Antes de começarmos eu acho que vale a pena mencionar mais uma vez que G.R.R.M não escreveu a narrativa deste jogo. Ele escreveu a história de fundo e a história do mundo de
Elden Ring assim como colaborou com Miyazaki e From na construção do próprio mundo. Em vez disso, Miyazaki se carregou da narrativa e os escritos de Martin são usados como a história do mundo, não havendo regras rígidas para definir como eles tiveram que adaptar seus escritos, sendo livres para interpretá-los como os convêm e criar coisas novas baseados nisso. Essa é a natureza dessa colaboração.
Como discutimos anteriormente no contexto da Fantasia e das Crônicas do Gelo e do Fogo, a as maiores qualidades [das obras] de Martin são sua criação de mundo (wordbuilding) através da sua habilidade de criar mundos críveis e vivos que têm um enorme senso de escopo e um quase enciclopédico senso de história. Em cima disso, ele tem um ótimo talento para trazer conceitos já estabelecidos na Fantasia e torná-los interessantes tanto subvertendo-os como colocando-os num todo muito maior. Isso é o que está sendo trazido à mesa aqui. Uma história que vai fundo nos sistemas que governam esse mundo, confrontos políticos, seus personagens e poderes mais importantes e outras presenças importantes cuja influência e impacto podem ser sentidos até os dias atuais. Coisas usuais da From até certo ponto, mas obviamente com uma ênfase maior colocada na importância dessas coisas ao invés de ser aquelas coisas usuais que ficam muito no Background, do tipo “piscou, perdeu”
Habitantes importantes desse muito não são só humanos ou “não humanos” (entretanto seu personagem será humano) com todo o resto sendo inimigos de pouca inteligência. você será apresentado a uma variedade muito mais ampla de gente na sua jornada, raças diferentes, algumas que podem ter inspirações similares de raças já exploradas em jogos anteriores, mas exploradas de formas diferentes, algumas das quais você talvez já tenha visto no trailer. Outras serão novas com o tom próprio da Fromsoft. Raças diferentes no mundo adicionam uma boa dose de personalidade, variedade e vibração que não estava realmente lá antes já que geralmente a maioria de quem você encontra [nos jogos anteriores] são geralmente humanos ou algo parecido com um humano.
Minhas razões para considerar
Elden Ring como “Alta Fantasia” (high fantasy) começa por aí. O escopo do mundo, da lore e da narrativa é muito mais grandioso do que os jogos anteriores em praticamente todos os sentidos para combinar com o novo e maior escopo do jogo que ele pretende habitar, em adição a um tom que foge um pouco mais do convencional e entra no território de ser um pouco mais “brilhante” que o comum da Fromsoft (porém sendo um jogo de Martin/From ele terá seus momentos sombrios)
Do conceito do
Elden Ring até os personagens importantes envolvidos nesse mundo, até mesmo coisas mais “simples” como o funcionamento da magia e seu lugar e propósito no mundo, como também aqueles que a utilizam, estão mais detalhados do que o habitual, tanto em termos de sub-narrativas como tendo formas de organização próprias. Fica imediatamente claro que bastante tempo e esforço foram dedicados à plena realização desse mundo e tudo o que há nele, discutivelmente em um grau nunca antes visto nos jogos anteriores.
As escolas de Magia não são apenas sobre qual elemento você manipula, mas sobre qual escola apresenta os ideias mais próximos aos seus e quais organizações você se sente mais conectado. Essas coisas serão exploradas tanto no Design visual quanto nas narrativas dentro do jogo.
Sobre o próprio
Elden Ring. Eu acredito que seja meu conceito favorito da From até o momento e está intimamente ligado com o próprio mundo em um número de aspectos, muito mais do que coisas como a Dark Sign, as Souls e elo de fogo ou os Old Ones. Estes últimos sendo eram aberrações do estado e da ordem natural do mundo, porém o
Elden Ring era o estado natural do mundo e, obviamente, quando alguma coisa assim é destruída tudo que existe é afetado.
Para traçar um paralelo com o nosso mundo. Nós temos coisas como a lua, nosso campo magnético, nossa atmosfera. Todas estas coisas são importantes nas nossas vidas na terra em um patamar que é tão intrínseco à nossa existência que se algum deles fosse removido, a vida na terra seria completamente afetada. A lua tem um efeito na vida anima e é usada para guiar o comportamento de diferentes espécies, bem como controla as mares, e antigamente era utilizada para medir a passagem do tempo. O campo magnético nos protege de coisas como tempestades cósmicas e explosões solares, bem como afeta as forças fundamentais do magnetismo, que também é usada em instrumentos de orientação espacial. Eu não deveria explicar o motivo pelo qual nossa atmosfera é importante, e se você precisar de alguma prova, olhe para Marte. Mas por que isso é relevante? Porque o
Elden Ring é uma força fundamental deste mundo na mesma escala e embora sua destruição não tenha aniquilado literalmente toda a vida da face do planeta, causou uma quantidade de efeitos fantásticos no mundo.
O que acontece com a terra sem ele, com suas pessoas, seus tangíveis e visíveis efeitos. O que acontece quando a barreira vem abaixo e todas as piores coisas inimagináveis que ela mantinha fora começam a adentrar. Quando alguém que um dia você conheceu se transforma em algo diferente. Quando a própria existência, tudo que ela contém e tudo ao seu redor simplesmente para de funcionar como deveria. As consequências disso se infiltraram em tudo, para melhor ou pior e você terá a chance de testemunhar o resultado disto.
Como você lida com isso, como as pessoas ao seu redor lidam com isso, como os governos, nações, a realeza divina dos deuses e semideuses. Como e onde tudo se conecta? O que acontecerá a seguir?
E não é só sobre ler acerca disso através da lore mas saindo lá fora e vendo por si mesmo, vivenciando e vê-lo representado em todo aspecto do mundo ao seu redor.
Então onde isso te deixa? Um mundo em turbulência, Conflitos nos quais forças da própria existência foram quebradas e suas consequências, as quais você poderá vivenciar e experimentar por si mesmo através de grandes distâncias e locais que são tão grandiosos quanto o mundo que habitam, o que traz aquele sentimento real de Alta Fantasia à sua viagem, não sendo ambientado só em um único local como nos títulos anteriores, mas em locais múltiplos, cada um com suas próprias distintas qualidades, características, visuais e habitantes reconhecíveis. Parte do que faz o mundo e a jornada mais cativantes e críveis é resultado de povoar o mundo com personagens interessantes pra você encontrar, com suas próprias jornadas, e esse é um aspecto que a From está se esforçando para melhorar. Haverá muitos mais personagens com histórias que se estenderão ainda mais ao longo do jogo em termos de localidade e progressão na história, com seus próprios motivos e ambições pessoais. Tipo as maiores quests de Dark Souls 3, mas em uma escala muito mais consistente
O jogador também terá uma narrativa pessoal mais interessante e envolvente além de “va lá, faça a coisa, salve a terra porque eu decidi assim”
O que você restará a você é um mundo maior do que Dark Souls com lugares que não são apenas mencionados, mas que você poderá explorar, enfrentando uma calamidade interna e existencial mais intensa e de maior alcance quando as forças fundamentais do universo forem rompidas. Líderes e nações, o divino e o demoníaco, todos em conflito e você encontrando seu lugar no meio de tudo isso, resultando numa narrativa poderosa com maior peso dramático que os títulos anteriores, mas não mais arbitrária.