- Mensagens
- 12.618
- Reações
- 33.101
- Pontos
- 1.048
Plagiando sem vergonha nosso amigo @Grose e sua excelente série de tópicos, me inspirei pra fazer um nos mesmos moldes, só que falando de PC. Então, como era ter um PC nos anos 90 e início dos anos 2000?
Primeiramente, era muito complicado e caro. A chamada Reserva de Mercado estava terminada, inflação a 2000% ao ano, moeda fraca e tudo de informática era vendido em dólares americanos. Não existia internet, linhas telefônicas eram caras e consideradas bens e poucas empresas vendiam PCs prontos, entre elas IBM, Itautec e Compaq.
Minha primeira “máquina” foi um 386 SX 25 mhz (giga nem se cogitava), com incríveis e insuperáveis 2 Mb de RAM, a mobo tinha co-processador matemático, vídeo que veio foi EGA (já explico mais abaixo que padrão é esse) e o resto era o de praxe, torre mini AT, drive de 5 ¼”, drive de 3,5” teclado e mouse. Não lembro quanto de HDD tinha, mas se era 80Mb era muito. Meu pai na época comprou esse PC de um amigo dele, claro ele não sabia nada de PC (nem eu) e como eu tava querendo um PC meu pai veio na boa fazer uma surpresa. Fiquei bem feliz. Lembro até hoje o primeiro jogo que joguei em um PC: Prince of Persa, num 286 com monitor de fósforo verde, CGA num vizinho amigo meu. Então vamos as primeiras explicações: Que padrões de vídeos são esses CGA e EGA?
Bom, CGA (Color Graphics Adapter) foi o primeiro padrão de vídeo colorido pro IBM PC. Tinha uma paleta de 16 cores sendo 04 exibidas simultaneamente. Como era muito caro na época um monitor CGA colorido, se usava os chamados Monitores de Tubo de Fósforo, que podia ser verde, âmbar ou branco. A primeira vez que joguei o Prince of Persia foi assim:
Bom, o meu PC veio com um padrão de vídeo superior ao CGA, o EGA (Enhanced Graphics Adapter) sendo esse padrão o segundo lançado pros IBM PCs da vida. A EGA permitia exibir 16 cores simultâneas das 64 disponíveis da paleta. Os jogos e os monitores eram assim:
Claro que meu monitor não era da IBM. Aliás nunca soube que marca era. Era parecido com o da foto acima, porém naquela época filme de máquina fotográfica eram caros e a revelação mais ainda, então não tenho nenhuma foto desse monitor. Bom, pra quem estava acostumado com o MSX, beleza né? Só que na época que meu pai comprou já estava por aí o padrão VGA que evoluiu para o quê usamos hoje em dia.
O primeiro upgrade.
Dou 1 centavo de Real pra descobrirem o que foi. Quem respondeu a placa de vídeo + monitor, acertou. O pai desse meu amigo queria esticar a vida do 286 dele e o padrão VGA só a a partir do 386 pra cima (que já era padrão AT). O 286 ainda tinha os pés no padrão XT e só aceitava no máximo EGA. Como EGA já estava em desuso no início de 90 (estou sempre falando a nível de Brasil, beleza?) já não se achava mais placas e principalmente monitores EGA. Tanto os monitores e as placas só funcionam com seus respectivos modelos, não dá pra usar um monitor CGA numa placa EGA pois os cabos e os sinais são diferentes. Então que esse meu vizinho fez? Um dia ele me levou junto com o filho dele (meu amigo) numa loja de informática e fui apresentado ao VGA.
Pra fazer o upgrade eu precisaria de duas coisas: da placa VGA e do monitor VGA. Conversei com meu pai, ele não podia gastar a diferença entre o que eu iria vender e o que eu iria comprar, mas seu eu esperasse dava pra fazer. Então vendi meu kit de video e fiquei com o PC encostado alguns meses.
E chegou o grande dia. Como a inflação comia muito o poder de compra naquela época, pro meu pai gastar o mínimo acabei comprando: Placa de Vídeo Trident ISA 512Kb de RAM + Monitor Sansung Syncmaster 14” (naquela época a Sansung não era nada e seus monitores eram muito baratos). A Trident era que nem essa daqui.
A primeira coisa que saltou aos olhos foi nos jogos. Que diferença de imagens; mais resolução e cores brilhantes. Eu ia a loucura. Prince of Persia virou outro jogo; Castlevania (sim, existe o primeiro Castlevania de NES pro DOS), Sim City, Indiana Jones, Stunts e tantos outros mudaram da água pro vinho.
A Fase Dourada.
Adivinha quem chegou na área? Os Kits Multimídia. Minha primeira decepção. Meu PC era fraco demais pra colocar um kit multimídia. E agora? Vamos pro segundo upgrade.
O Segundo Upgrade.
A essa altura eu já estava bem mais familiarizado com a plataforma, já haviam se passados dois anos eu acho. Esse upgrade foi um pouco maior. Sai a placa mãe + processador + memórias + HDD + Placa de Vídeo e entra no lugar: Uma nova MOBO, um processador 486 DX2 66mhz, um pente de 4Mb de RAM das novíssimas memórias de 72pinos (EDO), um HDD maior (de 512mb eu acho) e uma nova placa de vídeo Trident, com 1Mb de RAM. Porém o som da vida ainda continuava na PC speaker, porém o desempenho aumentou bastante e eu já conseguia rodar DOOM e outros jogos mais pesados de forma satisfatória!!! Levou algum tempo, mas consegui comprar meu tão sonhado KIT da Creative Labs: Drive de CD-ROM de 2x, placa Sound Blaster 16, caixinhas amplificadas e microfone (que tenho até hoje) e uma penca de jogos e software.
As caixinhas de som e o microfone do meu primeiro kit
Meu amigo jogando NASCAR Racing na excelência! Detalhe da foto: O gabinete, os drivers de disquetes, teclado, mouse e o monitor da Sansung do primeiro upgrade do 386
Os kits multimídias fizeram tanto sucesso na época, que eu posso afirmar com certa certeza que provavelmente 70% dos softwares originais que nós tínhamos no Brasil naquela época vieram nesses kits. Uma das poucas distribuidoras nacionais de software originais era a Brasoft, que ficava em SP. Junto com o sucesso e a popularização dos kits multimídia, nasceram publicações especificas, entre as quais eu vou destacar aqui somente a minha preferida que era a Computer & Games.
Nossa. Como eu lí essas revistas! Graças a ela terminei meus primeiros jogos point and click, pois na época meu inglês não era bom. Gostava de tudo nessa revista: das reportagens, das seções de cartas, dos detonados, das matérias inclusive das propagandas! Infelizmente com o tempo ela decaiu de qualidade e acabou, junto com um monte de outras revistas. Mas foram bons tempos.
Consegui nessa época também comprar alguns softwares originais. Alguns importados aproveitando viagens de parentes e outros aqui no Brasil, pela Brasoft ou outras distribuidoras. Vou mostrar alguns que tenho aqui e que tive naquela época:
Esse 486 chegou a sofrer outros upgrades. Aumento de memória de 4mb pra 8mb, depois de 8mb pra 16mb. No vídeo troquei a Trident pra outra de 2mb e depois pra outra de 4mb de memória. Também upei o drive de CD pra um de 4x e depois um de 8x. Por último, foi trocado o processador por um da AMD 586 de 133mhz. Era o mesmo soquete do 486 e tinha um desempenho similar (um pouco inferior) aos novos processadores Pentium da Intel. As demais peças continuaram as mesmas.
Fim de uma era.
Com a chegada dos Pentium, chegou também a putaria da Intel de toda hora mudar os sockets do processador. Os upgrades que se seguiram foram substituições completas praticamente e cada vez mais longas. Desse 386 que virou um 586 no final da sua vida, pulei pra um Pentium II 333mhz. Como agora era basicamente trocar a CPU inteira a cada upgrade, fui protelando o máximo que conseguia, tanto que meu PC após o Pentium II foi o Pentium D 3.0 Ghz e depois o meu atual, o Core I7 4790K.
Além de várias gerações de PC, acompanhei gerações de Sistemas Operacionais da Microsoft. Comecei com DOS 5.0 e Windows 3.1 no meu 386. No 486 foi a vez do DOS 6.22 e do Windows 3.11. O 486 ainda viu o Windows 95 e o 586 rodou o Windows 98. No Pentium II além do Windows 98 passaram o Millenium Edition e o Windows 2000. O Pentium D já nasceu com Windows XP, conheceu o Vista e teve o gostinho do 7 antes de ser aposentado. Minha máquina atual conheceu o Windows 7, 8 e está atualmente no Windows 10.
Muitas tecnologias nasceram e morreram nesse tempo. Com o fim do DOS junto com ele foi embora o DOS 4GW que era responsável pela magia dos gráficos na tela. Com o nascimento do Windows 95, surgiram o Shockwave e o Quick Time pra dar aquela turbinada nas CGs dos jogos. Junto com o Windows XP nasceu o DirectX que perdura até hoje.
Quem viveu essa era dos anos 90 / 2000 viveu a era dourada dos computadores, assim como a era 16bits foi a era dourada dos videogames. Espero que gostem desse artigo (longo) e que compartilhem suas experiências.
Falow!
Primeiramente, era muito complicado e caro. A chamada Reserva de Mercado estava terminada, inflação a 2000% ao ano, moeda fraca e tudo de informática era vendido em dólares americanos. Não existia internet, linhas telefônicas eram caras e consideradas bens e poucas empresas vendiam PCs prontos, entre elas IBM, Itautec e Compaq.
Minha primeira “máquina” foi um 386 SX 25 mhz (giga nem se cogitava), com incríveis e insuperáveis 2 Mb de RAM, a mobo tinha co-processador matemático, vídeo que veio foi EGA (já explico mais abaixo que padrão é esse) e o resto era o de praxe, torre mini AT, drive de 5 ¼”, drive de 3,5” teclado e mouse. Não lembro quanto de HDD tinha, mas se era 80Mb era muito. Meu pai na época comprou esse PC de um amigo dele, claro ele não sabia nada de PC (nem eu) e como eu tava querendo um PC meu pai veio na boa fazer uma surpresa. Fiquei bem feliz. Lembro até hoje o primeiro jogo que joguei em um PC: Prince of Persa, num 286 com monitor de fósforo verde, CGA num vizinho amigo meu. Então vamos as primeiras explicações: Que padrões de vídeos são esses CGA e EGA?
Bom, CGA (Color Graphics Adapter) foi o primeiro padrão de vídeo colorido pro IBM PC. Tinha uma paleta de 16 cores sendo 04 exibidas simultaneamente. Como era muito caro na época um monitor CGA colorido, se usava os chamados Monitores de Tubo de Fósforo, que podia ser verde, âmbar ou branco. A primeira vez que joguei o Prince of Persia foi assim:
Bom, o meu PC veio com um padrão de vídeo superior ao CGA, o EGA (Enhanced Graphics Adapter) sendo esse padrão o segundo lançado pros IBM PCs da vida. A EGA permitia exibir 16 cores simultâneas das 64 disponíveis da paleta. Os jogos e os monitores eram assim:
Claro que meu monitor não era da IBM. Aliás nunca soube que marca era. Era parecido com o da foto acima, porém naquela época filme de máquina fotográfica eram caros e a revelação mais ainda, então não tenho nenhuma foto desse monitor. Bom, pra quem estava acostumado com o MSX, beleza né? Só que na época que meu pai comprou já estava por aí o padrão VGA que evoluiu para o quê usamos hoje em dia.
O primeiro upgrade.
Dou 1 centavo de Real pra descobrirem o que foi. Quem respondeu a placa de vídeo + monitor, acertou. O pai desse meu amigo queria esticar a vida do 286 dele e o padrão VGA só a a partir do 386 pra cima (que já era padrão AT). O 286 ainda tinha os pés no padrão XT e só aceitava no máximo EGA. Como EGA já estava em desuso no início de 90 (estou sempre falando a nível de Brasil, beleza?) já não se achava mais placas e principalmente monitores EGA. Tanto os monitores e as placas só funcionam com seus respectivos modelos, não dá pra usar um monitor CGA numa placa EGA pois os cabos e os sinais são diferentes. Então que esse meu vizinho fez? Um dia ele me levou junto com o filho dele (meu amigo) numa loja de informática e fui apresentado ao VGA.
Pra fazer o upgrade eu precisaria de duas coisas: da placa VGA e do monitor VGA. Conversei com meu pai, ele não podia gastar a diferença entre o que eu iria vender e o que eu iria comprar, mas seu eu esperasse dava pra fazer. Então vendi meu kit de video e fiquei com o PC encostado alguns meses.
E chegou o grande dia. Como a inflação comia muito o poder de compra naquela época, pro meu pai gastar o mínimo acabei comprando: Placa de Vídeo Trident ISA 512Kb de RAM + Monitor Sansung Syncmaster 14” (naquela época a Sansung não era nada e seus monitores eram muito baratos). A Trident era que nem essa daqui.
A primeira coisa que saltou aos olhos foi nos jogos. Que diferença de imagens; mais resolução e cores brilhantes. Eu ia a loucura. Prince of Persia virou outro jogo; Castlevania (sim, existe o primeiro Castlevania de NES pro DOS), Sim City, Indiana Jones, Stunts e tantos outros mudaram da água pro vinho.
A Fase Dourada.
Adivinha quem chegou na área? Os Kits Multimídia. Minha primeira decepção. Meu PC era fraco demais pra colocar um kit multimídia. E agora? Vamos pro segundo upgrade.
O Segundo Upgrade.
A essa altura eu já estava bem mais familiarizado com a plataforma, já haviam se passados dois anos eu acho. Esse upgrade foi um pouco maior. Sai a placa mãe + processador + memórias + HDD + Placa de Vídeo e entra no lugar: Uma nova MOBO, um processador 486 DX2 66mhz, um pente de 4Mb de RAM das novíssimas memórias de 72pinos (EDO), um HDD maior (de 512mb eu acho) e uma nova placa de vídeo Trident, com 1Mb de RAM. Porém o som da vida ainda continuava na PC speaker, porém o desempenho aumentou bastante e eu já conseguia rodar DOOM e outros jogos mais pesados de forma satisfatória!!! Levou algum tempo, mas consegui comprar meu tão sonhado KIT da Creative Labs: Drive de CD-ROM de 2x, placa Sound Blaster 16, caixinhas amplificadas e microfone (que tenho até hoje) e uma penca de jogos e software.
As caixinhas de som e o microfone do meu primeiro kit
Meu amigo jogando NASCAR Racing na excelência! Detalhe da foto: O gabinete, os drivers de disquetes, teclado, mouse e o monitor da Sansung do primeiro upgrade do 386
Os kits multimídias fizeram tanto sucesso na época, que eu posso afirmar com certa certeza que provavelmente 70% dos softwares originais que nós tínhamos no Brasil naquela época vieram nesses kits. Uma das poucas distribuidoras nacionais de software originais era a Brasoft, que ficava em SP. Junto com o sucesso e a popularização dos kits multimídia, nasceram publicações especificas, entre as quais eu vou destacar aqui somente a minha preferida que era a Computer & Games.
Nossa. Como eu lí essas revistas! Graças a ela terminei meus primeiros jogos point and click, pois na época meu inglês não era bom. Gostava de tudo nessa revista: das reportagens, das seções de cartas, dos detonados, das matérias inclusive das propagandas! Infelizmente com o tempo ela decaiu de qualidade e acabou, junto com um monte de outras revistas. Mas foram bons tempos.
Consegui nessa época também comprar alguns softwares originais. Alguns importados aproveitando viagens de parentes e outros aqui no Brasil, pela Brasoft ou outras distribuidoras. Vou mostrar alguns que tenho aqui e que tive naquela época:
Esse 486 chegou a sofrer outros upgrades. Aumento de memória de 4mb pra 8mb, depois de 8mb pra 16mb. No vídeo troquei a Trident pra outra de 2mb e depois pra outra de 4mb de memória. Também upei o drive de CD pra um de 4x e depois um de 8x. Por último, foi trocado o processador por um da AMD 586 de 133mhz. Era o mesmo soquete do 486 e tinha um desempenho similar (um pouco inferior) aos novos processadores Pentium da Intel. As demais peças continuaram as mesmas.
Fim de uma era.
Com a chegada dos Pentium, chegou também a putaria da Intel de toda hora mudar os sockets do processador. Os upgrades que se seguiram foram substituições completas praticamente e cada vez mais longas. Desse 386 que virou um 586 no final da sua vida, pulei pra um Pentium II 333mhz. Como agora era basicamente trocar a CPU inteira a cada upgrade, fui protelando o máximo que conseguia, tanto que meu PC após o Pentium II foi o Pentium D 3.0 Ghz e depois o meu atual, o Core I7 4790K.
Além de várias gerações de PC, acompanhei gerações de Sistemas Operacionais da Microsoft. Comecei com DOS 5.0 e Windows 3.1 no meu 386. No 486 foi a vez do DOS 6.22 e do Windows 3.11. O 486 ainda viu o Windows 95 e o 586 rodou o Windows 98. No Pentium II além do Windows 98 passaram o Millenium Edition e o Windows 2000. O Pentium D já nasceu com Windows XP, conheceu o Vista e teve o gostinho do 7 antes de ser aposentado. Minha máquina atual conheceu o Windows 7, 8 e está atualmente no Windows 10.
Muitas tecnologias nasceram e morreram nesse tempo. Com o fim do DOS junto com ele foi embora o DOS 4GW que era responsável pela magia dos gráficos na tela. Com o nascimento do Windows 95, surgiram o Shockwave e o Quick Time pra dar aquela turbinada nas CGs dos jogos. Junto com o Windows XP nasceu o DirectX que perdura até hoje.
Quem viveu essa era dos anos 90 / 2000 viveu a era dourada dos computadores, assim como a era 16bits foi a era dourada dos videogames. Espero que gostem desse artigo (longo) e que compartilhem suas experiências.
Falow!