mesmos).
Michael poderia muito bem ter sido um "anjo" pela manhã, e um verdadeiro "demônio" durante a noite. A psicanálise explica. No problem. Ao mesmo tempo, por tudo o que eu já coloquei aqui anteriormente, as suspeitas sobre seus bastidores, motivações reais e contexto mais preciso ainda continuam, ainda abrindo brechas para a crença na sua inocência (a de Michael).
Ou as "testemunhas" são provadas serem ambas mentirosas também neste documentário (assim como as suas famílias), ou então as outras supostas vítimas também terão que sair do armário. Do contrário, a ambiguidade (com maior pendor para o lado negativo) continuará a assolar o nome de Michael Jackson.