Eu certamente acho hilário que setores da sociedade tenham um ataque histérico contra o cigarro, mas sejam a favor da legalização da maconha. Sim, talvez possamos dizer que o cigarro "faz um pouco mais de mal" (por mesmo ter trocentos agentes cancerígenos na sua composição, como se sabe bem), mas a maconha ainda é uma droga, for fuck's sake.
Acho que devemos adotar um certo meio-termo aqui: a maconha nem é tanto o satanás na terra, a necessária porta de entrada para todos os vícios, enfermidades e maledicências, etc, e nem tampouco "um (romantizado) presente natural de Deus" (devemos lembrar que há uma enorme gama de "venenos naturais" também - onde está o seu Deus hiponga de Woodstock agora? Rsrs).
Isto dito, eu não vejo muitos problemas com o princípio do vício em algo que nos traz certo prazer e bem-estar (ainda que com os seus malefícios). Aqui devemos ser propriamente liberais e dizer: "dane-se a intromissão do Estado que a vida é minha!". E, caso a coisa fuja ao controle, que ele (o Estado) seja acionado como um agente de saúde pública. É este paradoxo que nós deveríamos admitir e aceitar.
A obsessão por algo para além de nosso bem-estar imediato, para além dos interesses de nossa auto-conservação, etc, é o que nos faz propriamente humanos - e não somente animais. A nossa entrada na cultura e na linguagem é o que inaugura em nós um incontornável excesso retorcido.
Neste sentido, não é que, ao sermos brutais em demasia, mostramos o nosso "lado animal" (não! O único "animal de verdade", ao menos neste sentido de um incontornável excesso danoso e pervertido, é o ser humano). Sendo assim, o aspecto propriamente obsessivo, de "vício" mesmo, por si só não deveria ser imediatamente condenado, pois o apego a algo para além do que seria puramente recomendável para a nossa saúde é o que nos faz humanos, em contraposição ao ritmado instinto sazonal de auto-conservação do reino animal.
Quando um capitalista passa dias sem dormir e tem constantes ataques de ansiedade preocupado com o seu negócio, ele está sendo propriamente humano, engajado numa Causa para além da pura razoabilidade de sua saúde física e mental, mas cuja obsessão ainda assim o persegue, da qual ele pervertidamente
não consegue (e nem mesmo quer) totalmente se desvencilhar. Portanto, é preciso calma com ações muito taxativas.
É sempre bom lembrar quantos estragos o álcool, uma droga amplamente liberada em nossa sociedade (mas que nem sempre foi assim - Al Capone que o diga) faz, matando aos milhares e desestruturando famílias. Precisamos parar e pensar - talvez até proibir, mas se permitir discutir as coisas antes, sem medo algum de raciocinar.