O que há de Novo?
Fórum Outer Space - O maior fórum de games do Brasil

Registre uma conta gratuita hoje para se tornar um membro! Uma vez conectado, você poderá participar neste site adicionando seus próprios tópicos e postagens, além de se conectar com outros membros por meio de sua própria caixa de entrada privada!

  • Anunciando os planos GOLD no Fórum Outer Space
    Visitante, agora você pode ajudar o Fórum Outer Space e receber alguns recursos exclusivos, incluindo navegação sem anúncios e dois temas exclusivos. Veja os detalhes aqui.


Tópico dos desabafos - Desabafe sobre o que quiser.

METALMANIAC

Mil pontos, LOL!
Mensagens
5.110
Reações
4.668
Pontos
1.319
Quando terminei eu ainda conversava com a ex pelo whatsapp, até que no dia 01/01/2018 eu parei, nunca mais chamei. Ela me deletou do face e eu aproveitei e cortei qualquer vínculo que eu tenho com ela. A única coisa que me resta é uma camisa social (eu gosto dessa camisa, não jogo fora nem fodendo kk) e um travesseiro com uns dizeres bem cafona que vou jogar.
Eu penso que se vc ja a esqueceu, nao ficou mágoa, não tem porque de desfazer de objeto que ganhou da ex. Mas se vc se conhece e sabe que ainda tem alguma mágoa ou sentimento mal resolvido, ai é melhor desapegar msm.
 

Bug_Secular

Bam-bam-bam
Mensagens
3.357
Reações
4.789
Pontos
303
Hoje meu dia rendeu bastante! 0 procrastinação. Pena que como eu cheguei umas 5:30 em casa,(após ficar das 8 - 16:00 na faculdade + 1h de busao) acabei ficando cansado e procrastinando até agora. Mas, vou fazer o resumo agora do conteúdo que estudei (3 capítulos :D) e partir pra próxima unidade.
 

darkness_

Bam-bam-bam
Mensagens
47
Reações
161
Pontos
203
Sempre fui controlado com as finanças, sempre esperando acabar uma conta pra começar outra, só que agora a minha esposa está grávida e nem o god of war novo eu pude comprar :ksnif, e não me arrependo disso nem um pouco. Agora minha vida se resume em tudo em 12x no cartão, isso me deixa um pouco paranóico mas é por uma boa razão, isso porque todo mês a gente fecha no vermelho, que fase hein kkkk.:kcaro2
 

Bug_Secular

Bam-bam-bam
Mensagens
3.357
Reações
4.789
Pontos
303
Sempre fui controlado com as finanças, sempre esperando acabar uma conta pra começar outra, só que agora a minha esposa está grávida e nem o god of war novo eu pude comprar :ksnif, e não me arrependo disso nem um pouco. Agora minha vida se resume em tudo em 12x no cartão, isso me deixa um pouco paranóico mas é por uma boa razão, isso porque todo mês a gente fecha no vermelho, que fase hein kkkk.:kcaro2
Cara esse negócio de parcelar em 12x é furada! Cartão de crédito faz com que a pessoa fique "dependente" do parcelamento, fzd com que o cara compre mais e mais (pensando que pode pagar), e quando vê faz uma bola de neve.
 

Shinobi4OS

Ex-doador
VIP
Mensagens
35.453
Reações
41.035
Pontos
934
Cara esse negócio de parcelar em 12x é furada! Cartão de crédito faz com que a pessoa fique "dependente" do parcelamento, fzd com que o cara compre mais e mais (pensando que pode pagar), e quando vê faz uma bola de neve.
O cara vai ter um filho, não comprar uma garrafa de vodka
 

Megabyte 2.0

Bam-bam-bam
Mensagens
3.481
Reações
5.334
Pontos
303
Resumão de Hoje:
Até que hoje foi um dia tranquilo, quase não tive estresse e nem discuti com alguém, só que me tocou mesmo foi o fora que eu levei de graça. Levar um fora de graça é uma das coisas que mais me faz rir, é sério; isso que eu levei um não até mesmo antes de sentir algo, ou pensar em falar com a garota, foi o seguinte: estava eu lá, como sempre, de boas em um banco olhando o tempo passar e esperando o busão chegar, até que chegou uma galera de amigos e começamos a discutir até que um falou:
- Vocês aí formariam um belo casal!
Não vou mentir que na hora que ele falou isso eu fiquei tenso pacarai, e logo pensei : "Porra, já é a terceira pessoa que fala isso, e nem vejo sentido nisso". Engraçado foi o jeito da garota, ela ficou tensa e falou nada com nada; bom que eu fiquei na minha mesmo e só falei um "não cara, não estou tão desesperado assim não".

Primeiro, hoje foi um dia com rendimento zero. Se eu tivesse em um campeonato de procrastinação eu ainda perderia de tão procrastinado que estou. Vou tentar compensar o hoje no amanhã, se não... Até este momento não fiz nada, estou só a merce da procrastinação.
 


atlanperry

Bam-bam-bam
Mensagens
930
Reações
2.343
Pontos
433
Meu Moto X Force está lento e drenando muita bateria, vou ter que fazer agora um Hard reset para ver se melhora a performance do aparelho! O ruim disso é que além de ter que reinstalar todos os app tenho que ir no caixa eletrônico do Banco do Brasil para liberar as transações financeiras do aplicativo do banco.

Enviado do meu Moto X Force usando Tapatalk
 

Lannister da Silva

Supra-sumo
Mensagens
438
Reações
1.438
Pontos
158
Eu falei sim, mas é por causa que ela fala assim também. Kkkkk Aí eu dou uma resposta como "troco"
Vc tem certeza ABSOLUTA que não tem nenhum interesse nela, não é?
Porque com uma resposta dessas...rsrsrrsrs
Eu gosto de responder as coisas com ironia, da sempre margem para várias interpretações.
 

Citizen Kane

Bam-bam-bam
Mensagens
1.918
Reações
7.146
Pontos
293
Estou com algum problema. Não estou conseguindo dormir direito. Estou com ansiedade (algo raro), inquieto, irritado, com sono no meio da tarde (raríssimo). Sem coragem pra nada (Até pra tomar banho). Depois da demissão, esses dias dentro de casa sem fazer muita coisa me torturam. Tô me sentindo um vagabundo, com medo dos vizinhos. Mas era mesmo só o que me faltava. E olha que ja mandei curriculum para dois contatos meus que garantem que conseguirão uma vaga por aí.
 

I_Like_more

Bam-bam-bam
Mensagens
490
Reações
806
Pontos
278
Estou com algum problema. Não estou conseguindo dormir direito. Estou com ansiedade (algo raro), inquieto, irritado, com sono no meio da tarde (raríssimo). Sem coragem pra nada (Até pra tomar banho). Depois da demissão, esses dias dentro de casa sem fazer muita coisa me torturam. Tô me sentindo um vagabundo, com medo dos vizinhos. Mas era mesmo só o que me faltava. E olha que ja mandei curriculum para dois contatos meus que garantem que conseguirão uma vaga por aí.
Pelo menos você tem contatos!

Enviado de meu ASUS_Z012DC usando Tapatalk
 

Narlok

Bam-bam-bam
Mensagens
2.164
Reações
4.755
Pontos
453
Estou com algum problema. Não estou conseguindo dormir direito. Estou com ansiedade (algo raro), inquieto, irritado, com sono no meio da tarde (raríssimo). Sem coragem pra nada (Até pra tomar banho). Depois da demissão, esses dias dentro de casa sem fazer muita coisa me torturam. Tô me sentindo um vagabundo, com medo dos vizinhos. Mas era mesmo só o que me faltava. E olha que ja mandei curriculum para dois contatos meus que garantem que conseguirão uma vaga por aí.
Eu te entendo, cara. No momento, minha única ocupação é a faculdade. Tô desempregado há um mês e realmente aparece aquele feeling de improdutividade.
Tenta aproveitar o tempo livre pra aprender algo novo ou sla. Tem um monte de cursos onlines por aí que dão até certificado. Dependendo do seu nível de especialização, podem ser bem úteis.
Você é casado e/ou tem filhos?

.
 

Citizen Kane

Bam-bam-bam
Mensagens
1.918
Reações
7.146
Pontos
293
Eu te entendo, cara. No momento, minha única ocupação é a faculdade. Tô desempregado há um mês e realmente aparece aquele feeling de improdutividade.
Tenta aproveitar o tempo livre pra aprender algo novo ou sla. Tem um monte de cursos onlines por aí que dão até certificado. Dependendo do seu nível de especialização, podem ser bem úteis.
Você é casado e/ou tem filhos?

.
casado há 15 anos e tenho dois filhos. Minha esposa trabalha. Tá adorando a ideia de me ver dentro de casa. Mas sei que logo a casa cairá pra mim. Meu plano era usar o dinheiro da rescisão e seguro pra ficar estudando para o exame de ordem. Mas não vai dá não. Eu preciso trabalhar, até estou estudando algumas horas, mas o buraco/vazio é imenso. Me sinto pelado, ou sei lá. Um morto vivo.
 

Eudaimon

Bam-bam-bam
Mensagens
2.216
Reações
8.644
Pontos
453
Hoje eu tive a segunda aula lá da oficina de escrita criativa. Atendento ao exercício proposto pelo professor, elaborei um pouco a premissa, que era

" Criar um argumento a partir de alguma da histórias pessoais que os colegas contaram aqui, com um " E se o sujeito tal...".

Segue o que seria o esboço de um primeiro capítulo. É meio longo, mas prometo que não acaba com a história das máquinas :klol

Se alguém ficar curioso ou se interessar, após ter tido a paciência de ter lido, avisa, que eu penso se continuo a história...

Hans K acordou com a sensação de que o despertador era como um capataz, que lhe arrastava para uma forca. Como em toda manhã, abrir os olhos sempre lhe causava imenso desconforto, e mesmo algum lamento, ainda que não soubesse precisar do que, exatamente, o recobrar da consciência o sequestrasse: Hans raramente lembrava seus sonhos.

O curioso, que sempre o colocava em estado de reflexão, ainda deitado na cama, é que também era muito difícil para ele adormecer. “ Se é tão maravilhoso esse descanso... por que, por que tenho tanta dificuldade em simplesmente entregar-me a ele?”.

Não haveria de ser mera ansiedade, pois, há tempos, aprendera a lidar com ela. Manter a cabeça no lugar, sem se deixar abalar por preocupações prévias, era uma exigência intransponível em sua atividade profissional. Como ele logo havia percebido, a advocacia geralmente reservava, aos incapazes de por os nervos no lugar, apenas dissabores.

Acabava por concluir se tratar de uma das manifestações do boicote que impunha a si próprio, uma característica sua, conforme dizia seu terapeuta. Ou, pensava, talvez fosse uma tentativa inconsciente de dar mais valor às suas experiências, outra necessidade que descobriu possuir, quando soube que, em relação às suas vivências, “tinha dificuldades em se permitir” – de acordo com seu médico ( cuja própria existência Hans só lembrava precisamente nesses momentos de reflexão, ainda na cama).

Naquela noite, contudo, havia sido particularmente difícil para Hans adormecer. Recebera, ainda à tardinha, uma intimação, para comparecimento em uma audiência, a ser realizada já no primeiro horário da manhã do outro dia, em um processo cuja origem, ainda que se esforçasse, não era capaz de lembrar.

É verdade que ele tinha dezenas, centenas, milhares de clientes. Não obstante tivesse dificuldade em se assumir um jurista apaixonado, propusera-se cultivar, ainda que por exaustiva repetição, afeição por sua profissão. Assim que, não tardara em ser profissionalmente reconhecido, mesmo ainda jovem- vivia, naquela oportunidade, os idos de seus 30 anos de idade.

Tal realidade profissional habituara Hans a um pragmatismo, antes para ele inédito, já que havia sido um adolescente um tanto desorganizado e disperso, bem como uma criança tida por seus pais como “ sonhadora”. De modo que, à ocasião, poderia jurar ser capaz de lembrar de todos os processos em que estivesse envolvido.

Mas uma audiência na comarca de “Presepópolis”- cidade cuja existência foi tomar conhecimento pela internet , representando a “sra. A. B.”, às 8 horas da manhã? Realmente não lembrava.

Tampouco a consulta ao endereço eletrônico do juízo serviu-lhe de muito, eis que, embora realmente houvesse o registro de processo sob aquele número, estando ele constituído como advogado, curiosamente, em relação ao assunto do processo e definição das partes, constava a existência de “ Segredo de Justiça”. Ademais, por se tratar de juízo do interior, não era possível precisar exatamente a matéria que seria discutida, embora ele presumisse ser algo relacionado ao direito empresarial, onde atuava majoritariamente.

Essas circunstâncias puseram Hans a refletir, ainda mais do que o habitual, madrugada a dentro, antes de, finalmente, pegar no sono.

Um piscar de olhos depois, restou-lhe acordar, com o indefectível aviso do despertador. O dia não havia ainda raiado, mas já era preciso rumar à Comarca interiorana onde, pessoalmente, haveria de recordar do que se tratava o processo.

Conquanto a perspectiva de simplesmente não lembrar de nada relacionado àquele caso pudesse lhe causar calafrios ( por se tratar de algo quase inédito em sua vida profissional), a vivência de inúmeras e bem sucedidas experiências na advocacia mantinha Hans confiante, a ponto de não se deixar desesperar. Assumiu,então, seu tradicional hábito, em ocasiões que antecediam audiências: pôs no rádio música clássica. Assim, foi acompanhado, durante toda a viagem, pela Nona Sinfonia de Beethoven.

A música nessas circunstâncias o ajudava a adentrar em um estado de espírito desconexo, em que ele deixava seu pensamento o guiar para o horizonte, sem mirar qualquer ponto em específico. Era como se fosse uma meditação, e Hans a percebera necessária porque, anos antes, ainda no início da carreira, havia tido algumas experiências não tão agradáveis.

Em meio a mais de uma audiência, o jovem advogado se vira, repentinamente, transportado para muito distante do local onde se encontrava. Somente quando a voz ao longe o chamava “ Alguma pergunta à testemunha? Doutor? DOUTOR HANS...”, ele era resgatado à realidade, não sem que a situação sempre o deixasse bastante confuso.

Assim que, ele percebera no ritual musical uma oportunidade, na qual buscaria condensar isso, que assumia se tratar de uma “tendência à dispersão”. As notas sacras de Bach, o romantismo de Chopin, o ímpeto de Mozart, e a genialidade de Beethoven haveriam de estimular essa sua predisposição à íntima reflexão, mas anntes das audiências, não calhando sua concentração de abandoná-lo, quando dela precisasse. A estratégia parecia ter dado certo, pois episódios semelhantes não mais se repetiram.

Tratou, portanto, de se deixar envolver o máximo que pode pela composição lírica de Ludwig, durante a viagem, deixando na realidade apenas seus reflexos mais elementares de direção.

Ao chegar na cidade, embora não soubesse o que dela esperar, Hans não se sentiu propriamente surpreso. Havia uma igreja, de arquitetura barroca, ao redor da qual uma praça, em que algumas pessoas de maior idade- cuja aparência remetia à colonização alemã- encontravam-se sentadas. Havia ainda uma ou duas mães, vigiando seus pequenos filhos, que se aprumavam atrás de um vendedor de algodão doce.

O cenário remeteu-o a muitas das comarcas que visitara no interior, levando-o estacionar o carro e procurar, ao redor, pelos logradouros públicos que, nesse tipo de cidade, geralmente se encontram estabelecidos nas proximidades da praça. Logo encontrou a prefeitura, uma delegacia, bem como outros órgãos públicos. Mas não conseguia vislumbrar o prédio da Justiça da cidade.

Aproximou-se, então, de um senhor, a quem questionou a respeito:

-Bom dia, senhor. Saberia me informar onde fica o Foro da cidade?
O homem, um senhor de barba espessa, aparentando uns 60 anos de idade, deteve-se, encarando-o por um momento. Então, disse-lhe:

-Buenas... o senhor doutor é novo por aqui? Não me lembro da tua cara...É o filho adevogado da dona Frederica, que tava pra vir dos estrangeiros?”

- Não, senhor... chamo-me Hans. Fui intimado para uma audiência nesta comarca, que será dentro de 10 minutos. Mas não sei onde fica o Foro daqui.

- Oh!- exclamou o velho, parecendo curioso- bem, o senhor sabe. Aqui em Presepópolis não é comum a gente termos a visita de gente de fora. Ainda mais de pessoas garbosa, com roupa de doutor...não tem muito adevogado aqui não. Eu só conheço um só, que é o doutor Calisto, que é filho da minha vizinha Rosa. Bom guri, esse dr. Calisto... ele qui me ajudou a me encostar, quando me deu uma labirintite. Eu até queria continuar, doutor, juro pro senhor, mas não dava não. Toda hora eu tava tonto! Ah!... o senhor precisa ir lá pra ver o juiz, né? E eu segurando o senhor aqui... o senhor me desculpa. Bem, tá vendo aquela ruela, pro lado ali da prefeitura, onde têm aquelas árvre?- o homem apontou para uma rua estreita, que ladeava a prefeitura pela direita- o senhor segue sempre ali por ela, dali a cinco ou seis quadra, tá o prédio das Justiça. Mas acho que nem abre agora por esses horários... o senhor tem certeza de que o juiz te chamou agora? O dr Calisto, esse, que saberia dizer pro senhor. Sabe, ele ajudou um amigo meu num processo e..”

-Muito obrigado- interrompeu-o Hans, que temia se atrasar para a audiência (o que não acontecia no seu dia a dia).

A rua ao lado da prefeitura era realmente estreita, e Hans decidiu que seguiria a pé até o foro, julgando que isso lhe faria economizar tempo.

Caminhou, durante duas ou três quadras, passando por casinhas simpáticas, que lhe levavam a crer estar em direção a uma parte mais residencial da cidade. Havia então alguns descampados, e Hans se preocupou, pois não via nada que pudesse lembrar um prédio da Justiça. A não ser uma consstrução, ao fundo, após dois terrenos baldios, para onde rumou, apostando todas suas fichas ( e já temendo estar no caminho errado).

Ao se aproximar, vislumbrou um prédio, sóbrio e antigo, onde se lia, em um pequeno Letreiro sobre a entrada, “ Justiça de Presepópolis”. As portas do prédio se encontravam abertas, embora, estranhamente, ele não tenha deparado com ninguém na entrada.

Pensou então que o guarda do prédio pudesse estar no banheiro, ou ocupado vigiando algum carro ( embora não tivesse vislumbrado qualquer carro no local). Não tinha tempo, porém, de procurá-lo e apresentar-se, de modo que, ao ler em uma pequena placa ao lado da escada “ Sala de audiências: segundo andar”, tratou logo de subir.

Havia então uma pequena porta, a única que viu no andar, e que se encontrava semiaberta. Hans olhou ainda antes no relógio, e viu que o ponteiro virava, naquele exato instante, para as 8 horas em ponto. Adentrou, decidido, na sala.

A cena com que se deparou surpreendeu-o ainda mais do que poderia imaginar.

Como em qualquer outra sala de audiências, havia uma mesa, em sentido de U, com cadeiras em cada uma das pontas. No entanto, não havia ninguém, nem nada no local. Absolutamente nada, além da mesa e das cadeiras. A não ser uma caixa, ao lado de um par de calçados, que se encontravam sobre a mesa, justamente em frente a onde Hans se sentaria, como advogado da parte autora.

Tomado de um ímpeto repentino, Hans aproximou-se dos objetos.

O par de calçados ele reconheceu como sendo uma bota Salomon, cuja numeração era, para seu espanto, exatamente a dele: 42. Lembrava-se bem daquele calçado, pois fora um sonho de consumo em sua adolescência (quando tinha por hábito caminhar muito) que ele, infelizmente, não pudera realizar.

Ao abrir a caixa, percebeu que havia três objetos: dois tíquetes, e um envelope. Olhou atentamente o primeiro tíquete. Tratava-se de uma passagem de avião, com destino previsto para Paris. Estava em seu nome. E o horário de embarque era às 7 horas da manhã do outro dia.

O outro bilhete, em francês, tratava-se de uma passagem de trem, com destino de Paris para Saint Jean Piet de Port, em um horário em que ele calculou ser aproximadamente logo após a aterrissagem do avião.

Decidiu então abrir o envelope, esperando entender alguma coisa em meio àquela situação surreal. Havia nele um bilhete, com breves dizeres, que ele apressou-se em ler.

“ Que bom que você atendeu ao meu chamado, meu caro Kel.
Essas duas passagens são para você chegar até Saint Jean Piet de Port. Caso você não saiba ( o que eu honestamente duvido, conhecendo-o como conheço), trata-se do início do Caminho de Santiago da Compostela.

Eu te espero ao fim dele, onde você entenderá tudo.

Com amor, Ana Boulos.”

Hans permaneceu, durante alguns instantes, inerte, olhando para o bilhete. Leu-o e releu-o. Pô-lo então no bolso, juntou os tíquetes e a bota na caixa, e saiu da sala.

A primeira coisa que fez, depois disso, foi descer e procurar por alguém no Fórum. Mas, para seu espanto, continuava tudo deserto. Ladeou o Foro pelos lados, foi para seus fundos: ninguém.

“ Só estou esperando o momento em que eu acorde disso tudo... que não seja no meio de uma audiência!” ele pensou.

Então passou próximo a uma lixeira, tendo decidido colocar todos aqueles objetos fora. Tinha-os como uma espécie de materialização de seu delírio.

Deteve-se, no entanto, em frente à lixeira. Decidiu levar a caixa, e pensar melhor a respeito- se é que isso seria possível- em casa.

Ao olhar para o relógio, percebeu que já eram 9h:20. Como no mesmo dia ainda tinha outras duas audiências marcadas, uma ainda às 11 da manhã, apressou-se em direção ao seu carro, pensando já em como seria difícil manter a concentração nas solenidades, diante de tudo o que o cercava naquela manhã tão atípica.

Ao fim daquele dia, Hans deitou-se e, como de praxe, preparou-se para uma infindável reflexão, antes de finalmente entregar-se à inconsciência. No entanto, antes mesmo que percebesse, estava já entregue à escuridão.

Acordou logo depois, com o chamado do despertador. Eram 6 horas da manhã.

Hans prostrou-se de costas para a cama, olhando para o alto, na posição em que costumava permanecer, todo dia, e refletir sobre estar dormindo e qcordado

Mas, dessa vez, sua reflexão desenhou-se em apenas um questionamento:

“ Que ópera ouvir em uma viagem até Paris? Hum... acho que as 4 Estações de Vivaldi seriam uma boa...”

Levantou-se logo e, sem saber exatamente como ou por quê, pegou a caixa e se pôs em direção ao aeroporto.
 

Urundeuva

Bam-bam-bam
Mensagens
1.904
Reações
3.364
Pontos
303
Hoje eu tive a segunda aula lá da oficina de escrita criativa. Atendento ao exercício proposto pelo professor, elaborei um pouco a premissa, que era

" Criar um argumento a partir de alguma da histórias pessoais que os colegas contaram aqui, com um " E se o sujeito tal...".

Segue o que seria o esboço de um primeiro capítulo. É meio longo, mas prometo que não acaba com a história das máquinas :klol

Se alguém ficar curioso ou se interessar, após ter tido a paciência de ter lido, avisa, que eu penso se continuo a história...

Hans K acordou com a sensação de que o despertador era como um capataz, que lhe arrastava para uma forca. Como em toda manhã, abrir os olhos sempre lhe causava imenso desconforto, e mesmo algum lamento, ainda que não soubesse precisar do que, exatamente, o recobrar da consciência o sequestrasse: Hans raramente lembrava seus sonhos.

O curioso, que sempre o colocava em estado de reflexão, ainda deitado na cama, é que também era muito difícil para ele adormecer. “ Se é tão maravilhoso esse descanso... por que, por que tenho tanta dificuldade em simplesmente entregar-me a ele?”.

Não haveria de ser mera ansiedade, pois, há tempos, aprendera a lidar com ela. Manter a cabeça no lugar, sem se deixar abalar por preocupações prévias, era uma exigência intransponível em sua atividade profissional. Como ele logo havia percebido, a advocacia geralmente reservava, aos incapazes de por os nervos no lugar, apenas dissabores.

Acabava por concluir se tratar de uma das manifestações do boicote que impunha a si próprio, uma característica sua, conforme dizia seu terapeuta. Ou, pensava, talvez fosse uma tentativa inconsciente de dar mais valor às suas experiências, outra necessidade que descobriu possuir, quando soube que, em relação às suas vivências, “tinha dificuldades em se permitir” – de acordo com seu médico ( cuja própria existência Hans só lembrava precisamente nesses momentos de reflexão, ainda na cama).

Naquela noite, contudo, havia sido particularmente difícil para Hans adormecer. Recebera, ainda à tardinha, uma intimação, para comparecimento em uma audiência, a ser realizada já no primeiro horário da manhã do outro dia, em um processo cuja origem, ainda que se esforçasse, não era capaz de lembrar.

É verdade que ele tinha dezenas, centenas, milhares de clientes. Não obstante tivesse dificuldade em se assumir um jurista apaixonado, propusera-se cultivar, ainda que por exaustiva repetição, afeição por sua profissão. Assim que, não tardara em ser profissionalmente reconhecido, mesmo ainda jovem- vivia, naquela oportunidade, os idos de seus 30 anos de idade.

Tal realidade profissional habituara Hans a um pragmatismo, antes para ele inédito, já que havia sido um adolescente um tanto desorganizado e disperso, bem como uma criança tida por seus pais como “ sonhadora”. De modo que, à ocasião, poderia jurar ser capaz de lembrar de todos os processos em que estivesse envolvido.

Mas uma audiência na comarca de “Presepópolis”- cidade cuja existência foi tomar conhecimento pela internet , representando a “sra. A. B.”, às 8 horas da manhã? Realmente não lembrava.

Tampouco a consulta ao endereço eletrônico do juízo serviu-lhe de muito, eis que, embora realmente houvesse o registro de processo sob aquele número, estando ele constituído como advogado, curiosamente, em relação ao assunto do processo e definição das partes, constava a existência de “ Segredo de Justiça”. Ademais, por se tratar de juízo do interior, não era possível precisar exatamente a matéria que seria discutida, embora ele presumisse ser algo relacionado ao direito empresarial, onde atuava majoritariamente.

Essas circunstâncias puseram Hans a refletir, ainda mais do que o habitual, madrugada a dentro, antes de, finalmente, pegar no sono.

Um piscar de olhos depois, restou-lhe acordar, com o indefectível aviso do despertador. O dia não havia ainda raiado, mas já era preciso rumar à Comarca interiorana onde, pessoalmente, haveria de recordar do que se tratava o processo.

Conquanto a perspectiva de simplesmente não lembrar de nada relacionado àquele caso pudesse lhe causar calafrios ( por se tratar de algo quase inédito em sua vida profissional), a vivência de inúmeras e bem sucedidas experiências na advocacia mantinha Hans confiante, a ponto de não se deixar desesperar. Assumiu,então, seu tradicional hábito, em ocasiões que antecediam audiências: pôs no rádio música clássica. Assim, foi acompanhado, durante toda a viagem, pela Nona Sinfonia de Beethoven.

A música nessas circunstâncias o ajudava a adentrar em um estado de espírito desconexo, em que ele deixava seu pensamento o guiar para o horizonte, sem mirar qualquer ponto em específico. Era como se fosse uma meditação, e Hans a percebera necessária porque, anos antes, ainda no início da carreira, havia tido algumas experiências não tão agradáveis.

Em meio a mais de uma audiência, o jovem advogado se vira, repentinamente, transportado para muito distante do local onde se encontrava. Somente quando a voz ao longe o chamava “ Alguma pergunta à testemunha? Doutor? DOUTOR HANS...”, ele era resgatado à realidade, não sem que a situação sempre o deixasse bastante confuso.

Assim que, ele percebera no ritual musical uma oportunidade, na qual buscaria condensar isso, que assumia se tratar de uma “tendência à dispersão”. As notas sacras de Bach, o romantismo de Chopin, o ímpeto de Mozart, e a genialidade de Beethoven haveriam de estimular essa sua predisposição à íntima reflexão, mas anntes das audiências, não calhando sua concentração de abandoná-lo, quando dela precisasse. A estratégia parecia ter dado certo, pois episódios semelhantes não mais se repetiram.

Tratou, portanto, de se deixar envolver o máximo que pode pela composição lírica de Ludwig, durante a viagem, deixando na realidade apenas seus reflexos mais elementares de direção.

Ao chegar na cidade, embora não soubesse o que dela esperar, Hans não se sentiu propriamente surpreso. Havia uma igreja, de arquitetura barroca, ao redor da qual uma praça, em que algumas pessoas de maior idade- cuja aparência remetia à colonização alemã- encontravam-se sentadas. Havia ainda uma ou duas mães, vigiando seus pequenos filhos, que se aprumavam atrás de um vendedor de algodão doce.

O cenário remeteu-o a muitas das comarcas que visitara no interior, levando-o estacionar o carro e procurar, ao redor, pelos logradouros públicos que, nesse tipo de cidade, geralmente se encontram estabelecidos nas proximidades da praça. Logo encontrou a prefeitura, uma delegacia, bem como outros órgãos públicos. Mas não conseguia vislumbrar o prédio da Justiça da cidade.

Aproximou-se, então, de um senhor, a quem questionou a respeito:

-Bom dia, senhor. Saberia me informar onde fica o Foro da cidade?
O homem, um senhor de barba espessa, aparentando uns 60 anos de idade, deteve-se, encarando-o por um momento. Então, disse-lhe:

-Buenas... o senhor doutor é novo por aqui? Não me lembro da tua cara...É o filho adevogado da dona Frederica, que tava pra vir dos estrangeiros?”

- Não, senhor... chamo-me Hans. Fui intimado para uma audiência nesta comarca, que será dentro de 10 minutos. Mas não sei onde fica o Foro daqui.

- Oh!- exclamou o velho, parecendo curioso- bem, o senhor sabe. Aqui em Presepópolis não é comum a gente termos a visita de gente de fora. Ainda mais de pessoas garbosa, com roupa de doutor...não tem muito adevogado aqui não. Eu só conheço um só, que é o doutor Calisto, que é filho da minha vizinha Rosa. Bom guri, esse dr. Calisto... ele qui me ajudou a me encostar, quando me deu uma labirintite. Eu até queria continuar, doutor, juro pro senhor, mas não dava não. Toda hora eu tava tonto! Ah!... o senhor precisa ir lá pra ver o juiz, né? E eu segurando o senhor aqui... o senhor me desculpa. Bem, tá vendo aquela ruela, pro lado ali da prefeitura, onde têm aquelas árvre?- o homem apontou para uma rua estreita, que ladeava a prefeitura pela direita- o senhor segue sempre ali por ela, dali a cinco ou seis quadra, tá o prédio das Justiça. Mas acho que nem abre agora por esses horários... o senhor tem certeza de que o juiz te chamou agora? O dr Calisto, esse, que saberia dizer pro senhor. Sabe, ele ajudou um amigo meu num processo e..”

-Muito obrigado- interrompeu-o Hans, que temia se atrasar para a audiência (o que não acontecia no seu dia a dia).

A rua ao lado da prefeitura era realmente estreita, e Hans decidiu que seguiria a pé até o foro, julgando que isso lhe faria economizar tempo.

Caminhou, durante duas ou três quadras, passando por casinhas simpáticas, que lhe levavam a crer estar em direção a uma parte mais residencial da cidade. Havia então alguns descampados, e Hans se preocupou, pois não via nada que pudesse lembrar um prédio da Justiça. A não ser uma consstrução, ao fundo, após dois terrenos baldios, para onde rumou, apostando todas suas fichas ( e já temendo estar no caminho errado).

Ao se aproximar, vislumbrou um prédio, sóbrio e antigo, onde se lia, em um pequeno Letreiro sobre a entrada, “ Justiça de Presepópolis”. As portas do prédio se encontravam abertas, embora, estranhamente, ele não tenha deparado com ninguém na entrada.

Pensou então que o guarda do prédio pudesse estar no banheiro, ou ocupado vigiando algum carro ( embora não tivesse vislumbrado qualquer carro no local). Não tinha tempo, porém, de procurá-lo e apresentar-se, de modo que, ao ler em uma pequena placa ao lado da escada “ Sala de audiências: segundo andar”, tratou logo de subir.

Havia então uma pequena porta, a única que viu no andar, e que se encontrava semiaberta. Hans olhou ainda antes no relógio, e viu que o ponteiro virava, naquele exato instante, para as 8 horas em ponto. Adentrou, decidido, na sala.

A cena com que se deparou surpreendeu-o ainda mais do que poderia imaginar.

Como em qualquer outra sala de audiências, havia uma mesa, em sentido de U, com cadeiras em cada uma das pontas. No entanto, não havia ninguém, nem nada no local. Absolutamente nada, além da mesa e das cadeiras. A não ser uma caixa, ao lado de um par de calçados, que se encontravam sobre a mesa, justamente em frente a onde Hans se sentaria, como advogado da parte autora.

Tomado de um ímpeto repentino, Hans aproximou-se dos objetos.

O par de calçados ele reconheceu como sendo uma bota Salomon, cuja numeração era, para seu espanto, exatamente a dele: 42. Lembrava-se bem daquele calçado, pois fora um sonho de consumo em sua adolescência (quando tinha por hábito caminhar muito) que ele, infelizmente, não pudera realizar.

Ao abrir a caixa, percebeu que havia três objetos: dois tíquetes, e um envelope. Olhou atentamente o primeiro tíquete. Tratava-se de uma passagem de avião, com destino previsto para Paris. Estava em seu nome. E o horário de embarque era às 7 horas da manhã do outro dia.

O outro bilhete, em francês, tratava-se de uma passagem de trem, com destino de Paris para Saint Jean Piet de Port, em um horário em que ele calculou ser aproximadamente logo após a aterrissagem do avião.

Decidiu então abrir o envelope, esperando entender alguma coisa em meio àquela situação surreal. Havia nele um bilhete, com breves dizeres, que ele apressou-se em ler.

“ Que bom que você atendeu ao meu chamado, meu caro Kel.
Essas duas passagens são para você chegar até Saint Jean Piet de Port. Caso você não saiba ( o que eu honestamente duvido, conhecendo-o como conheço), trata-se do início do Caminho de Santiago da Compostela.

Eu te espero ao fim dele, onde você entenderá tudo.

Com amor, Ana Boulos.”

Hans permaneceu, durante alguns instantes, inerte, olhando para o bilhete. Leu-o e releu-o. Pô-lo então no bolso, juntou os tíquetes e a bota na caixa, e saiu da sala.

A primeira coisa que fez, depois disso, foi descer e procurar por alguém no Fórum. Mas, para seu espanto, continuava tudo deserto. Ladeou o Foro pelos lados, foi para seus fundos: ninguém.

“ Só estou esperando o momento em que eu acorde disso tudo... que não seja no meio de uma audiência!” ele pensou.

Então passou próximo a uma lixeira, tendo decidido colocar todos aqueles objetos fora. Tinha-os como uma espécie de materialização de seu delírio.

Deteve-se, no entanto, em frente à lixeira. Decidiu levar a caixa, e pensar melhor a respeito- se é que isso seria possível- em casa.

Ao olhar para o relógio, percebeu que já eram 9h:20. Como no mesmo dia ainda tinha outras duas audiências marcadas, uma ainda às 11 da manhã, apressou-se em direção ao seu carro, pensando já em como seria difícil manter a concentração nas solenidades, diante de tudo o que o cercava naquela manhã tão atípica.

Ao fim daquele dia, Hans deitou-se e, como de praxe, preparou-se para uma infindável reflexão, antes de finalmente entregar-se à inconsciência. No entanto, antes mesmo que percebesse, estava já entregue à escuridão.

Acordou logo depois, com o chamado do despertador. Eram 6 horas da manhã.

Hans prostrou-se de costas para a cama, olhando para o alto, na posição em que costumava permanecer, todo dia, e refletir sobre estar dormindo e qcordado

Mas, dessa vez, sua reflexão desenhou-se em apenas um questionamento:

“ Que ópera ouvir em uma viagem até Paris? Hum... acho que as 4 Estações de Vivaldi seriam uma boa...”

Levantou-se logo e, sem saber exatamente como ou por quê, pegou a caixa e se pôs em direção ao aeroporto.
Cara, eu li tudo e achei bem maluca.
Também to com sono, apesar de achar que o cara ta sonhando.
 

Coffinator

Mil pontos, LOL!
Mensagens
63.058
Reações
182.356
Pontos
1.029
Meu Moto X Force está lento e drenando muita bateria, vou ter que fazer agora um Hard reset para ver se melhora a performance do aparelho! O ruim disso é que além de ter que reinstalar todos os app tenho que ir no caixa eletrônico do Banco do Brasil para liberar as transações financeiras do aplicativo do banco.

Enviado do meu Moto X Force usando Tapatalk
Android original?
 

METALMANIAC

Mil pontos, LOL!
Mensagens
5.110
Reações
4.668
Pontos
1.319
Dólar batendo 3,50... daqui a pouco terei que fazer um consórcio pra comprar um game... :karrepio
 

fbmoraes

Bam-bam-bam
Mensagens
456
Reações
1.008
Pontos
318
Hoje eu tive a segunda aula lá da oficina de escrita criativa. Atendento ao exercício proposto pelo professor, elaborei um pouco a premissa, que era

" Criar um argumento a partir de alguma da histórias pessoais que os colegas contaram aqui, com um " E se o sujeito tal...".

Segue o que seria o esboço de um primeiro capítulo. É meio longo, mas prometo que não acaba com a história das máquinas :klol

Se alguém ficar curioso ou se interessar, após ter tido a paciência de ter lido, avisa, que eu penso se continuo a história...

Hans K acordou com a sensação de que o despertador era como um capataz, que lhe arrastava para uma forca. Como em toda manhã, abrir os olhos sempre lhe causava imenso desconforto, e mesmo algum lamento, ainda que não soubesse precisar do que, exatamente, o recobrar da consciência o sequestrasse: Hans raramente lembrava seus sonhos.

O curioso, que sempre o colocava em estado de reflexão, ainda deitado na cama, é que também era muito difícil para ele adormecer. “ Se é tão maravilhoso esse descanso... por que, por que tenho tanta dificuldade em simplesmente entregar-me a ele?”.

Não haveria de ser mera ansiedade, pois, há tempos, aprendera a lidar com ela. Manter a cabeça no lugar, sem se deixar abalar por preocupações prévias, era uma exigência intransponível em sua atividade profissional. Como ele logo havia percebido, a advocacia geralmente reservava, aos incapazes de por os nervos no lugar, apenas dissabores.

Acabava por concluir se tratar de uma das manifestações do boicote que impunha a si próprio, uma característica sua, conforme dizia seu terapeuta. Ou, pensava, talvez fosse uma tentativa inconsciente de dar mais valor às suas experiências, outra necessidade que descobriu possuir, quando soube que, em relação às suas vivências, “tinha dificuldades em se permitir” – de acordo com seu médico ( cuja própria existência Hans só lembrava precisamente nesses momentos de reflexão, ainda na cama).

Naquela noite, contudo, havia sido particularmente difícil para Hans adormecer. Recebera, ainda à tardinha, uma intimação, para comparecimento em uma audiência, a ser realizada já no primeiro horário da manhã do outro dia, em um processo cuja origem, ainda que se esforçasse, não era capaz de lembrar.

É verdade que ele tinha dezenas, centenas, milhares de clientes. Não obstante tivesse dificuldade em se assumir um jurista apaixonado, propusera-se cultivar, ainda que por exaustiva repetição, afeição por sua profissão. Assim que, não tardara em ser profissionalmente reconhecido, mesmo ainda jovem- vivia, naquela oportunidade, os idos de seus 30 anos de idade.

Tal realidade profissional habituara Hans a um pragmatismo, antes para ele inédito, já que havia sido um adolescente um tanto desorganizado e disperso, bem como uma criança tida por seus pais como “ sonhadora”. De modo que, à ocasião, poderia jurar ser capaz de lembrar de todos os processos em que estivesse envolvido.

Mas uma audiência na comarca de “Presepópolis”- cidade cuja existência foi tomar conhecimento pela internet , representando a “sra. A. B.”, às 8 horas da manhã? Realmente não lembrava.

Tampouco a consulta ao endereço eletrônico do juízo serviu-lhe de muito, eis que, embora realmente houvesse o registro de processo sob aquele número, estando ele constituído como advogado, curiosamente, em relação ao assunto do processo e definição das partes, constava a existência de “ Segredo de Justiça”. Ademais, por se tratar de juízo do interior, não era possível precisar exatamente a matéria que seria discutida, embora ele presumisse ser algo relacionado ao direito empresarial, onde atuava majoritariamente.

Essas circunstâncias puseram Hans a refletir, ainda mais do que o habitual, madrugada a dentro, antes de, finalmente, pegar no sono.

Um piscar de olhos depois, restou-lhe acordar, com o indefectível aviso do despertador. O dia não havia ainda raiado, mas já era preciso rumar à Comarca interiorana onde, pessoalmente, haveria de recordar do que se tratava o processo.

Conquanto a perspectiva de simplesmente não lembrar de nada relacionado àquele caso pudesse lhe causar calafrios ( por se tratar de algo quase inédito em sua vida profissional), a vivência de inúmeras e bem sucedidas experiências na advocacia mantinha Hans confiante, a ponto de não se deixar desesperar. Assumiu,então, seu tradicional hábito, em ocasiões que antecediam audiências: pôs no rádio música clássica. Assim, foi acompanhado, durante toda a viagem, pela Nona Sinfonia de Beethoven.

A música nessas circunstâncias o ajudava a adentrar em um estado de espírito desconexo, em que ele deixava seu pensamento o guiar para o horizonte, sem mirar qualquer ponto em específico. Era como se fosse uma meditação, e Hans a percebera necessária porque, anos antes, ainda no início da carreira, havia tido algumas experiências não tão agradáveis.

Em meio a mais de uma audiência, o jovem advogado se vira, repentinamente, transportado para muito distante do local onde se encontrava. Somente quando a voz ao longe o chamava “ Alguma pergunta à testemunha? Doutor? DOUTOR HANS...”, ele era resgatado à realidade, não sem que a situação sempre o deixasse bastante confuso.

Assim que, ele percebera no ritual musical uma oportunidade, na qual buscaria condensar isso, que assumia se tratar de uma “tendência à dispersão”. As notas sacras de Bach, o romantismo de Chopin, o ímpeto de Mozart, e a genialidade de Beethoven haveriam de estimular essa sua predisposição à íntima reflexão, mas anntes das audiências, não calhando sua concentração de abandoná-lo, quando dela precisasse. A estratégia parecia ter dado certo, pois episódios semelhantes não mais se repetiram.

Tratou, portanto, de se deixar envolver o máximo que pode pela composição lírica de Ludwig, durante a viagem, deixando na realidade apenas seus reflexos mais elementares de direção.

Ao chegar na cidade, embora não soubesse o que dela esperar, Hans não se sentiu propriamente surpreso. Havia uma igreja, de arquitetura barroca, ao redor da qual uma praça, em que algumas pessoas de maior idade- cuja aparência remetia à colonização alemã- encontravam-se sentadas. Havia ainda uma ou duas mães, vigiando seus pequenos filhos, que se aprumavam atrás de um vendedor de algodão doce.

O cenário remeteu-o a muitas das comarcas que visitara no interior, levando-o estacionar o carro e procurar, ao redor, pelos logradouros públicos que, nesse tipo de cidade, geralmente se encontram estabelecidos nas proximidades da praça. Logo encontrou a prefeitura, uma delegacia, bem como outros órgãos públicos. Mas não conseguia vislumbrar o prédio da Justiça da cidade.

Aproximou-se, então, de um senhor, a quem questionou a respeito:

-Bom dia, senhor. Saberia me informar onde fica o Foro da cidade?
O homem, um senhor de barba espessa, aparentando uns 60 anos de idade, deteve-se, encarando-o por um momento. Então, disse-lhe:

-Buenas... o senhor doutor é novo por aqui? Não me lembro da tua cara...É o filho adevogado da dona Frederica, que tava pra vir dos estrangeiros?”

- Não, senhor... chamo-me Hans. Fui intimado para uma audiência nesta comarca, que será dentro de 10 minutos. Mas não sei onde fica o Foro daqui.

- Oh!- exclamou o velho, parecendo curioso- bem, o senhor sabe. Aqui em Presepópolis não é comum a gente termos a visita de gente de fora. Ainda mais de pessoas garbosa, com roupa de doutor...não tem muito adevogado aqui não. Eu só conheço um só, que é o doutor Calisto, que é filho da minha vizinha Rosa. Bom guri, esse dr. Calisto... ele qui me ajudou a me encostar, quando me deu uma labirintite. Eu até queria continuar, doutor, juro pro senhor, mas não dava não. Toda hora eu tava tonto! Ah!... o senhor precisa ir lá pra ver o juiz, né? E eu segurando o senhor aqui... o senhor me desculpa. Bem, tá vendo aquela ruela, pro lado ali da prefeitura, onde têm aquelas árvre?- o homem apontou para uma rua estreita, que ladeava a prefeitura pela direita- o senhor segue sempre ali por ela, dali a cinco ou seis quadra, tá o prédio das Justiça. Mas acho que nem abre agora por esses horários... o senhor tem certeza de que o juiz te chamou agora? O dr Calisto, esse, que saberia dizer pro senhor. Sabe, ele ajudou um amigo meu num processo e..”

-Muito obrigado- interrompeu-o Hans, que temia se atrasar para a audiência (o que não acontecia no seu dia a dia).

A rua ao lado da prefeitura era realmente estreita, e Hans decidiu que seguiria a pé até o foro, julgando que isso lhe faria economizar tempo.

Caminhou, durante duas ou três quadras, passando por casinhas simpáticas, que lhe levavam a crer estar em direção a uma parte mais residencial da cidade. Havia então alguns descampados, e Hans se preocupou, pois não via nada que pudesse lembrar um prédio da Justiça. A não ser uma consstrução, ao fundo, após dois terrenos baldios, para onde rumou, apostando todas suas fichas ( e já temendo estar no caminho errado).

Ao se aproximar, vislumbrou um prédio, sóbrio e antigo, onde se lia, em um pequeno Letreiro sobre a entrada, “ Justiça de Presepópolis”. As portas do prédio se encontravam abertas, embora, estranhamente, ele não tenha deparado com ninguém na entrada.

Pensou então que o guarda do prédio pudesse estar no banheiro, ou ocupado vigiando algum carro ( embora não tivesse vislumbrado qualquer carro no local). Não tinha tempo, porém, de procurá-lo e apresentar-se, de modo que, ao ler em uma pequena placa ao lado da escada “ Sala de audiências: segundo andar”, tratou logo de subir.

Havia então uma pequena porta, a única que viu no andar, e que se encontrava semiaberta. Hans olhou ainda antes no relógio, e viu que o ponteiro virava, naquele exato instante, para as 8 horas em ponto. Adentrou, decidido, na sala.

A cena com que se deparou surpreendeu-o ainda mais do que poderia imaginar.

Como em qualquer outra sala de audiências, havia uma mesa, em sentido de U, com cadeiras em cada uma das pontas. No entanto, não havia ninguém, nem nada no local. Absolutamente nada, além da mesa e das cadeiras. A não ser uma caixa, ao lado de um par de calçados, que se encontravam sobre a mesa, justamente em frente a onde Hans se sentaria, como advogado da parte autora.

Tomado de um ímpeto repentino, Hans aproximou-se dos objetos.

O par de calçados ele reconheceu como sendo uma bota Salomon, cuja numeração era, para seu espanto, exatamente a dele: 42. Lembrava-se bem daquele calçado, pois fora um sonho de consumo em sua adolescência (quando tinha por hábito caminhar muito) que ele, infelizmente, não pudera realizar.

Ao abrir a caixa, percebeu que havia três objetos: dois tíquetes, e um envelope. Olhou atentamente o primeiro tíquete. Tratava-se de uma passagem de avião, com destino previsto para Paris. Estava em seu nome. E o horário de embarque era às 7 horas da manhã do outro dia.

O outro bilhete, em francês, tratava-se de uma passagem de trem, com destino de Paris para Saint Jean Piet de Port, em um horário em que ele calculou ser aproximadamente logo após a aterrissagem do avião.

Decidiu então abrir o envelope, esperando entender alguma coisa em meio àquela situação surreal. Havia nele um bilhete, com breves dizeres, que ele apressou-se em ler.

“ Que bom que você atendeu ao meu chamado, meu caro Kel.
Essas duas passagens são para você chegar até Saint Jean Piet de Port. Caso você não saiba ( o que eu honestamente duvido, conhecendo-o como conheço), trata-se do início do Caminho de Santiago da Compostela.

Eu te espero ao fim dele, onde você entenderá tudo.

Com amor, Ana Boulos.”

Hans permaneceu, durante alguns instantes, inerte, olhando para o bilhete. Leu-o e releu-o. Pô-lo então no bolso, juntou os tíquetes e a bota na caixa, e saiu da sala.

A primeira coisa que fez, depois disso, foi descer e procurar por alguém no Fórum. Mas, para seu espanto, continuava tudo deserto. Ladeou o Foro pelos lados, foi para seus fundos: ninguém.

“ Só estou esperando o momento em que eu acorde disso tudo... que não seja no meio de uma audiência!” ele pensou.

Então passou próximo a uma lixeira, tendo decidido colocar todos aqueles objetos fora. Tinha-os como uma espécie de materialização de seu delírio.

Deteve-se, no entanto, em frente à lixeira. Decidiu levar a caixa, e pensar melhor a respeito- se é que isso seria possível- em casa.

Ao olhar para o relógio, percebeu que já eram 9h:20. Como no mesmo dia ainda tinha outras duas audiências marcadas, uma ainda às 11 da manhã, apressou-se em direção ao seu carro, pensando já em como seria difícil manter a concentração nas solenidades, diante de tudo o que o cercava naquela manhã tão atípica.

Ao fim daquele dia, Hans deitou-se e, como de praxe, preparou-se para uma infindável reflexão, antes de finalmente entregar-se à inconsciência. No entanto, antes mesmo que percebesse, estava já entregue à escuridão.

Acordou logo depois, com o chamado do despertador. Eram 6 horas da manhã.

Hans prostrou-se de costas para a cama, olhando para o alto, na posição em que costumava permanecer, todo dia, e refletir sobre estar dormindo e qcordado

Mas, dessa vez, sua reflexão desenhou-se em apenas um questionamento:

“ Que ópera ouvir em uma viagem até Paris? Hum... acho que as 4 Estações de Vivaldi seriam uma boa...”

Levantou-se logo e, sem saber exatamente como ou por quê, pegou a caixa e se pôs em direção ao aeroporto.
Porra, tu escreve bem demais. Parabéns cara.
 

Bug_Secular

Bam-bam-bam
Mensagens
3.357
Reações
4.789
Pontos
303
Hoje eu tive a segunda aula lá da oficina de escrita criativa. Atendento ao exercício proposto pelo professor, elaborei um pouco a premissa, que era

" Criar um argumento a partir de alguma da histórias pessoais que os colegas contaram aqui, com um " E se o sujeito tal...".

Segue o que seria o esboço de um primeiro capítulo. É meio longo, mas prometo que não acaba com a história das máquinas :klol

Se alguém ficar curioso ou se interessar, após ter tido a paciência de ter lido, avisa, que eu penso se continuo a história...

Hans K acordou com a sensação de que o despertador era como um capataz, que lhe arrastava para uma forca. Como em toda manhã, abrir os olhos sempre lhe causava imenso desconforto, e mesmo algum lamento, ainda que não soubesse precisar do que, exatamente, o recobrar da consciência o sequestrasse: Hans raramente lembrava seus sonhos.

O curioso, que sempre o colocava em estado de reflexão, ainda deitado na cama, é que também era muito difícil para ele adormecer. “ Se é tão maravilhoso esse descanso... por que, por que tenho tanta dificuldade em simplesmente entregar-me a ele?”.

Não haveria de ser mera ansiedade, pois, há tempos, aprendera a lidar com ela. Manter a cabeça no lugar, sem se deixar abalar por preocupações prévias, era uma exigência intransponível em sua atividade profissional. Como ele logo havia percebido, a advocacia geralmente reservava, aos incapazes de por os nervos no lugar, apenas dissabores.

Acabava por concluir se tratar de uma das manifestações do boicote que impunha a si próprio, uma característica sua, conforme dizia seu terapeuta. Ou, pensava, talvez fosse uma tentativa inconsciente de dar mais valor às suas experiências, outra necessidade que descobriu possuir, quando soube que, em relação às suas vivências, “tinha dificuldades em se permitir” – de acordo com seu médico ( cuja própria existência Hans só lembrava precisamente nesses momentos de reflexão, ainda na cama).

Naquela noite, contudo, havia sido particularmente difícil para Hans adormecer. Recebera, ainda à tardinha, uma intimação, para comparecimento em uma audiência, a ser realizada já no primeiro horário da manhã do outro dia, em um processo cuja origem, ainda que se esforçasse, não era capaz de lembrar.

É verdade que ele tinha dezenas, centenas, milhares de clientes. Não obstante tivesse dificuldade em se assumir um jurista apaixonado, propusera-se cultivar, ainda que por exaustiva repetição, afeição por sua profissão. Assim que, não tardara em ser profissionalmente reconhecido, mesmo ainda jovem- vivia, naquela oportunidade, os idos de seus 30 anos de idade.

Tal realidade profissional habituara Hans a um pragmatismo, antes para ele inédito, já que havia sido um adolescente um tanto desorganizado e disperso, bem como uma criança tida por seus pais como “ sonhadora”. De modo que, à ocasião, poderia jurar ser capaz de lembrar de todos os processos em que estivesse envolvido.

Mas uma audiência na comarca de “Presepópolis”- cidade cuja existência foi tomar conhecimento pela internet , representando a “sra. A. B.”, às 8 horas da manhã? Realmente não lembrava.

Tampouco a consulta ao endereço eletrônico do juízo serviu-lhe de muito, eis que, embora realmente houvesse o registro de processo sob aquele número, estando ele constituído como advogado, curiosamente, em relação ao assunto do processo e definição das partes, constava a existência de “ Segredo de Justiça”. Ademais, por se tratar de juízo do interior, não era possível precisar exatamente a matéria que seria discutida, embora ele presumisse ser algo relacionado ao direito empresarial, onde atuava majoritariamente.

Essas circunstâncias puseram Hans a refletir, ainda mais do que o habitual, madrugada a dentro, antes de, finalmente, pegar no sono.

Um piscar de olhos depois, restou-lhe acordar, com o indefectível aviso do despertador. O dia não havia ainda raiado, mas já era preciso rumar à Comarca interiorana onde, pessoalmente, haveria de recordar do que se tratava o processo.

Conquanto a perspectiva de simplesmente não lembrar de nada relacionado àquele caso pudesse lhe causar calafrios ( por se tratar de algo quase inédito em sua vida profissional), a vivência de inúmeras e bem sucedidas experiências na advocacia mantinha Hans confiante, a ponto de não se deixar desesperar. Assumiu,então, seu tradicional hábito, em ocasiões que antecediam audiências: pôs no rádio música clássica. Assim, foi acompanhado, durante toda a viagem, pela Nona Sinfonia de Beethoven.

A música nessas circunstâncias o ajudava a adentrar em um estado de espírito desconexo, em que ele deixava seu pensamento o guiar para o horizonte, sem mirar qualquer ponto em específico. Era como se fosse uma meditação, e Hans a percebera necessária porque, anos antes, ainda no início da carreira, havia tido algumas experiências não tão agradáveis.

Em meio a mais de uma audiência, o jovem advogado se vira, repentinamente, transportado para muito distante do local onde se encontrava. Somente quando a voz ao longe o chamava “ Alguma pergunta à testemunha? Doutor? DOUTOR HANS...”, ele era resgatado à realidade, não sem que a situação sempre o deixasse bastante confuso.

Assim que, ele percebera no ritual musical uma oportunidade, na qual buscaria condensar isso, que assumia se tratar de uma “tendência à dispersão”. As notas sacras de Bach, o romantismo de Chopin, o ímpeto de Mozart, e a genialidade de Beethoven haveriam de estimular essa sua predisposição à íntima reflexão, mas anntes das audiências, não calhando sua concentração de abandoná-lo, quando dela precisasse. A estratégia parecia ter dado certo, pois episódios semelhantes não mais se repetiram.

Tratou, portanto, de se deixar envolver o máximo que pode pela composição lírica de Ludwig, durante a viagem, deixando na realidade apenas seus reflexos mais elementares de direção.

Ao chegar na cidade, embora não soubesse o que dela esperar, Hans não se sentiu propriamente surpreso. Havia uma igreja, de arquitetura barroca, ao redor da qual uma praça, em que algumas pessoas de maior idade- cuja aparência remetia à colonização alemã- encontravam-se sentadas. Havia ainda uma ou duas mães, vigiando seus pequenos filhos, que se aprumavam atrás de um vendedor de algodão doce.

O cenário remeteu-o a muitas das comarcas que visitara no interior, levando-o estacionar o carro e procurar, ao redor, pelos logradouros públicos que, nesse tipo de cidade, geralmente se encontram estabelecidos nas proximidades da praça. Logo encontrou a prefeitura, uma delegacia, bem como outros órgãos públicos. Mas não conseguia vislumbrar o prédio da Justiça da cidade.

Aproximou-se, então, de um senhor, a quem questionou a respeito:

-Bom dia, senhor. Saberia me informar onde fica o Foro da cidade?
O homem, um senhor de barba espessa, aparentando uns 60 anos de idade, deteve-se, encarando-o por um momento. Então, disse-lhe:

-Buenas... o senhor doutor é novo por aqui? Não me lembro da tua cara...É o filho adevogado da dona Frederica, que tava pra vir dos estrangeiros?”

- Não, senhor... chamo-me Hans. Fui intimado para uma audiência nesta comarca, que será dentro de 10 minutos. Mas não sei onde fica o Foro daqui.

- Oh!- exclamou o velho, parecendo curioso- bem, o senhor sabe. Aqui em Presepópolis não é comum a gente termos a visita de gente de fora. Ainda mais de pessoas garbosa, com roupa de doutor...não tem muito adevogado aqui não. Eu só conheço um só, que é o doutor Calisto, que é filho da minha vizinha Rosa. Bom guri, esse dr. Calisto... ele qui me ajudou a me encostar, quando me deu uma labirintite. Eu até queria continuar, doutor, juro pro senhor, mas não dava não. Toda hora eu tava tonto! Ah!... o senhor precisa ir lá pra ver o juiz, né? E eu segurando o senhor aqui... o senhor me desculpa. Bem, tá vendo aquela ruela, pro lado ali da prefeitura, onde têm aquelas árvre?- o homem apontou para uma rua estreita, que ladeava a prefeitura pela direita- o senhor segue sempre ali por ela, dali a cinco ou seis quadra, tá o prédio das Justiça. Mas acho que nem abre agora por esses horários... o senhor tem certeza de que o juiz te chamou agora? O dr Calisto, esse, que saberia dizer pro senhor. Sabe, ele ajudou um amigo meu num processo e..”

-Muito obrigado- interrompeu-o Hans, que temia se atrasar para a audiência (o que não acontecia no seu dia a dia).

A rua ao lado da prefeitura era realmente estreita, e Hans decidiu que seguiria a pé até o foro, julgando que isso lhe faria economizar tempo.

Caminhou, durante duas ou três quadras, passando por casinhas simpáticas, que lhe levavam a crer estar em direção a uma parte mais residencial da cidade. Havia então alguns descampados, e Hans se preocupou, pois não via nada que pudesse lembrar um prédio da Justiça. A não ser uma consstrução, ao fundo, após dois terrenos baldios, para onde rumou, apostando todas suas fichas ( e já temendo estar no caminho errado).

Ao se aproximar, vislumbrou um prédio, sóbrio e antigo, onde se lia, em um pequeno Letreiro sobre a entrada, “ Justiça de Presepópolis”. As portas do prédio se encontravam abertas, embora, estranhamente, ele não tenha deparado com ninguém na entrada.

Pensou então que o guarda do prédio pudesse estar no banheiro, ou ocupado vigiando algum carro ( embora não tivesse vislumbrado qualquer carro no local). Não tinha tempo, porém, de procurá-lo e apresentar-se, de modo que, ao ler em uma pequena placa ao lado da escada “ Sala de audiências: segundo andar”, tratou logo de subir.

Havia então uma pequena porta, a única que viu no andar, e que se encontrava semiaberta. Hans olhou ainda antes no relógio, e viu que o ponteiro virava, naquele exato instante, para as 8 horas em ponto. Adentrou, decidido, na sala.

A cena com que se deparou surpreendeu-o ainda mais do que poderia imaginar.

Como em qualquer outra sala de audiências, havia uma mesa, em sentido de U, com cadeiras em cada uma das pontas. No entanto, não havia ninguém, nem nada no local. Absolutamente nada, além da mesa e das cadeiras. A não ser uma caixa, ao lado de um par de calçados, que se encontravam sobre a mesa, justamente em frente a onde Hans se sentaria, como advogado da parte autora.

Tomado de um ímpeto repentino, Hans aproximou-se dos objetos.

O par de calçados ele reconheceu como sendo uma bota Salomon, cuja numeração era, para seu espanto, exatamente a dele: 42. Lembrava-se bem daquele calçado, pois fora um sonho de consumo em sua adolescência (quando tinha por hábito caminhar muito) que ele, infelizmente, não pudera realizar.

Ao abrir a caixa, percebeu que havia três objetos: dois tíquetes, e um envelope. Olhou atentamente o primeiro tíquete. Tratava-se de uma passagem de avião, com destino previsto para Paris. Estava em seu nome. E o horário de embarque era às 7 horas da manhã do outro dia.

O outro bilhete, em francês, tratava-se de uma passagem de trem, com destino de Paris para Saint Jean Piet de Port, em um horário em que ele calculou ser aproximadamente logo após a aterrissagem do avião.

Decidiu então abrir o envelope, esperando entender alguma coisa em meio àquela situação surreal. Havia nele um bilhete, com breves dizeres, que ele apressou-se em ler.

“ Que bom que você atendeu ao meu chamado, meu caro Kel.
Essas duas passagens são para você chegar até Saint Jean Piet de Port. Caso você não saiba ( o que eu honestamente duvido, conhecendo-o como conheço), trata-se do início do Caminho de Santiago da Compostela.

Eu te espero ao fim dele, onde você entenderá tudo.

Com amor, Ana Boulos.”

Hans permaneceu, durante alguns instantes, inerte, olhando para o bilhete. Leu-o e releu-o. Pô-lo então no bolso, juntou os tíquetes e a bota na caixa, e saiu da sala.

A primeira coisa que fez, depois disso, foi descer e procurar por alguém no Fórum. Mas, para seu espanto, continuava tudo deserto. Ladeou o Foro pelos lados, foi para seus fundos: ninguém.

“ Só estou esperando o momento em que eu acorde disso tudo... que não seja no meio de uma audiência!” ele pensou.

Então passou próximo a uma lixeira, tendo decidido colocar todos aqueles objetos fora. Tinha-os como uma espécie de materialização de seu delírio.

Deteve-se, no entanto, em frente à lixeira. Decidiu levar a caixa, e pensar melhor a respeito- se é que isso seria possível- em casa.

Ao olhar para o relógio, percebeu que já eram 9h:20. Como no mesmo dia ainda tinha outras duas audiências marcadas, uma ainda às 11 da manhã, apressou-se em direção ao seu carro, pensando já em como seria difícil manter a concentração nas solenidades, diante de tudo o que o cercava naquela manhã tão atípica.

Ao fim daquele dia, Hans deitou-se e, como de praxe, preparou-se para uma infindável reflexão, antes de finalmente entregar-se à inconsciência. No entanto, antes mesmo que percebesse, estava já entregue à escuridão.

Acordou logo depois, com o chamado do despertador. Eram 6 horas da manhã.

Hans prostrou-se de costas para a cama, olhando para o alto, na posição em que costumava permanecer, todo dia, e refletir sobre estar dormindo e qcordado

Mas, dessa vez, sua reflexão desenhou-se em apenas um questionamento:

“ Que ópera ouvir em uma viagem até Paris? Hum... acho que as 4 Estações de Vivaldi seriam uma boa...”

Levantou-se logo e, sem saber exatamente como ou por quê, pegou a caixa e se pôs em direção ao aeroporto.
Vou ler seus textos, ver como você escreve, e treinar pra redação. Tem 3 anos que não saio dos 720 pts na redação do Enem. :/

Você escreve bem pra caramba!
 

Shikamaru Nara

Bam-bam-bam
Mensagens
4.234
Reações
10.798
Pontos
453
Mais uma vez cobrando aquele "amigo" que me deve grana, o interessante que fica só enrolando e haja paciência em. Pelo jeito vou penhorar o smartphone dele pra compensar [emoji23][emoji23][emoji23]

Enviado de meu Moto E (4) usando o Tapatalk
 

Lannister da Silva

Supra-sumo
Mensagens
438
Reações
1.438
Pontos
158
Acho que não... Mas o jeito que eu falei deu para entender outra coisa?
Vou dar minha opinião, afinal é a única que posso dar...
Achei um pouco ofensivo, foi como se vc tivesse descartado qualquer possibilidade de ficar com ela, como se ela estivesse bem abaixo do seu nível.
Mas, existem N fatores que podem interferir nessa interpretação, o seu tom de voz, o clima que estava na situação, ela pode não ter se sentido ofendida nem nada, mas como ela não negou, vc afirmou que ela disse nada com nada, e vc foi mais direto.
Mas enfim, se vc acha que não foi nada demais talvez não tenha sido mesmo. E eu talvez esteja rendendo a história e ela não tem rendimento nenhum.
Eu gosto de usar ironia nesses casos, tipo " sim, estamos namorando, vamos nos casar semana que vem, isso se o bebê não nascer antes..." Fica uma coisa mais leve sabe.
Porém lembrei de uma situação que ocorreu no ensino médio. Eu e uns amigos estávamos na entrada da sala esperando a prof chegar. Quando ela chegou fez um comentário sobre eu e meu amigo. E eu dei um resposta parecida com a sua, tipo um "Deus me livre, desse menino" ele ficou ofendido, mesmo que não existisse possibilidade nenhuma de namoro, tanto da minha parte quanto da dele.
Enfim tire suas próprias conclusões.
 

mlooborte

Mil pontos, LOL!
Mensagens
8.066
Reações
11.550
Pontos
1.024
Quando terminei eu ainda conversava com a ex pelo whatsapp, até que no dia 01/01/2018 eu parei, nunca mais chamei. Ela me deletou do face e eu aproveitei e cortei qualquer vínculo que eu tenho com ela. A única coisa que me resta é uma camisa social (eu gosto dessa camisa, não jogo fora nem fodendo kk) e um travesseiro com uns dizeres bem cafona que vou jogar.
A minha chama pra falar alguma coisa as vezes, mas também evito contato. Não faço questão de cortar contato total porque somos primos, não adianta nada...uma hora ou outra pode acontecer da gente se encontrar por acaso.

Também não joguei as coisas dela fora. Tem coisas de relacionamentos passados que eu gostaria de ter guardado (gosto de guardar pedaços da minha história, tenho até histórico de conversas de MSN gravadas em CD's :klol).

Eu posso querer olhar pra trás daqui uns vinte anos e ver como as coisas eram. Sei lá.
 

Megabyte 2.0

Bam-bam-bam
Mensagens
3.481
Reações
5.334
Pontos
303
Vou dar minha opinião, afinal é a única que posso dar...
Achei um pouco ofensivo, foi como se vc tivesse descartado qualquer possibilidade de ficar com ela, como se ela estivesse bem abaixo do seu nível.
Mas, existem N fatores que podem interferir nessa interpretação, o seu tom de voz, o clima que estava na situação, ela pode não ter se sentido ofendida nem nada, mas como ela não negou, vc afirmou que ela disse nada com nada, e vc foi mais direto.
Mas enfim, se vc acha que não foi nada demais talvez não tenha sido mesmo. E eu talvez esteja rendendo a história e ela não tem rendimento nenhum.
Eu gosto de usar ironia nesses casos, tipo " sim, estamos namorando, vamos nos casar semana que vem, isso se o bebê não nascer antes..." Fica uma coisa mais leve sabe.
Porém lembrei de uma situação que ocorreu no ensino médio. Eu e uns amigos estávamos na entrada da sala esperando a prof chegar. Quando ela chegou fez um comentário sobre eu e meu amigo. E eu dei um resposta parecida com a sua, tipo um "Deus me livre, desse menino" ele ficou ofendido, mesmo que não existisse possibilidade nenhuma de namoro, tanto da minha parte quanto da dele.
Enfim tire suas próprias conclusões.
Eu só respondi assim porque ela responde geralmente da mesma forma. Eu falei de um jeito irônico, mas pela a minha voz soou como eu tivesse falando sério . Eu só respondi dessa maneira por conta que ela responde também, caso contrário teria falado de um jeito mais "amigável" kkk. Mas no fundo eu acho que ela tem algo contra mim, logo eu que sou tão legal. (eu acho)
 

Mr Magoo

Supra-sumo
Mensagens
530
Reações
1.279
Pontos
183
Eu só respondi assim porque ela responde geralmente da mesma forma. Eu falei de um jeito irônico, mas pela a minha voz soou como eu tivesse falando sério . Eu só respondi dessa maneira por conta que ela responde também, caso contrário teria falado de um jeito mais "amigável" kkk. Mas no fundo eu acho que ela tem algo contra mim, logo eu que sou tão legal. (eu acho)

Se vc não tivesse interesse não teria postado isso aqui, concorda?​
 

Megabyte 2.0

Bam-bam-bam
Mensagens
3.481
Reações
5.334
Pontos
303

Se vc não tivesse interesse não teria postado isso aqui, concorda?​
Não, acho que não tenho interesse não. Ela é um pouco diferente de mim: tem umas idéias contrárias às minhas. Sem falar que nem falo muito com ela, só quando estamos em grupo e olhe lá. É que eu queria saber se eu respondi de um jeito mal, e se era o suficiente.
 

Derrotado

Larva
Mensagens
9
Reações
15
Pontos
3
Tenho 0 amigos, feio que dói e atualmente sem nenhum rumo a seguir. Minha motivação pra continuar vivo é um sonho onde arranjo um emprego moribundo e me contento comprando meus bonequinhos de anime.

A mentalidade auto-destrutiva também não ajuda, eu tinha 2k guardados do meu antigo emprego de aprendiz sofrido e estava tão cansado da vida que simplesmente desci do ônibus na primeira Casas Bahia que vi e comprei um daqueles pcs horríveis All-in-one por puro impulso, nem me importei com especificações, só pra poder jogar um lol ( um pc tão ruim que roda lol a 10 fps).
 
Topo Fundo