Centrão pressiona para recriar ministérios do Trabalho e da Indústria, hoje dentro da Economia
BRASÍLIA - Aliados políticos do presidente
Jair Bolsonaro intensificaram a cobrança sobre o governo para um desmembramento de parte do
Ministério da Economia. A discussão gira em torno da separação da secretaria de Previdência e Trabalho da pasta e a recriação do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, para ser entregue ao Centrão.
Segundo apurou o
Estadão, no
Palácio do Planalto já se fala no planejamento de uma “pequena reestruturação”. Apesar da ameaça de
Paulo Guedes perder o status de superministro, auxiliares do presidente dizem que ele segue tendo o respaldo do governo. Um dos secretários de Guedes,
Carlos da Costa, foi
indicado pelo governo à presidência do braço de investimentos do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o que poderia abrir a oportunidade para as mudanças.
A volta do Ministério de Trabalho e Previdência, antecipada pelo site
Poder360, e a recriação do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior vêm sendo discutidas desde o início da aliança do Centrão com o presidente
Jair Bolsonaro, que se intensificou durante a pandemia e mudou a articulação do governo no
Congresso.
A reforma ministerial começou a ser comunicada por líderes do governo, segundo relatos de interlocutores ao
Estadão. O presidente do
Senado,
Davi Alcolumbre (DEM-AP), também tem acompanhando as conversas de perto e fazendo sondagem entre parlamentares sobre quem poderia ocupar as novas pastas de Trabalho e Indústria.
Em busca de apoio para sua reeleição, Alcolumbre tem se colocado como um articulador do
Planalto. Na semana passada, ele organizou o encontro do presidente Bolsonaro com os ministros do
Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes e
Dias Toffoli, para chancelar a indicação do desembargador Kassio Nunes à vaga na Corte, após a saída do ministro Celso de Mello.
Um dos nomes cogitados para um eventual Ministério da Indústria e Comércio Exterior é o do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP). O deputado ocupou a mesma pasta no governo do ex-presidente
Michel Temer. A interlocutores, entretanto, Marcos Pereira afirma que não tem interesse em voltar para o Executivo e que segue na disputa pela presidência da Câmara. Ligado à Igreja Universal, o parlamentar é presidente do Republicanos, partido que abriga o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, filhos do presidente.
GUEDES É CONTRA A SEPARAÇÃO
Contrário ao movimento, o ministro Paulo Guedes tem apresentado números para justificar a fusão: antes, eram cinco ministérios gastando R$ 15 bilhões por ano; agora, é um ministério com despesas de R$ 10 bilhões ao ano. Ele assumiu o cargo com a junção de cinco áreas: Fazenda, Previdência, Trabalho, Planejamento, Indústria e Comércio Exterior, além de estatais sob o seu guarda-chuva. Bolsonaro disse, no dia 7 de outubro de 2018, em uma transmissão ao vivo,que seu governo teria, no máximo, 15 ministérios, mas está com 23.
Os partidos da base do governo, porém, cobram cargos, postos de segundo e terceiro escalão da máquina federal cobiçados por caciques partidários para manter seu grau de influência nos Estados, no momento em que se discute uma intensa agenda de votações de interesse da equipe econômica para depois das eleições presidenciais, e também há articulações para a sucessão nas presidências da Câmara e do Senado.
No Palácio, a avaliação é que Guedes fica sobrecarregado com tantos temas embaixo da sua Pasta. Segundo assessores do presidente, o ministro não entende muito de todos os assuntos que ficaram sob o guarda-chuva dele e precisa focar na área fiscal. Por isso, acaba deixando de lado decisões sobre temas relevantes dessas áreas.
ELEIÇÃO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS
As mudanças no governo, segundo interlocutores do Planalto, têm como pano de fundo a eleição na Câmara de Deputados. Até aqui, a ordem oficial é dizer que o presidente Bolsonaro não pretende interferir no processo. Entretanto, nos bastidores é forte a pressão dos aliados do Centrão para que ele embarque na candidatura do deputado Arthur Lira (PP-AL), um dos líderes do bloco.
O nome da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, voltou a circular como uma opção do governo para a Presidência da Câmara. Ela é deputada federal do DEM eleita pelo Mato Grosso do Sul. Entusiastas lançam a ideia há meses, mas a ministra tem dito a interlocutores que não tem interesse em retornar à Câmara e que acredita ter muito mais a contribuir na Agricultura.