O que eu não entendo em São Paulo é como tem tanto prédio velho e cansado no centro que ainda não caiu ou se ainda são realmente viáveis de se morar (digo de problemas como infiltrações, paredes, canos e fiação, se compensa mesmo reformar ou é melhor derrubar tudo), só na Santa Cecília tem vários, além das ocupações dos sem-teto. Na Santa Efigênia vi um que a fachada estava se erodindo e na Liberdade parece que a prefeitura proibiu a construção de novos prédios.
Tem várias causas desse fenômeno no centrão (com imagens do streetview para entretenimento adicional!!! Gozem de alegria):
- Mudanças do poder público:
Uma quantidade
ENORME de edifícios de grande porte abandonados no centro pertencem
ao governo, tanto federal, como estadual e municipal. Por razões diversas (corrupção na forma de mudança de imóvel próprio para outros com contrato de aluguel jóinha, incompetência ou simples mudança politica), o governo direto e reto muda a sede de Juizados, Secretarias, Autarquias, Estatais... de um ponto para outro da cidade, e devido nossa legislação b*sta e uma certa corrente ideológica (largamente, a extrema-esquerda), os poderes tem uma dificuldade imensa em privatizar esses edifícios, e por não conseguir manter um imóvel fechado, ele é abandonado caindo os pedaços. O INSS é recordista de imóveis abandonados na cidade de São Paulo:
são mais de 60 (!).
Exemplos:
Edifício Wilton Paes de Almeida (governo federal, hoje é uma pilha de entulho pois pegou fogo e desabou).
Antiga Sede do INSS (governo federal,
abandonado faz 42 anos).
Quartel do Segundo Batalhão de Guardas (Exército, e então PM de São Paulo).
Espaço Projeto Nova Luz (prefeitura, tente não rir: era o espaço conceito de revitalização do centro velho, abandonado por Haddad).
- Senhores passageiros, apertem os cintos, a construtora sumiu!:
Nos anos 80 e inicio dos 90 era normal a construtora simplesmente sumir, virar pó de purpurina e desaparecer, largando para trás um lindo esqueleto inacabado e uma pilha de processos na justiça. O mais notável caso é a ENCOL, que caiu de barriga pra cima em 98 largando 720 empreendimentos abandonados. Como a legislação urbanística de São Paulo é um lixo, tornando praticamente impossível o poder publico tomar esses lugares e revender, eles ficam ali, um estorvo por décadas.
Exemplos:
Esqueletão da Rua do Carmo. (ninguém nem sabe dizer quem é o dono ou o que era para ser).
Esqueleto da Rua Doutor Rodrigo Silva (outro que é um mistério).
- Falência condominial:
Uma das ideias mais recorrentes sobre "revitalização do centro", com boas intenções mas que é de jerico quando pensada com cuidado, é o retrofit de edifícios construídos para a alta classe e edifícios comerciais abandonados para habitação popular.
Por quê, você me pergunta? Simples, ao contrário dos edifícios da CDHU, que são projetados do zero para serem de baixa manutenção (e muitos deles ainda assim ficam pavorosos com o tempo), esses edifícios do centro não foram projetados para isso. Para muitos deles para se manterem, requerem taxas de condomínio na ordem de uns 400/600 reais por mês e administração profissional, muito além das condições de uma família de baixa renda. Pior, como o sindico é usualmente alguém também morador e de baixa renda, a chance é gigantesca de ser alguém incompetente, sem qualificação, para o cargo.
Resultado é que com o tempo o condomínio acumula dividas imensas, impagáveis, e decreta falência, passando por décadas sem manutenção. E isto piora a situação ainda mais, já que quem tem condições de ir embora, vai, reduzindo ainda mais a renda do condomínio. Eventualmente os moradores que sobram ligam o f**a-se e qualquer coisa com semblante de administração de condomínio é dissolvida, passando ser os moradores fazendo vaquinhas para reformar aqui ou ali mais crítico.
Exemplos:
Edificio Julia Cristianini (talvez o caso mais notório de falência de condomínio da cidade de São Paulo).
Palacete Nacin Schoueri.
- Crise dos anos 80:
A crise dos anos 80 e 90 bateu pesado no centro velho de São Paulo, acelerando a falência de diversas grandes empresas da região. E a degradação da região e a péssima infraestrutura viária para carros fez outras tantas devolverem os prédios para seus donos e irem para Jardins, Moema, Pinheiros, Vila Olimpia, Santo Amaro...
Exemplos:
Banco Das Nações. Edifício Prestes Maia (Cia. Nacional de Tecidos).
Casa das Retortas (antiga sede da atual Comgás).
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Briga de herdeiros:
Uma das grandes desgraças do Brasil é a figurinha do "herdeiro": a prole de um grande empresário qualquer, que ao invés de criar uma fundação para suas empresas continuarem existindo após sua morte, resolveu deixar tudo para os rebentos mimados e burros que nunca fizeram mas nem trabalho de escola direito na vida. E eles começam brigar entre si já no cemitério que o corpo está sendo velado.
Essas brigas se arrastam por décadas, algumas vezes até por gerações. E enquanto isso o "patrimônio" do defunto vira pó: todas suas empresas falem, todos os imóveis ficam fechados e sem manutenção, e as dividas e impostos vão acumulando loucamente sem pagamento.
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CONDEPHAAT:
E temos o "Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico" do Estado de São Paulo. Com sua lentidão, apatia, burocracia, falta de fiscalização e estranha sanha em sair tombando qualquer porra como "patrimônio", confundindo "tombamento" com "preservação", fez com que uma enormidade de donos de prédios tombados tocassem o f**a-se para a propriedade. Ele aluga o prédio caindo aos pedaços para "comércios populares", cujo o dono do próprio comercio está se lixando para a região, e usa ele de depósito.
Exemplos: esse é mais fácil eu colocar uma rua inteira de exemplo, a
Rua Barão de Duprat. Note a quantidade de imóveis que seriam lindos totalmente descaracterizados, janelas cimentadas, pintados de qualquer jeito, musgo nas paredes, grades mal colocadas... e toda a região é assim. Lugar horrivel, todo fodido. Agora pasme: essa rua inteira praticamente é "patrimonio tombado" pelo CONDEPHAAT.