Manolos, tava morrendo de tédio e acabei encontrando o tópico, dei uma lida e lá se foram umas duas horas da minha noite, mas deu uma vontade de desabafar também, então bora lá.
Como o nickname sugere, meu nome é Hendril Muinarczyki Lara.
Eu tenho 16 anos.
Nasci com mãe e pai, família "estruturada".
Quando pequeno, morava com minha mãe na casa da minha avó, em um bairro nobre na zona sul.
Então o meu avô contratou umas pessoas e com isso construiu um apartamento para mim e para minha mãe acima do apartamento do meu tio, que fica aos fundos da casa da minha avó.
Certas manhãs eu acordava sem motivo aparente as 6h, e então abria a porta, descia as escadas externas e via ele encostado na parede da casa da minha avó observando o horizonte enquanto fumava cigarro, depois olhando para mim com uma cara de felicidade que nunca vou esquecer e me perguntando se queria comer maionese (salada de batatas), que era, digamos, o prato especial dele.
Meu pai deixou a mim e a minha mãe quando eu tinha entre 2 e 3 anos, e quando criança sempre tive aquele sentimento de que alguém que me entendesse pudesse estar por aí, em algum lugar do mundo.
Logo meu avô, que era a pessoa mais importante da minha vida depois da minha mãe, faleceu.
Ele era o único que me entendia entre a minha família.
Minha mãe entrou em depressão, passou a viver de freelance e desde então não tínhamos mais dinheiro nem para pagar as contas de água e luz.
Minha avó, que já era professora de educação física, passou a se ocupar com aulas de meditação, horas extra, conferências e clubes de dança, pois se tivesse tempo livre, creio que se lembraria de meu avô e acabaria entrando em depressão.
Um outro tio meu, que morava na casa de minha avó, foi morar em uma cidade próxima e constituiu uma família, com um emprego estável em uma prefeitura.
Meu tio que morava no apartamento abaixo do meu se tornou um mala-sem-alça, brigava comigo pois não deixava eu usar o computador com a premissa de que tinha de trabalhar com ele, enquanto a única coisa que fazia o dia todo era admirar mulheres no Badoo.
Minha tia acabou ficando meio louca da cabeça, se tornou viciada em mim, inventou apelidos como "Coraçãozinho" e "Baixinho" para mim e me convidava pra todo o tipo de eventos.
Depois de conflitos com o resto da família, eu e minha mãe saímos da zona sul para ir morar em um loteamento comunitário chamado Loteamento Cavalhada, ou conhecido como Cai-Cai.
Lá minha mãe conheceu um cara chamado Adriano, que se tornou namorado dela e rapidamente passou a se tornar agressivo tanto com ela quanto comigo.
Depois de uns dois anos vimos a necessidade de fugir daquela realidade, e saímos do tal loteamento para morar em um apartamento alugado numa avenida.
Como havia passado por tudo aquilo, eu aprendi a não confiar facilmente nas pessoas, e passei a perder o contato com pessoas físicas e me isolar no computador, com minha até então ótima internet 3G.
Até fiz amizade com um vizinho de apartamento, mas um certo dia eu ouvi a mãe dele falando com algumas amigas sobre a minha mãe ser louca, e notifiquei ela sobre isso, oque ocasionou uma briga entre as duas e na perda da minha nova amizade.
A vizinha foi morar em outro lugar e nós continuamos por alguns meses, porém vimos o aluguel subir rapidamente e nos sentimos obrigados a mudar novamente.
Viemos morar onde agora estou, em outro loteamento chamado Wenceslau Fontoura, localizado no bairro com maior número de homicídios da cidade.
No início, eram tiroteios e mortes todos os dias. Testemunhei assassinatos e uma xacina que ocorreu na minha rua há alguns anos.
Novamente fiz amizade com um cara da minha idade que parecia comigo, o Lucas.
Era um gordinho de óculos que parecia curtir computadores e ser diferente dos outros, como eu.
Nos tornamos grandes amigos, porém brigamos várias vezes, chegando ao ponto de trocarmos socos, e em todas estas eu sendo o cara que apanhava.
Mas superamos a infantilidade e somos amigos até hoje, porém nosso amadurecimento foi diferente. Ele hoje parece me ver mais como um rival do que como um amigo, e quer ser melhor que eu em tudo, vem até comparar nossas notas no final dos trimestres.
Nos formamos no ensino fundamental juntos, e hoje fazemos o primeiro ano do ensino médio na mesma escola.
Somos bolsistas em uma escola Marista, localizada no Centro Social Marista, onde também há o Polo Marista de Formação Tecnológica, onde fazemos juntos um trabalho de turno inverso pelo Jovem Aprendiz.
Nosso trabalho é, na verdade, um curso de programação de software, porém cotizado por algumas empresas patrocinadoras do polo, que nos pagam R$500,00 mensais para estudar.
Porém, nada é um mar de rosas.
Minha avó desenvolveu alzheimer e hoje está internada em uma clínica geriátrica horrível, onde suspeito que seja mal tratada.
Meu tio que foi morar em uma cidade do interior está interditando ela e lucrando dinheiro em cima dela.
Meu tio que mora no apartamento abaixo do de minha mãe na zona sul não permite a venda ou aluguel do nosso apartamento, pois não gosta da ideia de ter vizinhos em cima.
Minha tia tentou pegar minha guarda e brigou muitas vezes com minha mãe.
A transição entre uma escola municipal e uma escola de nível marista é muito difícil, e embora eu tire boas notas, me sinto sobrecarregado.
A aula termina ao 12:50 e eu devo estar no trabalho as 13:30, ou seja, tenho 40 minutos para chegar em casa, trocar de uniforme, almoçar e voltar.
A escola tem um refeitório que dispõe almoço para quem precisa e para os professores, porém eles alegam que eu não preciso por morar perto da escola (e mesmo morando perto eu tenho que almoçar em menos de 5 minutos para não me atrasar).
O Lucas, por outro lado, consegue almoçar lá, pois sua mãe tem uma doença chamada Lupus ou algo assim, e supostamente não pode cozinhar para ele (embora durante o ensino fundamental ela sempre tenha cozinhado para ele, e na nossa rua morem também o pai, a avó, o avô, a tia e o marido da tia dele, podendo todos eles alimentá-lo).
Memorizar os conteúdos que aprendo na escola é difícil pela interferência dos conteúdos do curso, e vice-versa.
Todo o meu dinheiro vai para as contas da casa e o sustento de mim e de minha mãe, e não sobra nada pra eu comprar algo que eu queira, como um computador bom.
Minha mãe conseguiu, há cerca de um ano, um emprego ótimo de garçonete em uma pizzaria nobre da cidade, porém em menos de 1 mês de trabalho desistiu, alegando que o trabalho era muito cansativo.
Ela iniciou graduação de história em uma faculdade particular, financiada por um de meus tios, porém trancou a faculdade diversas vezes e agora desistiu disso também.
No verão de 2013 fui visitar meu pai, e sinceramente, foi uma experiência ruim.
Não me adaptei nada a ele, pois me tratou mal e tinha uma nova esposa, que tentou me agredir algumas vezes e parecia achar que eu era um animal ou coisa assim.
Tento aguentar o tranco, mas é difícil.
Sinto muita saudade de meu avô e, agora, de minha avó também, pois já a vejo partir, e não tenho como impedir.