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É óbvio que a gente olha o negócio de um aspecto puramente individual e aí é fácil pular para conclusões. "1000/2 > 1000/5, logo se a Marycreuza não tivesse tanto filho ia ser melhor. Era só TODAS as Marycreuza da favela começar a ter um filho que logo mais o problema da pobreza no brasil tava resolvido"
Bom, o brasileiro está há 40 anos consecutivos diminuindo suas taxas de natalidade (inclusive da parcela mais pobre, que caiu mais de 20% nos últimos 15 anos) e, com exceção do boom das commodities na segunda metade dos 00, isso ainda não surtiu efeito de termos "filhos com melhores possibilidades de emprego". Estamos há 40 anos diminuindo o tanto de crianças e há 40 anos com renda quase que estagnada (aumento de poder de compra se dá também por barateamento tecnológico, não se esquecer disso). Ué... estranho, não deveria ser o contrário?
Aliás, sobre essa questão dos jovens com mais oportunidade: o que mais tem por aí (inclusive nesse fórum) é zoomer já derrotado pela vida e sem esperanças. Estão jogando um problema ESTRUTURAL na classe mais pobre e isso nunca vai se resolver com política de controle de natalidade. Mantidas as mesmas "condições de temperatura e pressão", se tiver menos gente você só vai ter menos pobres, fim.
Os problemas dos pobres (e não apenas deles) no Brasil são outros (principalmente ausência de políticas públicas efetivas e questões culturais, mas aí é tema para outro tópico)
E digo mais: a partir de um certo nível de segurança financeira (suficiente para as crianças se desenvolverem intelectualmente), tanto faz aumentar mais a renda familiar dentro de uma certa faixa. E aí vem a questão dos problemas serem outros...
Exemplo: as crianças vietnamitas - num país com 1/4 do nosso per capita, provavelmente perto dos estados mais pobres do Brasil -, espancam as brasileiras no PISA. Elas simplesmente vão MUITO melhor em leitura, ciências e matemática. E mesmo se comparar as crianças do vietnam com a elite das escolas particulares brasileiras (
https://istoe.com.br/pisa-expoe-abismo-entre-rede-publica-e-particular-no-brasil/,
https://vietnamnews.vn/society/569454/vn-gets-high-scores-but-not-named-in-pisa-2018-ranking.html) as crianças lá ainda vão BEM MELHOR em matemática.
Tipo assim, f**a-se se a criança tem acesso a Playstation, Max Steel e tênis Nike, isso não faz a menor diferença nos processos educacionais (tanto em nível escolar, quanto familiar). Minha mãe trabalha em escola extremamente periférica e tá cheio de piranha mirim enchendo o saco e ganhando iPhone parcelado em 24x nas casas Bahia, às custas da mãe que trabalha de faxineira. Isso não muda NADA.
Não tem pra onde fugir. Individualmente, sim, uma pessoa pode sair da pobreza e subir pelo esforço. Mas no cenário macro o que faz diferença em larga escala é política pública e cultura. É a criança ter acesso a saneamento, alimentação adequada (criança tem que ser amamentada adequadamente e comer direito: verdura, ovo, feijão etc, que é mais barato que ficar enfiando mcdonalds e doce nos pequenos -
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4981537/), um teto para dormir e DISCIPLINA.
Enfim... poderia me alongar mais aqui e dar uma resposta mais completa, mas o tópico no VT também não ajuda muito pois é fácil cair em T0. Além disso o assunto é extenso.
Mas é mais ou menos por aí.