Entendo o que o Denrock quer dizer, mas o fato é que essas surpresas sempre ocorreram nas Copas do Mundo, principalmente com este sistema de playoffs, que, bem ou mal, é o mais emocionante e tenso que pode existir, em que pese as injustiças, do ponto de vista técnico. Os melhores times, quando se fala em qualidade individual, ofensiva e tática, nem sempre são os vencedores neste tipo de torneio.
Toda Copa possui esses times que chegam longe e até batem campeão por contar com fatores que estão fora da sua espera de domínio. Veja a sofrível Argentina de 90, que passou em terceira na fase de grupo; nos playoffs, passou pelo Brasil, Iugoslávia e Itália. Venceu aos trancos e barrancos esses times. Contra o Brasil, jogou e ganhou o jogo por uma bola e os seguintes, nas penalidades. Chegou à final de forma muito parecida com a Croácia de hoje. Mas perdeu o jogo por meio de um pênalti mandrake.
O que seria de nós se o Baggio, que estava sendo o grande homem da Copa 94, junto com Romário, não tivesse lesionado? E, em 98, se Ronaldo não tivesse tido a convulsão, é provável que os brasileiros entrassem com outro espírito para a final. Mas o Brasil e a França não tiveram nada a ver com isso.
A Argentina de Ayala, Zanetti, Sorín, Crespo, Verón, Batistuta, Ortega e Aimar, nos pontos corridos, atropelou tudo e todos nas Eliminatórias da Copa de 2002. Só perdeu para o Brasil, salvo engano. Tinha um timaço. Mas chegou na Copa, passou mal, e colocou no lixo toda aquela geração. Em torneios curtos sempre existirá isso.
O jogo de futebol é decidido por detalhes e um conjunto de variáveis que fogem, em alguns casos, da responsabilidade dos jogadores e do técnico. Eles precisam jogar para criar probabilidades favoráveis. O time competente é aquele que soma o maior número de tomadas de decisões certas, dentro e fora de campo, logo, mais probabilidades ele cria para o sucesso, mais chances de conseguir gols e próximo da vitória ele estará.
A própria Croácia simplesmente aproveitou as chances que teve e não deu vazão ao azar e às injustiças. E essas chances, por mais mínimas e aleatórias, foram muitas vezes decorrentes da incompetência dos adversários, como os gols perdidos pela Dinamarca e Rússia, e pela incompetência e inferioridade técnica dos ingleses. E a Croácia fez a sua parte, ao criar as probabilidades de vitória, jogando de forma impositiva também.
A Croácia contou com um chaveamento benéfico, mas também conseguiu somar o maior número de decisões acertadas dentro de campo em relação aos derrotados, no espaço e na hora necessários. Um exemplo: Agora se revela importante a decisão de poupar os jogadores no terceiro jogo da fase de grupos. Conseguiram jogar inteiros neste jogo contra a Inglaterra.
Mas, quem sabe, pela incompetência de não ter ganho no tempo normal dos seus adversários anteriores, a Croácia sinta contra a França o cansaço físico?