Bom, essa é uma história totalmente agridoce e que não é para o paladar de todo mundo. Eu sei, o pessoal aqui odeia essa frase de "esse jogo não é para todo mundo", mas essa é a pura verdade. Para algumas pessoas, o enredo vai dar o clique, para outras não vai... E pior, para algumas outras vai despertar o sentimento de mais profunda repulsa e no fundo sabemos o motivo, mas não pretendo me alongar nisso.
Conversando com esse meu amigo que é fã do primeiro jogo, ele me disse a seguinte frase: "Mano, eu odiei odiar este jogo". Eu entendi o que ele quis dizer, porque ele gostou de todos, mas todos os elementos do jogo, desde a jogabilidade, gráficos e até a narrativa - que segundo palavras dele mesmo, "é do c***lho". Mas como ele mesmo se auto-intitula, ele é "uma Joelzete" e simplesmente não conseguiu aceitar o que aconteceu com o Joel. E quando isso, não é no fato do Joel ter morrido, ele achou isso bem foda até, mas para ele o jogo peca em te dar uma "recompensa" pela perda do personagem e para ele o jogo sem isso, a jornada da Ellie fica sem propósito.
Para alguns, os belos Flashbacks com Joel não foram suficientes para honrar o seu legado
Conversamos bastante sobre isso, porque em determinado momento eu também senti um pouco isso, a jornada da Ellie parecia uma jornada desenfreada de vingança e eu estava com mais de 30h de jogo e parei para colocar os acontecimentos de história no papel e... Parecia que não tinha acontecido nada ainda. Eu saí de Seattle com a Dina, explorei coisa para cacete, matei um monte de gente e parecia ter um vazio ali... Aí imediatamente a cabeça foi fazer a comparação com o primeiro jogo, que tem lá suas 13, 15 horas de duração e foi inevitável pensar em QUANTA coisa acontece na história durante esse período de tempo no primeiro jogo. Agora no segundo jogo eu estava com o dobro do tempo e só existia um vazio... Existia... um vazio.
Ellie, totalmente em pedaços a essa altura do campeonato.
Bum, foi aí que o clique veio. c***lho, era exatamente isso. Apesar de aparentar ser uma história sobre vingança, todas as mortes, todas as coisas que eu estava fazendo, não estavam me levando a lugar nenhum. Fiquei pensando se essa era a sensação que os escritores queriam que eu sentisse ou se foi apenas uma intrepretação minha, mas tanto para mim, quanto as expressões que a Ellie faziam no jogo pareciam me dizer que "cara, isso aqui não está levando a nada, só sinto o vazio". Tirando os belos segmentos de Flashback com o Joel, pouco se aborda de história nesta parte do jogo.
Logo depois dessa epifania, fui brindado com a surpresa de começar a jogar com a Abby, Seattle Dia 1. Sem upgrades, sem armas, sem nada. O jogo recomeçou e eu fiquei realmente espantado com a ousadia. Não só por colocar você no controle da Abby que tinha matado o Joel (e eu sabia que ia deixar muita gente put*), mas também pelo fato deles estarem sendo corajosos o suficiente de tentar fazer um The Last of Us, com uma nova personagem.
Devo confessar que eu JURAVA que a motivação da Abby para matar o Joel seria alguma parada um pouco mais obscura e sombria por parte do Joel... Não que não tenha sido já uma put* motivação o Joel ter matado todo mundo no hospital, inclusive o pai dela... Mas é que eu pensei que isso seria reflexo de algo que o Joel fez mais no passado, na época em que o Joel e o Tommy eram caçadores. Eu jurava que seria aquela "uma coisa" que o Joel fez que até o Tommy decidiu se separar dele e seguir com os vaga-lumes, mas não foi.
Outra coisa que me surpreendeu é que eu achava que essa campanha dela iria ficar remoendo essa questão do Joel, mas não. Foi uma coisa que foi resolvida ali na primeira hora de jogo e depois de jogar um tempo com ela isso foi ficando tão no meu subconsciente que eu já tinha "deixado para lá" enquanto ia ficando cada vez mais imerso neste lado da história.
The Last of Us - Part II: Part II. Um outro jogo começa aqui...
É curioso, porque aqui do lado da Abby sim, há uma história progredindo, diferente do lado da Ellie onde você parecia estar parado no mesmo lugar sem avançar. No arco da Abby você vai conhecendo novos personagens, vai conhecendo mais sobre o mundo do jogo, algo mais parecido com o primeiro The Last of Us. O contraste entre essa campanha e a da Ellie me parece mostrar que a Ellie está presa na sua vingança, enquanto que o mundo da Abby está seguindo em frente visto que ela resolveu sua questão com o Joel. (Acho que a maioria das melhores seções do jogo estão desde lado do jogo, como o hotel infectado e principalmente o hospital e a luta com o Rat King)
A grande sacada vem aos poucos, você vai conhecendo cada um dos amigos da Abby, até a cachorra... E em paralelo você vai lembrando que você já matou cada um deles com a Ellie. De repente a história da Ellie já não parecia tão vazia para mim e na verdade me vez me sentir mal por ter dado cabo de tantas pessoas que eram importantes para alguém e eu estar achando que "nada aconteceu na campanha da Ellie". put* m****, outro soco no estômago.
Quando eu rejogar essa seção (que achei muito foda) com certeza vou ter outro sentimento.
Mas outra vez, a história vai seguindo e você conhece Lev e Yara e entra nesse arco dentro dos Serafitas, minha cabeça foi levada dos sentimentos sobre a campanha da Ellie novamente. Achei legal que eles conseguiram criar todo esse arco aqui, que serve tanto para humanizar uma Abby que estava buscando um novo propósito de vida após ter conseguido sua vingança contra o Joel, quanto para mostrar que até dentro dos Serafitas, existiam pessoas boas e que só queriam seguir a palavra da profetiza em paz e viver em sua comunidade alternativa.
Vale ressaltar porém, que ele não te deixa esquecer totalmente do outro lado. A inclusão do Tommy como o sniper na seção do pier foi DE EXPLODIR CABEÇAS... Literalmente. Acho excelente como eles fazem as coisas de maneira sutil, pois na campanha da Ellie você tem aquela seção com o Tommy e a arma dele e aquele truque de atirar no metal para atrair os infectados... Depois eles colocam um spiner fodaralho no seu caminho fazendo o mesmo e você descobre que é o próprio Tommy. Aliás, é foda ver a expressão facial da Abby mudar totalmente ao ver que o Sniper era o Tommy e que todos os seus amigos estavam morrendo devido ao fato dela ter matado o Joel.
Exceto por esse lapso que você sente na parte do Tommy, você mergulha tão fundo nesse arco dos Serafitas que nos dias 2 e 3 da Abby foram passando e eu já tinha "esquecido" totalmente o que me esperava. Foi quando a Abby desceu em frente ao áquario naquela noite chuvosa que de repente um turbilhão de emoções voltou... Eu pensei... c***lho, É MESMO... A Abby vai entrar aqui e vai encontrar todo mundo morto.
Eu juro para vocês, eu fiquei desconfortável pra cacete, como se alguém estivesse prestes a descobrir um grande crime que eu tinha cometido. Fui avançando com o corpo tão tenso que eu quase pensei em parar e desligar o console. Entrei e encontrei a Alice morta no chão... que para a Ellie era um mero cachorro que a havia atacado, mas para a Abby era um prenuncio de coisa muito pior estava por vir.
Foi quando cheguei naquele corredor e tinha aquela poça de sangue enorme passando por debaixo da porta, carregada pela água. c
lho, que cena bem construída. Fiquei atônito ali, porque logo depois pensei: put m**, ela vai atrás da Ellie agora, c
lho, o final do dia 3 da Ellie, clho, o Jesse tomou um balaço na cara, Tommy tá imobilizado e a Abby tá MUITO put*.
É, chegamos ao teatro com a Abby. A essa altura do campeonato meu corpo estava tão tenso que meu pescoço tava todo duro. Foi pior do que eu pensava, porque de repente o Tommy toma um tiro na cabeça e eu tava tendo que correr e lutar com a Ellie. c***lho, QUE ISSO MANO. Não tava preparado. Não estava preparado mesmo, desliguei o console. Eu tinha ficado tão imerso que eu tinha até esquecido que eu tinha tomado um spoiler já, de que a Ellie não matava a Abby no final, logo eu não mataria a Ellie de fato ali.
Depois de desligar e pensar um pouco de como o jogo era foda por ter fazer sentir coisas que você nunca tinha sentido antes jogando videogame, já tinha me decidido: Esse jogo cumpriu o seu objetivo, independente do que aconteça daqui para frente. Aí eu lembrei do spoiler e lamentei um pouco, porque sabia que muita coisa dali para frente não teria mais o mesmo impacto porque eu sabia o destino das personagens, mas segui em frente porque sabia que ainda assim a narrativa valeria a pena.
Bom, eu voltei e encarei a luta com a Ellie, fiquei muito surpreso com a IA dela, achei muito bem feita e pensei que se todos os inimigos do jogo estivessem naquele nível a gente estaria muito fodido. Derrotei a Ellie e a cena se desdobrou em uma sequência com a Dina que eu fiquei todo tenso de novo, porque eu sabia o destino da Ellie e da Abby, mas tinha esquecido completamente da Dina. A Ellie suplicou dizendo que ela estava grávida e quando a Abby disse algo como "melhor ainda" (lembrando que a Ellie matou a Mel grávida) eu pensei F O D E U. Por sorte o Lev estava ali para ser o peso moral da Abby e pude respirar aliviado.
Depois de toda essa adrenalina vem a seção da Ellie com o JJ na fazenda e que coias linda da porra. Como já citei algumas vezes, acabei de tornar pai e foi muito foda ver a Ellie colocando o JJ na frente do espelho e falando exatamente a mesma coisa que falo para o meu filho, e também aquela linda cena deles no trator e ela prometendo que iria ensiná-lo a tocar violão. Achei que o jogo da Ellie acabaria ali e que depois teríamos só alguma seção da Abby buscando informações sobre os Vaga-lumes e que ela sabia que a "cura estava viva" para abrir brecha para um terceiro jogo, sei lá...
Sobe os créditos Naughty Dog...
Mas não, eis que aparece o fucking Tommy (que eu jurava por todos os santos que tava mortinho da silva) com uma informação sobre a Abby e demandando que a Ellie fosse caçá-lo, assim como a Ellie fez com ele no passado. Nesse momento eu lamentei muito por o jogo não ser ousado ao ponto de colocar um momento de escolha ali porque eu juro de pé junto que eu JAMAIS, NUNQUINHA NA VIDA ia querer tirar a Ellie dali, do final perfeito, da poesia daquele momento.
Mas, não temos escolhas e a cena da separação da Ellie e Dina partiu realmente meu coração, me sentia como a Dina ali, não querendo que a Ellie embarcasse nessa.
Voltamos ao controle da Abby em um cenário totalmente novo, de repente me senti jogando já o The Last of Us: Part III. Um ambiente totalmente novo, novamente sem todas as minhas armas, pistas de uma nova facção, a descoberta do esconderijo dos Vaga-Lumes... E QUE ELES ESTÃO VIVOS SIM... Enfim... Mano, como assim?! Sério, eu fiquei muito impressionado por terem entregue tudo isso ainda neste jogo. A Abby é capturada e vamos para a seção final do jogo com a Ellie.
Vaga-Lumes estão vivos e são um grupo enorme. The Last of Us: Part III confirmado.
Uma Ellie bronzeada, cenário paradisíaco e para mim ainda a sensação de que isso poderia já ser o próximo The Last of Us. Devo confessar porém que foi uma delícia poder voltar a controlar a Ellie em combate, ela tem um quê de agilidade melhor que o da Abby que dá um put* tesão de controlar ela. Os cenários também são fantásticamente lindos e uma bela surpresa porque não recebi nenhum spoiler quanto a esta localidade.
O clima ensolarado e a explosão de cores nos cenário faz parecer outro jogo.
Bom... de qualquer forma temos toda essa seção com os Cascavéis que eu achei muito poderia ter ficado para um próximo jogo ou para uma DLC de ligação entre o Part II e um futuro Part III, porque acabou não sendo tão bem aprofundado o lore desse grupo. Chegamos então ao final na praia... O clima ensolarado, as cores, tudo se foi... O jogo volta a ser cinza como em Seattle...
Nesta seção parece que Ellie está entrando em um purgatório de almas atormentadas...
c
lho, que agonia da porra. Eu sabia que no fim elas não iam se matar, mas ainda assim é uma luta pesada da porra... Você cortando a Abby toda e a essa altura do campeonato não era mais o que eu queria... E nem a Ellie. Dava para sentir que desde o momento que ela cortou a corda e salvou a Abby do tronco, ela tava muito em dúvida do que diabos ela estava fazendo ali. Assim como o jogador birrento que pensou, clho, FIZ ISSO TUDO E NÃO VOU MATAR A ABBY?! A Ellie tentou lutar e seguir em frente com a vingança, mas não conseguiu terminar.
As duas personagens estão completamente destruídas.
A Abby arrancou os dedos dela e ela lembrou do Joel e parou. Essa parte, assim como o final do primeiro jogo é aberta a interpretação. Porque a Ellie parou? O que a motivou ali? Foi remorso? Foi culpa por não ter perdoado o Joel a tempo e saber que mesmo que a Abby morra isso não vai mudar? Foi pensar que ela estaria fazendo com o Lev, o mesmo que fizeram com ela? Ainda não cheguei a uma resposta concreta quanto a isso.
O que eu fiquei realmente triste foi que a Ellie perdeu tudo. A cena final dela tentando tocar a música e dá tudo errado e é de pegar o coração na mão e rasgar em pedaços. O elo que ela tinha com o Joel através da música estava arruinado. Fiquei realmente triste e puto, achei que eles poderiam explorar mais essa questão da música em um próximo jogo, mas não, a Ellie perdeu tudo.
Ellie perdeu tudo, até sua vontade de seguir em frente com a vingança.
Essa foi a única coisa que me decepcionou um pouco no final, mas debatendo com aquele mesmo amigo que citei, ele me abriu uma possibilidade para refletir... É altamente provável que vamos ter um terceiro jogo e provavelmente ele terá a ver com os vaga-lumes e a busca da cura novamente... Se a Ellie ainda tivesse algo a que dar valor, talvez ela hesitasse em se sacrificar por essa cura. A vida confortável com a Dina e o JJ a fariam pensar duas vezes antes de tomar essa decisão.
Agora a Ellie perdeu TUDO, inclusive a Dina e o JJ como fica claro com a casa vazia e abandonada, após a Dina ter dito que "não passaria por isso outra vez". Agora que a Ellie não tem nada, talvez ela esteja disposta a ir atrás dos Vaga-Lumes, mas dessa vez para se sacrificar em prol da cura e dar algum significado a sua vida, já que a vingança não lhe serviu com esse objetivo.
Depois de perder absolutamente tudo, Ellie precisa de um novo objetivo na vida.
Fica aí a bola na mão da Naughty Dog, fazer um The Last of Us: Part III, com a Ellie indo atrás dos Vaga-lumes e quem sabe até se reencontrando com a Abby, mas dessa vez com ambas lutando por um objetivo em comum que seria achar uma forma de encontrar alguém que pudesse criar a vacina.
Repetindo a Ellie do primeiro jogo: "Depois de tudo o que passamos... De tudo que eu fiz... Não pode ser em vão."