Especialistas: características do Brasil não permitem o isolamento vertical
O chamado isolamento vertical pode ser eficiente para controlar o contágio do novo coronavírus enquanto mantém a economia ativa no Brasil? Para especialistas, não é possível apostar na possibilidade com tantas garantias. No UOL Debate de hoje, de tema "A classe médica reage ao Coronavírus", o médico Igor Marinho - infectologista do Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenador médico do hospital AACD - viu algumas questões que podem atrapalhar a possibilidade. Entre elas, questões estruturais do Brasil e a falta de testes no país.
"A minha opinião pessoal é que esse tipo de prática muito provavelmente não pode dar certo. Temos dificuldades de testes de diagnóstico com biologia molecular ou sorologia. Não existe possibilidade de isolamento vertical se não sabemos quem está doente ou não", explicou Marinho, alertando para a resistência de parte da população para o isolamento horizontal. "Nossa população se mostrou resistente a medidas de isolamento", disse. "São muito necessárias medidas como isolamento horizontal. Todas as pessoas, com sintomas ou não, devem estar isoladas. Isso diminui o contágio e conseguimos controlar a doença."
Segundo o médico, mesmo frente ao impacto econômico, o grande desafio da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, é o grande nível de contágio e a consequente sobrecarga hospitalar. "O problema que a gente enxerga no mundo é a capacidade de uma doença que sobrecarregue o sistema de saúde, não apenas relacionado à assistência, mas por outras causas não relacionadas ao covid. É uma doença que pode afetar grandes populações", disse.
"Começam alguns especialistas médicos e não médicos sobre como uma pandemia para funcionamento de tudo, de comércio. Qual é a grande preocupação? Houve outros momentos econômicos preocupantes para a humanidade, como o crash da Bolsa de 1929, a Primeira Guerra Mundial a Segunda Guerra Mundial. De algum modo, a economia conseguiu continuar. Durante uma guerra, o material bélico o transporte se tornam muito pujantes. Na situação que temos atualmente, tudo isso se cancela", ponderou. Por sua vez, a médica Maisa Kairalla, presidente da Comissão de Imunização da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, foi ainda mais enfática.
"O isolamento horizontal é o mais eficaz. É muito dificil mudar cultura agora, mas abrandar. Essa é a melhor medida no momento", explicou.
Fonte:
UOL