Vou fazer 45 mês que vem.
Nunca me considerei de esquerda ou de direita. Embora me considere tradicionalista. Já voltei no Lula mas depois do escândalo do mensalão, já percebi ali que ele era tão corrupto quanto qualquer outro.
Então temos a mesma idade, passamos pelas mesmas coisas. Dá pra ter um melhor parâmetro de experiências.
Primeiro de tudo, o termo Fake News ficou famoso como? Você se lembra?
Após as eleições dos EUA, quando Trump venceu, todo tipo de grupo político ficou contra ele, inclusive dizendo que ele não ganhou justamente e clamando por novas eleições. Pois é.
Dito isso, inventaram que ele venceu porque os russos influenciaram nas eleições. E ficaram enfiando dezenas e dezenas de "fatos" e correlações para provar essa suposta influência. No melhor estilo "
Deus é amor, o amor é cego, Stevie Wonder é cego, logo Stevie Wonder é Deus" de se provar as ligações para mostrar que as eleições eram inválidas.
Numa dessas Trump usou o termo Fake News para se referir à CNN em uma entrevista e popularizou a frase. Se você não se lembra, demorou ainda um ano ou dois para que, em uma arapuca de outra emissora, um diretor da CNN confessou a outro repórter que não tinham nada de concreto sobre Trump e os russos, era só pra vender.
Ou seja, uma emissora de TV, ao mentir sobre uma pessoa - inclusive com incontáveis reportagens, testemunhas que diziam sem dizer e etc - é que fez o termo Fake News surgir (ou se popularizar, que seja). E a mesma mídia usa o termo para dizer que ela diz a verdade e quem discorda está usando de fake news.
Então é um ponto.
Logo a seguir, vamos voltar no tempo e espaço e ir para o Brasil.
Se lembra dos protestos de 2013? Uau, 7 anos já. Esses protestos, começados no Brasil por causa do aumento das passagens de ônibus (cujo slogan era, sinta a ironia, "Não é pelos 20 centavos") abalaram o governo e levaram milhões e milhões de brasileiros às ruas, em protestos contra a corrupção, política, aumento de preços e o que mais estivesse no cardápio.
Eu tava lá naqueles protestos. Acho que muita gente daqui estava também.
Os protestos começaram a minguar quando os Black Bloks começaram a vandalizar e levaram a polícia a ter que reagir com violência contra os manifestantes.
Lembra dessa época?
E a Globo, a Veja, a mídia em geral mostrava claramente os vândalos vandalizando e a polícia sendo obrigada a intervir para proteger as pessoas e patrimônio público e privado. Os manifestantes eram arruaceiros.
Aí que as redes sociais (essas que o governo da Dilma tentou censurar nos dois anos seguintes e até hoje tem gente tentando) mostraram a verdade.
Qual era?
Em um caso, um "protestante" jogava coquetel molotov contra a polícia. Filmado com as câmeras de celular da época, foram pesquisando, pesquisando e pesquisando e o protestante era um policial. Ooops.
Noutra cena, policiais quebram os vidros e amassam as portas de uma viatura. Logo depois eles partem para cima dos manifestantes. No dia seguinte seria dito na TV e jornais que eles foram atacados pelos Black Bloks e tiveram que revidar.... Desmentido por postagens de Facebook.
Então, outro fato sobre a isenção da mídia.
Agora, avançamos pra 2017/18. Bolsonaro dá uma entrevista na TV e, respondendo uma pergunta sobre seus filhos serem gays, diz que criou bem eles e eles nunca fariam isso. Na TV, a declaração polêmica "Bolsonaro diz que seus filhos não namorariam uma negra, pois foram bem criados".
Bolsonaro entra na Justiça e exige que mostrem a íntegra da entrevista porque aquilo era uma edição.
A mesma mídia que mostrava fatos inverídicas para justificar a polícia agredir manifestantes meros 4 anos antes, agora dizia que ele era racista.
Quando a justiça pediu pelos originais "Nós temos o hábito de queimar os originais depois que a entrevista é publicada, porque não temos utilidade para eles (não lembro se era exatamente essa a resposta, mas era nessa linha)" e a emissora pagou um processo mas a frase da entrevista, até hoje é relembrada e usada pra fins políticos.
Outro ponto.
Vamos voltar mais ainda no tempo, para 2007. Lembra do filme Tropa de Elite? Em uma cena, policiais tem que justificar ao governador o aumento no número de mortes violentas. Um oficial pega os dados e da uma aula de estatística aplicada.
"Esse aqui morreu baleado na praia. Morreu na praia é afogamento."
Duvida que esse tipo de "fale news" não acontece de verdade na política e poder público? Eu não duvido.
Agora sim, chegamos em 2020. Você mostrou que tem dados do governo estadual que mostram as milhares de mortes pelo COVID e que a mídia diz que são verdadeiras e o governo do estado também diz que são verdadeiros. E que seus amigos estão errados ao tratar essas mortes como fake news.
Percebe que quem popularizou o termo estava justamente dizendo que a mídia mentia e servia a interesses próprios? Percebe que a mídia tem interesses próprios? Percebe que se o governo diz algo e a mídia confirma esse algo, pode não ser verdade?
Ao invés de pesquisar as mortes, você já pessuisou quantos milhões, quantas dezenas de milhões ou, talvez centenas de milhões de reais estão sendo desviados em compras superfaturadas de produtos, na fabricação de hospitais que não apareceram e, quando forem entregues, a crise já terá passado?
Será que não há a possibilidade de a mídia (que você sabe, geralmente é ligada a políticos) estar mentindo porque é interessante politicamente criar essa narrativa?
As vantagens? Ganhos milionários dos corruptos. Ligados à mídia. Ganhos políticos na luta contra o presidente que é contra a mídia? Ganhos ao impor o medo às pessoas?
Não estou afirmando que os números estão errados (embora ache que estejam) estou mostrando que seus colegas não são só idiotas que acreditam em fake news, eles são pessoas que tem motivos para desconfiar da Globo, dos governadores e cia e de suas motivações. Até porque vivemos num país que sempre foi manipulado pela mídia e só recentemente se deu conta disso. Justamente pelas redes sociais, que apesar de poderem ter fake news, são mais democráticas e confiáveis que muitas mídias oficiais.