Toma mais uma aew.
“Há uma matemática ‘criativa’ para forçar os 50% de eficácia”, diz infectologista sobre CoronaVac
O infectologista explica que os cálculos não condizem com os dados apresentados pelo Butantan
Em entrevista exclusiva ao
BSM, o médico infectologista e perito federal do Ministério da Economia, Dr. Francisco Cardoso, contestou os dados finais apresentados pelo Instituto Butantan nesta terça-feira (12) sobre a CoronaVac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo órgão paulistano em parceria com o laboratório chinês Sinovac. O Instituto apontou uma taxa de eficácia geral de 50,38% do imunizante.
Segundo o Instituto, a eficácia da CoronaVac se divide em 50,38% para casos considerados “muito leves” a casos graves, 77,96% para casos leves, onde o infectado precisa de assistência médica e 100% de eficácia para casos moderados (que necessitam de hospitalização) e para casos graves (que necessitam de internação na UTI).
De acordo com o médico, há uma série de lacunas sobre as informações detalhadas da CoronaVac que não foram apresentadas e muito menos esclarecidas para a população e os cientistas. Além dos números da eficácia, Cardoso também questionou outros dados não informados pelo Butantan em nenhum artigo científico.
“Estranho o Butantan não ter submetido o trabalho a um artigo de publicação científica em revista internacional revisado por pares, pois é assim que temos acesso a dados de eficácia e segurança de tratamentos, como as vacinas. Foi assim que a Pfizer, Moderna e AstraZeneca fizeram, mas não entendo por que o Butantan e a equipe que coordena as pesquisas da CoronaVac resolveram divulgar as pesquisas de forma picotada e fragmentada através de PowerPoint sem condensar os dados em um sumário ou artigo científico”, criticou o médico.
Ainda segundo o infectologista, os cálculos da eficácia geral da CoronaVac não condizem com os dados apresentados pelo Butantan na tarde de hoje, onde apontam uma eficácia geral de 50,38% para casos considerados “muito leves”.
De acordo com médico, com base nas informações apresentadas pelo órgão paulistano, a taxa de eficácia geral está abaixo dos 50% anunciados pelo Butantan, o que não qualificaria a vacina como segura, uma vez que tal porcentagem é o fator preponderante para a autorização da aplicação do imunizante pela a Organização Mundial da Saúde (OMS) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
“Analisando as informações com colegas estatísticos e matemáticos que estão debruçados sobre os números apresentados pelo Butantan, e aparentemente essa eficácia global da CoronaVac pelos números apresentados hoje não são de 50,38%, seriam de 49,7%. Você teria 4653 voluntários vacinados, sendo 85 desses infectados. E no placebo, foram 4599 vacinados com a vacina inativa e 167 teriam sido infectados. E usando esses dados, a eficácia global cai para 49,7% e não 50,38%”, detalhou o infectologista.
Questionado sobre como o Instituto teria chegado ao número de 50,38% de eficácia geral, o médico suspeita se não houve alguma atitude do Butantan para o número chegar ao número apresentado nesta terça.
“Eu entendo que houve alguma ‘forçada’ de conta, algum tipo de arredondamento ou matemática ‘criativa’ para forçar algum dado que pudesse acrescentar algo a favo do grupo de tratamento para chegar nos 50,38%, algum tipo de regra matemática, desconto ou desvio padrão. Tenho buscado junto aos meus colegas realizar uma engenharia reversa para determinar qual regra matemática eles utilizaram para chegar nos 50,38%, pois pelos números apresentados nos voluntários, a eficácia é de 49,7%”, contestou.
O infectologista questionou também o número apresentado pelo Butantan, pois a eficácia de 50,38% é exatamente a regra imposta pela OMS e Anvisa para autorizarem o imunizante.
Efeito imunizante
Segundo Dr. Francisco Cardoso, ainda restam dúvidas sobre o efeito imunizante da vacina e o tempo de permanência da imunização da CoronaVac, além de ter apontado ainda sobre a não-efetividade da proteção proporcionada pela vacina chinesa, além de classificar o resultado como “decepcionante”.
“Precisamos aguardar a publicação dos estudos numa revista internacional para termos uma análise mais definitiva. Mas de qualquer maneira, mesmo considerando que haja 50,38% de eficácia, isso é decepcionante, essa vacina não trará uma proteção efetiva para a população, pois ela só tem efeito imunizante em metade daqueles que são submetidos a vacinação e você não sabe quem são essas pessoas”, afirmou.
“Vai levar um tempo muito maior para termos um efeito imunizante na população, além de não saber quantas vezes será necessário vacinar novamente determinados grupos populacionais”, explicou.
O médico explicou também que restam dúvidas sobre a imunização que a CoronaVac pode trazer para as novas cepas da Covid-19 detectadas no Reino Unido e recentemente no estado do Amazonas.
“Má estatística”
De acordo com dados do Butantan, a eficácia de 100% para casos graves foi obtida através de uma base de amostra com sete pacientes, porém, todos eles são integrantes do grupo placebo. Dessa forma, o número apontado pelo Butantan é uma inferência do estudo.
“Esse número não é possível. Isso é uma má estatística, não deveria nem ter sido divulgado esse número, pois é preciso observar que não houve estudo para demonstrar o desempenho dessa vacina em casos graves. Eles pegaram uma amostra viciada do grupo de placebo para tentar dar um acréscimo de qualidade aos resultados da CoronaVac”, criticou o infectologista.
Ainda de acordo com Dr. Cardoso, houve uma pressão por parte do governo de São Paulo para acelerar a apresentação dos números da CoronaVac, principalmente após o Butantan ter apresentado na semana passada uma eficácia de 78% da vacina, o que gerou reação da comunidade científica internacional sobre o restante das informações.
Forte entusiasta da vacinação, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não participou da coletiva de imprensa desta terça que anunciou os detalhes finais da CoronaVac.
Consequências
Restam muitas informações sobre efeitos colaterais que podem surgir da aplicação massiva da vacina chinesa, pois além dos dados sobre a eficácia, há ainda dúvidas sobre a segurança do imunizante.
“Antes de sair vacinando toda a população, é preciso publicar os resultados completos da CoronaVac para ela sofrer o crivo por especialistas internacionais, a exemplo da revista Science, para que possamos saber o que é essa vacina e a população saber o que ela irá receber no braço”, afirmou o infectologista entrevistado pelo
BSM.
O infectologista sublinhou também que a falta de informações abre margem para a inferência de vários efeitos colaterais que a vacina pode provocar, podendo ser dores no local da vacina até mesmo o óbito do vacinado.
Reunião
A Anvisa informou que está prevista para o próximo domingo (17) a decisão da diretoria colegiada do órgão sobre os pedidos de autorização emergencial das vacinas contra a Covid-19.
Além da CoronaVac, também foi submetida para análise na última sexta-feira (08) a vacina desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca.
O infectologista explica que os cálculos não condizem com os dados apresentados pelo Butantan
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