sega.saturn
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Matheus Caldas dos Santos, 21 anos, tinha o sonho de seguir a carreira militar. Mas o ex-recruta de Santos foi obrigado a deixar para trás a Força Aérea depois de ter contraído uma sequência de doenças pulmonares que comprometeram definitivamente sua capacidade respiratória, resultado de “castigos” como dormir molhado ao ar livre, após um banho gelado, seguido de choques elétricos e agressão física.
Ex-atleta, faixa preta de caratê, Matheus está acionando a Justiça contra as Forças Armadas pelos quatro meses em que, conforme relatou, quase morreu dentro dos limites de duas bases de recrutamento. “Antes de entrar eu praticava atividade física, disputei campeonato, minha saúde estava excelente; eu saí e não consigo fazer nenhum trabalho braçal simples que sinto falta de ar”.
Ele queria ser militar para homenagear o avô, que foi sargento. Alistou-se, chegou à Base Aérea de Guarulhos em 1º de março de 2016, aos 19 anos, e o encanto pela carreira começou a virar frustração a partir da segunda semana, quando foi submetido a treinamento de madrugada em uma área descampada.
“Eu era o xerife do grupo, aquele que sofre consequências se os integrantes não concluírem as atividades. Mandaram fazer flexão, não fizeram até o final. Os sargentos trouxeram um balde de água congelante e começaram a jogar um pouco em cada um e, em mim, jogaram no corpo todo”.
Ao voltar para o quarto, sargentos obrigaram os recrutas a dormir molhados. “Eu estava muito molhado, pedi para me enxugar. Mas tive que obedecer. No dia seguinte, já acordei com mal-estar, frio, dor no corpo”. Mesmo com febre, teve de participar das atividades. Desmaiou e teve uma convulsão.
Matheus provavelmente já estava com pneumonia, diagnosticada mais tarde no Hospital de Aeronáutica de São Paulo (Hasp). Foi medicado e retornou ao quartel. No dia seguinte, o estado piorou: ele começou a vomitar no alojamento. Levado de novo ao Hasp, vomitou sangue, desmaiou e acordou na UTI.
“Minha mãe foi contatada pela Aeronáutica e disseram pra ela que eu tinha ido a óbito”. Os médicos constataram que a pneumonia havia evoluído para uma sepse pulmonar, inflamação sistêmica causada por reação do organismo à doença.
Após cerca de uma semana de internação, Matheus voltou à Base Aérea, com dores na região do pulmão, mas ainda com esperanças de continuar. Após uma semana de descanso, voltou aos treinamentos mas sabia que havia algo de errado, porque a disposição não voltava e as crises de dor no pulmão eram constantes. “À noite eu vomitava sangue. Ficava com muito frio, me sentia mal. Passava pelo posto de saúde, mas não davam importância”.
Até que, de folga em Santos, recebeu o diagnóstico de que havia perdido metade dos alvéolos pulmonares. Matheus chegou a levar o atestado ao quartel. “Eles me disseram que atestado de médico civil só servia pra ‘limpar a b...”.
Ameaças e agressões
A situação passou das agressões rotineiras a ameaças até de morte quando a mãe, Virgínia, passou a ir ao quartel em busca de explicações. “Eles debochavam. Diziam: ‘é normal morrer durante o treinamento. Quantos já morreram aqui”’, relata Virgínia.
Por maior que fosse a vontade, Matheus já não queria mais continuar. “Mas eu não podia abandonar, senão seria considerado desertor, é crime militar e eu poderia ser preso”. Ele chegou a ser transferido para o 4º Comando Aéreo Regional (IV Comar), onde afirma também ter sofrido maus-tratos. Passou por uma inspeção de saúde na qual, segundo ele, foi considerado inapto.
O jovem, no entanto, recebeu um certificado de alistamento de dispensa por excesso de contingente. “Como me dispensam por estar inválido (para o serviço militar) e alegam excesso de contingente?”.
Vida normal?
Matheus tentou retomar a vida após o quartel. Começou a trabalhar em funções que exigiam certo esforço físico e percebeu que não conseguia fazer nada que elevasse sua frequência cardiorrespiratória além de um limite bem inferior ao aceitável para pessoas saudáveis. Ele resolveu cursar Direito. Entrou na faculdade ano passado.
Em conversa com um advogado, decidiu acionar a Justiça. “Vamos entrar nos próximos dias na Justiça Militar contra os agressores e na Justiça comum contra o Estado e as Forças Armadas”, explicou Fabrício Posocco, advogado especialista em Direito Civil.
O processo tem como base principalmente o Artigo 209 do Código Penal Militar, que enquadra o ato de ofender a integridade corporal ou a saúde de alguém. Em seu Artigo 2º, estipula de dois a oito anos de prisão para quem “produz, dolosamente, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou finção, incapacidade permanente para o trabalho ou deformidade duradoura”.
Matheus conta com pelo menos cinco testemunhas que também passaram por maus-tratos durante o treinamento. “Não sei como vou viver daqui pra frente, se ainda terei vida saudável, se terei novas complicações... hoje, eu tenho 21 anos, mas e daqui a 20, 30 anos?”.
Procurado, o Comando da Aeronáutica informou que não compactua com comportamentos inadequados às suas atividades, assim como repudia agressões ou quaisquer outros atos que denigram a dignidade humana.
Em nota diz ainda que, diante do exposto na reportagem, aguarda o recebimento dos autos do processo judicial para que, de posse de todos os detalhes nele apresentados, possam ser tomadas as medidas administrativas cabíveis
Ex-atleta, faixa preta de caratê, Matheus está acionando a Justiça contra as Forças Armadas pelos quatro meses em que, conforme relatou, quase morreu dentro dos limites de duas bases de recrutamento. “Antes de entrar eu praticava atividade física, disputei campeonato, minha saúde estava excelente; eu saí e não consigo fazer nenhum trabalho braçal simples que sinto falta de ar”.
Ele queria ser militar para homenagear o avô, que foi sargento. Alistou-se, chegou à Base Aérea de Guarulhos em 1º de março de 2016, aos 19 anos, e o encanto pela carreira começou a virar frustração a partir da segunda semana, quando foi submetido a treinamento de madrugada em uma área descampada.
“Eu era o xerife do grupo, aquele que sofre consequências se os integrantes não concluírem as atividades. Mandaram fazer flexão, não fizeram até o final. Os sargentos trouxeram um balde de água congelante e começaram a jogar um pouco em cada um e, em mim, jogaram no corpo todo”.
Ao voltar para o quarto, sargentos obrigaram os recrutas a dormir molhados. “Eu estava muito molhado, pedi para me enxugar. Mas tive que obedecer. No dia seguinte, já acordei com mal-estar, frio, dor no corpo”. Mesmo com febre, teve de participar das atividades. Desmaiou e teve uma convulsão.
Matheus provavelmente já estava com pneumonia, diagnosticada mais tarde no Hospital de Aeronáutica de São Paulo (Hasp). Foi medicado e retornou ao quartel. No dia seguinte, o estado piorou: ele começou a vomitar no alojamento. Levado de novo ao Hasp, vomitou sangue, desmaiou e acordou na UTI.
“Minha mãe foi contatada pela Aeronáutica e disseram pra ela que eu tinha ido a óbito”. Os médicos constataram que a pneumonia havia evoluído para uma sepse pulmonar, inflamação sistêmica causada por reação do organismo à doença.
Após cerca de uma semana de internação, Matheus voltou à Base Aérea, com dores na região do pulmão, mas ainda com esperanças de continuar. Após uma semana de descanso, voltou aos treinamentos mas sabia que havia algo de errado, porque a disposição não voltava e as crises de dor no pulmão eram constantes. “À noite eu vomitava sangue. Ficava com muito frio, me sentia mal. Passava pelo posto de saúde, mas não davam importância”.
Até que, de folga em Santos, recebeu o diagnóstico de que havia perdido metade dos alvéolos pulmonares. Matheus chegou a levar o atestado ao quartel. “Eles me disseram que atestado de médico civil só servia pra ‘limpar a b...”.
Ameaças e agressões
A situação passou das agressões rotineiras a ameaças até de morte quando a mãe, Virgínia, passou a ir ao quartel em busca de explicações. “Eles debochavam. Diziam: ‘é normal morrer durante o treinamento. Quantos já morreram aqui”’, relata Virgínia.
Por maior que fosse a vontade, Matheus já não queria mais continuar. “Mas eu não podia abandonar, senão seria considerado desertor, é crime militar e eu poderia ser preso”. Ele chegou a ser transferido para o 4º Comando Aéreo Regional (IV Comar), onde afirma também ter sofrido maus-tratos. Passou por uma inspeção de saúde na qual, segundo ele, foi considerado inapto.
O jovem, no entanto, recebeu um certificado de alistamento de dispensa por excesso de contingente. “Como me dispensam por estar inválido (para o serviço militar) e alegam excesso de contingente?”.
Vida normal?
Matheus tentou retomar a vida após o quartel. Começou a trabalhar em funções que exigiam certo esforço físico e percebeu que não conseguia fazer nada que elevasse sua frequência cardiorrespiratória além de um limite bem inferior ao aceitável para pessoas saudáveis. Ele resolveu cursar Direito. Entrou na faculdade ano passado.
Em conversa com um advogado, decidiu acionar a Justiça. “Vamos entrar nos próximos dias na Justiça Militar contra os agressores e na Justiça comum contra o Estado e as Forças Armadas”, explicou Fabrício Posocco, advogado especialista em Direito Civil.
O processo tem como base principalmente o Artigo 209 do Código Penal Militar, que enquadra o ato de ofender a integridade corporal ou a saúde de alguém. Em seu Artigo 2º, estipula de dois a oito anos de prisão para quem “produz, dolosamente, enfermidade incurável, perda ou inutilização de membro, sentido ou finção, incapacidade permanente para o trabalho ou deformidade duradoura”.
Matheus conta com pelo menos cinco testemunhas que também passaram por maus-tratos durante o treinamento. “Não sei como vou viver daqui pra frente, se ainda terei vida saudável, se terei novas complicações... hoje, eu tenho 21 anos, mas e daqui a 20, 30 anos?”.
Procurado, o Comando da Aeronáutica informou que não compactua com comportamentos inadequados às suas atividades, assim como repudia agressões ou quaisquer outros atos que denigram a dignidade humana.
Em nota diz ainda que, diante do exposto na reportagem, aguarda o recebimento dos autos do processo judicial para que, de posse de todos os detalhes nele apresentados, possam ser tomadas as medidas administrativas cabíveis