Trechos da entrevista do Bolso pro "jornalixo" da Veja.
(Curioso, ainda não vi uma entrevista dele pra Terça Livre e adjacências, mas divago...)
Mas o Ministério da Educação em seu governo será um exemplo de eficiência? Errei no começo quando indiquei o Ricardo Vélez como ministro. Foi uma indicação do Olavo de Carvalho? Foi, não vou negar. Ele teve interesse, é boa pessoa. Depois liguei para ele: “Olavo, você conhecia o Vélez de onde?”. “Ah, de publicações.” “Pô, Olavo, você namorou pela internet?”, disse a ele. Depois, tive de dar uma radicalizada. Em conversas aqui com os meus ministros, chegamos à conclusão de que era preciso trocar, não se pode ter pena, e trocamos.
Qual é o nível de influência que o filósofo Olavo de Carvalho tem no governo? Nenhum. O Olavo foi uma pessoa importante na minha campanha. Ele vinha disseminando os ideais da direita havia muito tempo, uma visão que abriu a cabeça de muita gente. Então, de alguma forma, ajudou na minha eleição. Mas raramente eu converso com o Olavo. Ele tem a sua liberdade de expressão, e ponto. Quantas vezes eu fui chamado de ladrão, safado, sem-vergonha, homofóbico, racista. Eu fico quieto? Agora, se ele responde às agressões de lá… O Olavo não faz por maldade. Ele, pela idade talvez, quer as coisas resolvidas mais rápido. Talvez seja isso aí.
EMINÊNCIA – O guru Olavo de Carvalho: pivô de crises no governo
EMINÊNCIA – O guru Olavo de Carvalho: pivô de crises no governo (Jay Westcott/Getty Images)
“Ele foi uma pessoa importante na minha campanha. Vinha disseminando os ideais da direita, uma visão que abriu a cabeça de muita gente. Mas raramente converso com o Olavo”
A questão do Ministério da Educação está resolvida então? Tive de escolher. Chegaram vários currículos aqui, de pessoas bacanas. Mas aquilo é um campo minado, pessoas concursadas, militantes. Quando vazou aquela história de que o MEC estava orientando a cantar o
Hino Nacional, a filmar os estudantes e tudo debaixo do slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, eu cheguei: “Pô, Vélez, tem uma lei do Lula que diz para cantar o
Hino Nacional, conforme eu conversei contigo. Por que colocar o slogan ‘Brasil acima de tudo’? Quem escreveu isso lá?”. “É, foi o meu gabinete.” “Demita o cara, pelo amor de Deus.” Foi para sabotar o ministro.
Há outros casos de sabotagem dentro do governo? Claro. É uma luta pelo poder. Há sabotagem às vezes de onde você nem imagina. No Ministério da Defesa, por exemplo, colocamos militares nos postos de comando. Antes, o ministério estava aparelhado por civis. Havia lá uma mulher em cargo de comando que era esposa do 02 do MST. Tinha ex-deputada do PT, gente de esquerda… Pode isso? Mas o aparelhamento mais forte é mesmo no Ministério da Educação. Eu não sou contra você falar nas escolas, nas universidades sobre quem foi, por exemplo, Che Guevara. Mas tem de falar também quem foi Brilhante Ustra
(coronel do Exército apontado como torturador durante o governo militar), com verdades, e não com mentiras.
Como o senhor vê o papel da esquerda no Brasil? Há poucas semanas teve o deputado petista Paulo Pimenta defendendo o Maduro, discursando. Esse pessoal todo da esquerda defende o Maduro. Será que nós queremos isso para o Brasil? Ou o cara está com o cérebro corroído por alguma coisa ou é maluco. Não tem outra explicação. O que eles pregam não deu certo em lugar nenhum do mundo e continuam defendendo. No governo Lula foi criada uma dezena de estatais e no governo Dilma elas foram ampliadas. Temos de ficar livres desse peso.
O presidente Lula, pelo Twitter, tem postado críticas ao senhor e a seus filhos. Em 1986, quando eu fiz aquele artigo na revista VEJA em que defendi aumento de salário para os militares, fui punido acertadamente pelo ministro do Exército com quinze dias de prisão. Minha prisão não foi dentro de uma cela, foi dentro do quartel. Porque eu não era uma pessoa perigosa para estar trancafiado naquele local. E mesmo dentro do quartel você sente. Imagine o Lula dentro de uma cela. O cara sente. Costumo dizer muitas vezes: se você está comendo coisa não muito boa e passa a comer uma coisa boa, legal. Mas, quando você está comendo bem e volta a comer uma coisa ruim, você sente. Ele saiu de uma situação de líder para a de um cara preso, condenado por corrupção. Apesar disso, não tenho nenhuma compaixão em relação a ele. Ele estava trabalhando para roubar também a nossa liberdade.
“Ele saiu de uma situação de líder para a de um cara preso, condenado por corrupção. Apesar disso, não tenho nenhuma compaixão por ele. Ele estava trabalhando para roubar também a nossa liberdade”
O senhor já se acostumou com a função de presidente da República? Já consegui fazer aquilo que prometi durante a campanha, coisa que eu desconheço que qualquer outro presidente tenha feito: indicar um gabinete técnico, respeitar o Parlamento e cumprir o dispositivo constitucional da independência dos Poderes. Agora, a pressão aqui é muito grande, tem interesses dos mais variados possíveis, tem aquela palavra mágica que a imprensa fala muito, governabilidade. Me acusam muitas vezes de não ter governabilidade. Eu pergunto: o que é governabilidade? Nós mudamos o jeito de conduzir os destinos do Brasil. Hoje, cinco meses depois, eu sinto que a maioria dos parlamentares entendeu o que está acontecendo. Muitos apoiam a pauta do governo. E esse apoio está vindo por amor à pátria, por assim dizer. A gente não pode continuar fazendo a política como era até pouco tempo atrás. Estávamos no caminho da Venezuela. Respondendo a sua pergunta, já passei noites sem dormir, já chorei pra caramba também.
Por quê? Angústia, né? Tá faltando o mínimo de patriotismo para algumas pessoas que decidem o futuro do Brasil. O pessoal não está entendendo para onde o Brasil está indo. Não preciso dizer quem são essas pessoas. Elas estão aí. Imaginava que ia ser difícil, mas não tão difícil assim. Essa cadeira aqui é como se fosse criptonita para o Super-Homem. Mas é uma missão, entendo que Deus me deu o milagre de estar vivo. Nenhum analista político consegue explicar como eu cheguei aqui, mas cheguei e tenho de tocar esse barco.
INDIGNAÇÃO – Adélio: a decisão da Justiça de declará-lo inimputável aborreceu o presidente
INDIGNAÇÃO – Adélio: a decisão da Justiça de declará-lo inimputável aborreceu o presidente (Ricardo Moraes/Reuters)
“Esse cara aí viajava o Brasil todo, esse cara aí tinha um cartão de crédito, esse cara frequentou academia de tiro em Santa Catarina, foi filiado ao PSOL até 2014. É tudo muito suspeito”
Qual é a missão mais difícil? As propostas que você quer apresentar e como elas podem ser interpretadas pelo Parlamento. Veja a questão dos caminhoneiros. De vez em quando aparece aí o fantasma da paralisação que mexeu com a economia do Brasil. O que a gente tem de fazer para antecipar problemas? Por que não aumentar o limite na carteira para 40, 50 pontos? Alguns vão criticar: “Pô, o cara aí quer relaxar na questão do trânsito”. Mas eu fiz isso. Chamei o Tarcísio
(de Freitas, ministro da Infraestrutura) e disse “não quero mais saber de novos pardais”. Isso, às vezes, é mal interpretado. Por outro lado, você vai ganhando a simpatia da população e ela acaba entendendo que você quer fazer a coisa certa. No macro, é a reforma da Previdência, que é a mãe das reformas, e depois a tributária, que está para ser discutida.
O que o senhor realmente pensa sobre a reforma da Previdência? A cabeça de um parlamentar era uma coisa, a cabeça de um presidente, agora com acesso aos números, é outra. Na Câmara, muitas vezes você tem uma informação de orelhada. Por isso, eu sempre fui contra a reforma da Previdência. O que faz a gente mudar? A realidade. O Brasil será ingovernável daqui a um, dois, três anos. Se a reforma da Previdência não passar, o dólar pode disparar, a inflação vai bater à nossa porta novamente e, do caos, vão florescer a demagogia, o populismo, quem sabe o PT, como está acontecendo na Argentina, com a volta de Cristina Kirchner. O Brasil não aguentaria outro ciclo assim.
Aprovada a reforma da Previdência, o que o senhor vislumbra na sequência? Vamos partir para a reforma tributária e para as privatizações. Já dei sinal verde para privatizar os Correios. A orientação é que a gente explique por que é necessário privatizar. No caso dos Correios, o PT destruiu a empresa. A bandalheira era tão grande que o fundo de pensão dos funcionários, que hoje está quebrado, fez investimentos em papéis da Venezuela. Com que interesse? Pelo amor de Deus! Então, temos de mostrar à opinião pública que não tem outro caminho a não ser privatizar os Correios. Será assim com outras estatais. Há muitos cabides de emprego dentro do governo.
Presidente, para quando o senhor espera a diminuição do atual nível de desemprego? O general Mourão acabou de chegar da China. Lá também tem desemprego. Mas há uma diferença. Quando os chineses quiseram fazer a usina hidrelétrica de Três Gargantas, só avisaram: “Olha, daqui a dois anos a água vai subir, se vira”. No Brasil você não faz isso. Aqui, Belo Monte está sendo construída há quase dez anos. E existe um outro problema. Uma parte dos nossos milhões de desempregados não se encaixa mais no mercado de trabalho, por falta de qualificação. Há também os universitários que só têm diploma. Alguns acham que gastar mais dinheiro é sinal de que está melhorando a educação. Tem país que gasta
per capita menos que nós e tem uma educação muito melhor. A situação não está nada bacana. Essa é a realidade.
O senhor já recebeu alguma demanda não republicana? Sim, mas é coisa raríssima. Uma ou duas vezes apareceu gente aqui pedindo alguma coisa que a gente sabe que tem algo por trás. A gente compõe, conversa, não cede, até porque, se você ceder uma vez, já era. Aí você escancara a porteira. Compare os meus ministros com os do Temer, da Dilma e do Lula. Quem você acha que tem o melhor ministério nos últimos anos? A gente vai ganhar de todo mundo. Uma ou outra exceção, talvez.
Qual a importância da comunicação via Twitter? Acho que sou a pessoa que consegue atingir mais gente no mundo, tem mais interações, mais engajamento. Foi meu filho Carlos que começou a fazer isso daí — e foi muito importante no sucesso de nossa campanha.
O Carlos continua autorizado a postar na sua conta? O Carlos tem muita impetuosidade, quer resolver as coisas muito rapidamente. De vez em quando há um atrito entre mim e ele em função da velocidade com que ele quer resolver as questões.
Na campanha, o senhor disse que seria implacável com a corrupção. E sou. Mas não posso punir ninguém antes de a culpa ficar minimamente demonstrada. Veja o caso do ministro Marcelo Álvaro Antônio, investigado por irregularidades eleitorais. Eu tenho um compromisso com o Moro. Tem de ter algo de concreto. Só em cima de denúncias fica complicado. Ele nem é réu ainda, não foi denunciado. Deixa apurar um pouquinho mais. Meu filho Flávio, por exemplo, é acusado de envolvimento com laranjas no Rio de Janeiro. Cada candidato recebeu 2 800 reais do partido. Então não vai falar em laranjal com essa importância de recursos. “E foi dinheiro para quê?”, perguntei a ele. “Para poder pagar contador e as despesas que os candidatos tiveram durante a campanha”, porque entraram na chapa para compor. Depois, resolveram não fazer campanha. É um absurdo.
O Ministério Público pediu a quebra dos sigilos do Flávio. Isso o preocupa? Lógico. Se alguém mexe com um filho teu, não interessa se ele está certo ou está errado, você se preocupa. Eu estava em casa quando estourou o primeiro momento no
Jornal Nacional. Um milhão de reais para pagar um apartamento, não sei o quê. Eu estava com meu filho Eduardo em casa, e eu conversando com ele: “Vou falar com o Flávio, perguntar o que é isso, o cara pegando dinheiro do Queiroz e pagando apartamento de 1 milhão de reais”. Flávio pagou um título bancário de 1 milhão de reais à Caixa Econômica. Ele quitou um financiamento com o banco depois de ter transferido os débitos que tinha com a construtora para a Caixa. Os documentos estão registrados em cartório. Pô, o cara era deputado, a esposa dele é dentista, tem uma renda, e a Caixa queria comprar a dívida dele. Consequentemente, ele assume a dívida não mais com a construtora, mas com a Caixa, pagando um pouquinho menos. Assim foi feito. Ponto-final.
Presidente, qual foi a primeira coisa que lhe veio à cabeça quando o senhor recebeu a facada? No primeiro momento eu não vi que era uma facada. Eu senti a batida. Parecia que foi um soco ou uma bolada. E eu levantei a camisa e vi um rasgo de uns três dedos. Falei pro meu assessor: “Fica tranquilo, foi uma porrada, já vai passar”. E não sangrava. É lógico que não sangrava. O sangue estava jorrando lá por dentro. Daí alguém teve a ideia de me levar para a Santa Casa. Eu dei uma sorte terrível.
Quando percebeu que não era uma bolada? Vi o furo e pensei que tinha sido rasgado com um soco inglês. Doía muito. Cheguei consciente ao hospital, e me levaram para fazer uma radiografia. Lembro que o médico falou: “Não faz nada, corta”. Não tinha tempo. O cara começou a pegar a pulsação… E daí só lembro que senti uma tesoura cortando. Quando acordei, me perguntaram: “Quer ir para onde? Sírio-Libanês? Albert Einstein?”. Quando entrei no avião, não sabia para onde estava indo. O médico perguntou: “Está doendo? Quer tomar um analgésico?”. Eu falei: “Quero”. Dormi durante a viagem para São Paulo. No aeroporto acordei, me levaram para um helicóptero e fui para o Albert Einstein. Não teria sobrevivido se não tivessem me levado pra lá. Perdi 2 litros e meio de sangue. Mas, graças a Deus, sobrevivi. Foi um milagre.
Como é ver a morte tão perto? Você vê a vida de novo. Você vê passar um filme na cabeça desde quando você teve consciência de que era um ser humano na Terra.
(choro) Vem uma imagem à sua cabeça. Eu vi minha filha Laura de 7 anos. Ela vai ficar órfã? Eu morrer, vamos assim dizer, até faz parte da vida. Mas como é que vai ser a vida dessa menina aí perdendo o pai tão cedo?
HINO NACIONAL – O ex-ministro Ricardo Vélez foi demitido depois de polêmicas
HINO NACIONAL – O ex-ministro Ricardo Vélez foi demitido depois de polêmicas (Cristiano Mariz/VEJA)
“Errei no começo quando indiquei o Vélez como ministro. Foi uma indicação do Olavo de Carvalho? Foi, não vou negar. Chegamos à conclusão de que era preciso trocar, e trocamos”
O que o senhor achou da decisão da Justiça de considerar inimputável o seu agressor? Esse cara aí viajava o Brasil todo, esse cara aí tinha um cartão de crédito, esse cara frequentou academia de tiro em Santa Catarina, foi filiado ao PSOL até 2014. Surpreendentemente, em 6 de setembro, dia do crime, o nome dele apareceu no cadastro de visitantes do Congresso. Isso ia ser usado como álibi, caso ele não tivesse sido preso em flagrante. É tudo muito suspeito.
Continua convicto de que foi um crime encomendado? Sim. Eu tenho poder sobre a Polícia Federal e posso dizer: “Bota aí 200 caras no caso e corre atrás”. Não estou fazendo nada disso. Estou aguardando o Moro me informar. Não quero me vitimizar nem inventar um culpado para o episódio, mas isso não saiu da cabeça dele.
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