Opa, aí fica difícil, meu patrão, ir pra esse lado é associar a dentição dos cavalos com a tempestade permanente de Júpiter. O cu e as calças não são um casal de gêmeos, o real é que um não tem nada a ver com outro.
A primeira parte de seu post é correta, mas o último parágrafo está invertido. É o contrário. Jogos Rated M realmente vendem mal atualmente lá, mesmo os constituídos por waifus de seios gelatinosos e bochechas rosadas, o que se diz é que o conteúdo family-friendly domina, E Rated, mas há sim um forte sentimento de localismo e uma tendência ao consumo de produtos mais pick up and play, casuais, com visual de mangá, cartunizado ou kid-friendly. Que que tem? Porque essa observação do real incomodaria alguém?
Games ocidentais vendem mal no Japão since ever, e isso advém de elementos culturais e estéticos, primordialmente, e não têm qualquer relação com a qualidade final dos produtos ou de seus gameplays. Não chegaria a dizer que o mercado tradicional hardcore de consoles de mesa está na moribundez no Japão, mas decaiu demais. É só pegar qualquer artigo científico sobre demografia e preferências: a cultura pop japonesa pode ser resumida como “Everything is cute”, enquanto no Ocidente esse aspecto “bonitinho”, essa coisa “cuteness”, branda e gracinha, não tem boa receptividade fora da faixa pediátrica. O arrombo das plataformas Mobile, com jogos ainda mais casuais, a explosão do Wii frente ao PS3/360 no país, e a proporção MUITO maior de gamers femininas com uma atitude mais energética produz essas preferências locais, é por isso que a Nintendo domina lá, e qualquer estudioso sobre o assunto bem pontua o motivo desse reinado:
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Como um Playstation, que é a plataforma mais hardcore, vai voltar a reinar por lá, com a queda do mercado entusiasta no pós Wii?
Além de tudo, a proporção de jogadores na faixa etária infantil é muito maior no Japão que no Ocidente:
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Tudo isso explica. A gente tem que parar de incutir à nossa observação da realidade, desejos e impressões privadas, encantos e sonhos.
Pokémon é a série de jogos mais vendida de todos os tempos no Japão, e tem o gameplay que varia do fraco, ao banalmente passável, ao no
máximo do máximo do máximo, muito de vez em quando “não é lá essas coisas. É bom. É competente. Mas não é nada excepcional”, pra citar o fraseado do Chefão. Jogos sem marketing nenhum, mas fofos e casuais, “cutes”, embora com o gameplay mediano, como Atelier, vendem melhor que jogos maiores e com muito mais marketing, mas dark e hardcore, embora com o gameplay excepcional, como NiOH,
mesmo tendo temática alinhada nos teares da história do país.
Metal Gear V tem o melhor gameplay da geração, e vendeu 650 mil, menos que Pokémon. Entre os Sims, Death Stranding tem o gameplay muito superior ao de Animal Crossing, e vendeu ninharia perto dele, mesmo com muito marketing.
Bloodborne e Dark Souls têm o gameplay superior ao de Dragon Quest X, e vendem uma fração dele. Street Fighter V tem o gameplay melhor que o de Smash Bros, e vende menos. Forza
Horizon está no PC, e tem o gameplay superior a Mario Kart 8 do WiiU, plataforma com uma base bem menor, e vende uma mixaria perto dele
Spiderman tem o gameplay excepcional frente à Kingdom Hearts III (aliás, esse jogo do aranhão levou o GOTY de developers e designers nipônicos, dentro do próprio circuito criativo do país, incluindo gente da Square Enix, Capcom, Platinum, Arc Systems e etc, em ano de BOTW) e vendeu 100 mil unidades a menos.
Splatoon tem o gameplay pior que o primeiro The Last of Us, e vendeu mais. Não são do mesmo gênero, um é Survival Horror, o outro é Shooter, mas ambos têm combate na mesma perspectiva e do mesmo tipo, então dá pra comparar. O GUNplay de Splatoon é inferior, a movimentação é pior, mais lenta e travada, o Level Design no single é extremamente linear (Splatoon é o shooter mais linear que existe, mais que qualquer Call of Duty, o jogo é constituído de corredores de 10 passos virtuais), em comparação aos diferentes approaches que TLOUS permite, e os mapas multiplayer de Splatoon são meros quadrados e retângulos sem nuance alguma, com rampas e saltos automáticos, enquanto o de TLOUS é muito mais intrincado e bem pensado. A IA então nem se fala, como o foco de Splatoon é a
acessibilidade (essa é a cultura em voga no Japão, aliás), as vaginas voadoras e cabeças de repolho encharcadas não oferecem o menor perigo ao jogador, são só alvos que mal se mexem.
Splatoon é excelente, claro, mas inferior. É o contrário, o gameplay de TLOUS 2 é um dos melhores da geração, mas suas vendas não têm a ver com essa exuberância, e sim com questões culturais e estéticas. Se você tivesse dito que TLOUS 2 não vendeu no Japão por homofobia (Edit: o que já seria um absurdo), haveria um respaldo maior na realidade. Vá lá, TLOUS 2 tem a jogabilidade bem melhor que Resident 2 Remake, que é visivelmente mais travado, com a movimentação menos fluida, e mesmo assim vende menos.
Não estou dizendo que no Ocidente jogos vendem por gameplay, jogabilidades boas e ruins vendem bem ou mal por aqui, na dependência de outros lençóis, apenas pontuamos que, enquanto no Ocidente o mercado Home hardcore é o que domina, no Japão, com o arrombo casual, jogos com gameplay impecável ou mediano podem vender bem ou mal, mas você não consegue citar 5 exemplos de obras atuais com tom sóbrio/maduro que seja million seller no Japão, e não consegue citar 3 jogos ocidentais de todos os tempos que tenham vendido decentemente, até porque o jogo feito na banda de cá do Globo que mais vende no Japão hoje é Minecraft, que é uma das obras mais casuais de todos os tempos, altamente pick up and play, com gráficos cartunizados e tudo mais.
Claro, o Japão continua sendo superior, mas está ruindo, e as grandes empresas que ainda atuam no ramo Hardcore (Capcom, Squenix, Platinum, From) estão caindo fora do país e enfatizando seus rojões pro Ocidente. Uma tristeza.