Em cena, o Bolsonaro democrata
Todo cuidado com o outro é pouco
CONSAGRAÇÃO - Bolsonaro, no domingo: em fevereiro de 2015, ele confidenciou que concorreria ao Palácio do Planalto
O que você prefere – seja para conviver, exaltar ou se opor? O Bolsonaro que no último domingo dia 21 dizia que os “vermelhos” seriam varridos do país para a cadeia ou o exílio?
Ou o Bolsonaro que sete dias depois, uma vez eleito presidente da República, jurou invocando Deus que será um defensor incondicional da Constituição, da democracia e da liberdade?
Essa pergunta não deve ser feita a um bolsonarista da gema. Primeiro porque ele só tem tempo para celebrar a vitória. Segundo porque continua disposto a justificar tudo o que o Mito faça ou diga.
E assim será até que as ações do futuro governante comecem a afetar sua vida para o mal em nome do bem futuro. Finalmente cairá a ficha. E o coração cederá a vez ao bolso.
Bolsonaro fez dois discursos depois de eleito. O primeiro por meio das redes sociais para os acostumados a vê-lo ali. O segundo transmitido por redes de emissoras de rádio e de televisão.
Foi de improviso o primeiro. O segundo foi lido. Importa o segundo. Ele marca a migração do Bolsonaro extremista velho conhecido para o Bolsonaro democrático novinho em folha que agora se apresenta.
De um total de 955 palavras distribuídas em 36 parágrafos, Bolsonaro usou 14 delas para referir-se diretamente à liberdade e seus derivativos. E mais 6 à democracia. E mais 2 à Constituição.
Os dois parágrafos a seguir resumem sua mensagem e não deixam de ser o inverso do que ele sempre disse, sugeriu ou insinuou:
“Liberdade é um princípio fundamental. Liberdade de ir e vir, andar nas ruas, em todos os lugares deste país. Liberdade de empreender. Liberdade política e religiosa. Liberdade de informar e ter opinião. Liberdade de fazer escolhas e ser respeitado por elas.
Este é um país de todos nós, brasileiros natos ou de coração. Um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações.”
Estamos a um passo – quem sabe? – de sermos obrigados a reconhecer que Bolsonaro é um democrata de berço. Ou de admitirmos que se fantasiou de ditador tão somente para se eleger.
A verdade talvez esteja no meio. Numa democracia, um autocrata pode vencer, mas só governa se aplicar um golpe ou se acomodar-se às regras do jogo. Adiante, poderá até tentar mudá-las.
Seja bem-vindo, pois, o Bolsonaro recém-convertido à democracia. Quanto ao outro, em vias de ser apagado, recomenda-se cuidado e eterna vigilância.
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A guerra continua
Faltou e ainda falta, de parte a parte, uma convocação à civilidade entre cidadãos adversários
Jair Bolsonaro e Fernando Haddad
O presidente eleito e o candidato vencido ficaram devendo e deixando muito a desejar em suas manifestações logo após a divulgação do resultado da eleição. Tudo bem, 2008 ainda não terminou, há tempo embora não pareça haver disposição de parte a parte de encerrar o ciclo de embates eleitorais.
Nenhum dos dois oponentes foi o que seria de se esperar de pessoas com noção de Estado. Isso para não dizer que Jair Bolsonaro nem Fernando Haddad se posicionaram como estadistas, qualificativo que seria demais esperar dado o histórico de ambos durante a campanha. Haddad foi ainda mais deselegante que Dilma Rousseff que em 2014 sequer citou o adversário Aécio Neves em seu primeiro discurso após a vitória. A boa educação aconselharia menção, mas o protocolo exige mesmo é que o derrotado se dirija ao vitorioso num gesto de respeito ao resultado e, sobretudo, ao eleitorado contrário.
O petista alegou que as agressões verbais sofridas por parte do oponente durante o processo não permitiram o cumprimento. Recusou-se à formalidade tendo dias antes pedido muito mais que um aceno de Fernando Henrique, Marina Silva e Ciro Gomes, três personagens intensamente agredidos pelo PT. Pode ser que Haddad tenha evitado o cumprimento para atender a anseios de uma militância acirrada. Se foi isso perdeu a oportunidade de acenar para um público mais amplo: aquele que optou por ele pela escolha não do preferido, mas no menos pior. Assim, prosseguiu na estreiteza e pregou para seus radicais.
Grave, mas menos que a bitola pela qual transitou Bolsonaro, falando em combate ao comunismo e só se referindo a um “governo para todos” na terceira manifestação, certamente lembrado de que era necessário fazê-lo. Na espontaneidade do primeiro pronunciamento não o fez. Ao contrário, manteve um indisfarçável tom irritadiço e belicoso. Mais que o derrotado, o vitorioso estava obrigado a mostrar mais estendidas. Se não a uma conciliação que soaria artificial na realidade ainda acirrada, pelo menos ao início de um processo civilizatório de relações entre cidadãos adversários.
Ambos começaram mal, o que não significa que não possam aperfeiçoar as condutas de modo a servir de exemplo aos respectivos seguidores (na acepção digital do termo, mas não só) que em algum momento terão de tomar consciência de que são as lutas e não a guerra que deve continuar. Do modo como se portaram aquele que comandará a situação e o outro que por hora foi o porta-voz da oposição ficou claro que ainda há léguas a percorrer antes que o país consiga respirar sem sobressaltos.
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Em Curitiba, apoiadores de Bolsonaro comemoraram em frente à cela de Lula
Eleitores do presidente eleito se reuniram em diversos pontos da cidade; houve discussão com militantes pró-Lula acampados nas proximidades da PF
Apoiadores de Jair Bolsonaro se reúnem do lado de fora da sede da Polícia Federal, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está cumprindo pena em Curitiba - 28/10/2018
Em Curitiba, sede da Lava Jato, o presidente eleito
Jair Bolsonaro teve uma votação acima da média nacional, com 786.377 votos (76,54% dos votos válidos). Apoiadores do político do PSL se reuniram em diversos pontos da cidade para comemorar a vitória do capitão.
Na rua em frente ao prédio da Justiça Federal, no bairro Ahú, onde trabalha o juiz Sergio Moro, milhares de pessoas estiveram reunidas com direito a um caminhão de som. Com música, fogos de artifício e discursos inflamados contra o PT, e a favor da Lava Jato e do magistrado, os manifestantes só fizeram silêncio para ouvir o pronunciamento de Bolsonaro, já como presidente eleito.
Apesar do grande número de presentes, nenhuma liderança política esteve presente. O deputado federal Fernando Francischini, principal apoiador de Bolsonaro no estado, viajou ao Rio de Janeiro para acompanhar a apuração ao lado do correligionário.
Também houve manifestação na Boca Maldita, tradicional ponto de atos públicos do centro de Curitiba, e em frente ao prédio da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente Lula está preso.
A Polícia Militar fez um cordão de isolamento para separar quem comemorava a vitória de Bolsonaro dos militantes favoráveis ao ex-presidente Lula, que permanecem acampados nas proximidades da PF. Fogos de artifício foram disparados e houve xingamentos de lado a lado, mas sem nenhuma ocorrência mais grave.
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