Tudo o que você falou sobre o primeiro procede e eu gostaria de destacar a parte do Bill e a parte da comunidade do Tommy. Esses dois pontos são cruciais pra entender o desenvolvimento do Joel como personagem. Fazendo um link inevitável com o parte 2, o Bill jamais cairia no erro de confiar na Abby em contrapartida ele vive uma vida miserável, ele apenas sobrevive e nada mais; já quem vive em comunidade tem seu lado humano exposto - e com isso as consequências, riscos e benefícios vem no pacote, mas é definitivamente uma vida que vale a pena ser vivida. O Joel recuperou a humanidade quando ele passou a amar a Ellie, e o Joel "antigo" morreu definitivamente a partir do momento que ele deixou de sobreviver e passou a viver de verdade (em comunidade). Repare em como ele se torna um membro valioso a ponto de ter uma certa "fama" na comunidade e inclusive receber diversas homenagens com flores na casa onde morava e tudo mais - tudo isso é inimaginável pro Joel pré-Ellie. Meu ponto é que o que você levantou no início sobre o 1 tem efeito direto ou indireto sobre o 2, eu apenas peguei o gancho e dei um exemplo só pra complementar já que esse não é a ideia central da sua crítica.
Sobre a questão dos personagens, eu concordo em partes e discordo.
Eu concordo em partes pq uma das únicas coisas que me desagradou foi o vai e vem de companion e o excesso de tela que esses personagens receberam, não acho que eles são fracos mas acho que receberam atenção excessiva e desnecessária. Eles tem um papel importante então eu discordo sobre eles não serem um "peça no tabuleiro", eu acho que os personagens menores são importantíssimos pra acrescentar humanidade á Ellie e a Abby em diversos sentidos e também para dar peso e consequência aos atos de ambas.
Sobre você achar o tema geral do ciclo de ódio ser raso, vai de cada um e eu respeito isso, mas discordo pq há muitas nuances envolvidas além de ser algo extremamente atual e humano. De qualquer forma, como vc bem disse no final da sua crítica, não acho que o jogo seja estritamente sobre vingança assim como o primeiro não é sobre a busca da cura do fungo ou algo assim. Ambos são jogos sobre as nuances e sentimentos humanos, esse é o verdadeiro tema da franquia.
No primeiro nós vemos ali na jornada como cada um de nós lida com
luto (perda da Sara),
medo (de diversas formas, mas por exemplo, o medo travestido de dureza do Joel em se apegar a Ellie, esta por sua vez tem medo de ficar sozinha),
raiva (comportamento agressivo do Joel pré-Ellie por conta da amargura e trauma dos acontecimentos),
desesperança (Bill, Joel que só quer saber de sobreviver e mais nada e não acredita em melhora),
amor (Joel/Ellie),
perdão (Joel/Tommy) e por aí vai.
O parte 2 (esse subtítulo não é a toa) por sua vez, segue mais ou menos a mesma linha, claro, com um pano de fundo diferente e uma forma de se contar diferente, mas ainda é sobre essas nuances. Sim, é sobre o ciclo de ódio principalmente, mas esse ciclo vai se formando e no processo temos
Luto, medo, raiva, desesperança, amor... está tudo lá sendo apresentado o tempo todo, de diversas formas.
Lembro que eu fiquei puto com a Ellie pq pouco depois da morte do Joel a gente vê ela indo pra Seattle com a Dina e no caminho falando sobre as maiores trivialidades e eu tipo "porra, não acredito que ela tá conseguindo ficar de namorico com a Dina depois disso, ela tinha que estar chorando o tempo todo! Que m****!". Depois eu li o diário dela e percebi que não é bem assim, depois eu vi ela tentando tocar a música do Joel e tal. Nisso eu me lembrei da morte do meu avô, e na ocasião eu tava extremamente puto por dentro com a minha irmã pq ela tava "normal" e só depois de ver sem querer ela chorando abraçada com meu pai foi que na época eu percebi que quando se trata de luto muitos lidam de maneiras diferentes, muitos tentam seguir em frente ou só mascarar a dor mesmo estando destroçados por dentro, outros como eu na época simplesmente não conseguiam tentar nada. A raiva que eu senti da Ellie foi uma espécie de emulação do que eu senti pela minha irmã. Isso é tão fantástico que putz... tenho nem palavras, esse jogo consegue como nenhum outro humanizar os personagens, acho que esse é o meu ponto.
Por fim, sobre ser mais conciso e se arrastar demais. Nunca esqueço de um comentário do
@leonardo__cruz vou copiar e colar aqui pq resume perfeitamente o que na hora eu nem percebi (não senti tanto ser arrastado, mas senti sim que não havia progressão) mas fez total sentido:
"Parecia que não tinha acontecido nada ainda. Eu saí de Seattle com a Dina, explorei coisa para cacete, matei um monte de gente e parecia ter um vazio ali... Aí imediatamente a cabeça foi fazer a comparação com o primeiro jogo, que tem lá suas 13, 15 horas de duração e foi inevitável pensar em QUANTA coisa acontece na história durante esse período de tempo no primeiro jogo. Agora no segundo jogo eu estava com o dobro do tempo e só existia um vazio... Existia... um vazio."
Bum, foi aí que o clique veio. c***lho, era exatamente isso. Apesar de aparentar ser uma história sobre vingança, todas as mortes, todas as coisas que eu estava fazendo, não estavam me levando a lugar nenhum. Fiquei pensando se essa era a sensação que os escritores queriam que eu sentisse ou se foi apenas uma intrepretação minha, mas tanto para mim, quanto as expressões que a Ellie faziam no jogo pareciam me dizer que "cara, isso aqui não está levando a nada, só sinto o vazio".
--
Tanto é que a campanha da Abby avança muito mais em termos de acontecimentos, afinal ela já estava seguindo em frente. A da Ellie avança apenas no sentido de definhar o psicológico dela, de ir a transformando.
Esse jogo mexeu demais com meu emocional, minhas perspectivas, antes, depois e durante o jogo. Quase nenhuma obra é capaz de fazer isso. Não tem nada a ver com sonysmo, conspiração da mídia, forçação nem nada assim como alguns aqui pensam. É um jogo diferenciado mesmo, mas assim como você eu ainda rejogarei e tenho certeza que quando eu o fizer ainda me sentirei desconfortável com personagens reais, que tomam suas próprias decisões, que são humanos. Eu ainda sentirei alguma coisa e isso é foda.