O Ponto entrevista Patrícia Lamadrid, primeiro lugar nas provas discursivas do AFRFB/2010: 194,75 de 200 pontos!
Patrícia Lamadrid é paulistana, 26 anos, engenheira e graduanda em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Ela trabalhava na iniciativa privada, na mais renomada consultoria estratégica do mundo, a McKinsey & Co. Depois de perceber que estava se estressando em demasia, numa pressão constante, resolveu com o marido que pararia de trabalhar para se dedicar integralmente à preparação para o concurso de Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Fechado o projeto, dedicou-se exclusivamente ao estudo das matérias desse cargo, seu único objetivo. Quando foi publicado o edital, cheio de novidades, uma dessas lhe interessou bastante: a cobrança de questões discursivas! Isso porque sempre teve o hábito de ler muito, bem como de escrever, desde cedo. Sabia que, com um pouco de técnica, teria grandes chances de se sair bem nas provas discursivas, e o resultado não foi outro: conseguiu 194,75 pontos, a maior nota do concurso.
Eu tive o privilégio de ser professor da Patrícia, presencialmente, em São Paulo, e lembro-me de sua determinação para o AFRFB/2010. Tanta determinação que ela me fez mudar a ordem de apresentação dos conteúdos do curso, para que ela não “perdesse o mais importante”! (no domingo à tarde ela possuía um compromisso inadiável!) Eu nem sei se ajudei em alguma coisa com a tal mudança de programação, mas de qualquer forma eu não iria perder a oportunidade de dizer isso por aqui – afinal, é sempre uma honra e alegria saber que fui professor de “Menina” tão competente... rs
Embora reconheça que tenha certo dom para escrever, a Patrícia considera importante a preparação do candidato para provas discursivas, como você verá nas suas respostas às perguntas abaixo. “Ler muito, Vicente, e escrever, escrever e escrever, com alguém apontando os seus erros, certamente são os meios que podem aperfeiçoar muito a escrita do candidato. Eu não tenho dúvida de que elaborar respostas a questões discursivas e ter alguém para apontar os seus erros é muito mais importante do que você ficar preocupado com teoria pesada, com esse lenga-lenga sobre „técnicas e mais técnicas‟ de elaboração de discursivas. Enfim, a saída para o candidato que tem dificuldade é praticar, e não perder o seu tempo tornando-se um “especialista teórico” em discursivas” - ensina Patrícia
Passemos agora à entrevista com a Patrícia.
Vicente Paulo: Parabéns, Patrícia! Que pontuação é essa?! Você se preparou para as provas discursivas?
Patrícia Lamadrid: Oi Vicente, eu também fiquei surpresa com a minha nota quando saiu o resultado! E quando você me escreveu convidando a dar
esta entrevista então...rs... As discursivas foram uma boa notícia para mim quando saiu o edital do AFRFB, pois eu sempre gostei de escrever. Desde o início, estive certa de que tiraria uma boa nota nessa parte do concurso e que isso me ajudaria na classificação final. No entanto, nunca imaginava tirar a maior nota na
segunda fase!
Mas uma coisa é certa: esse resultado não “caiu do céu” e nem foi produto única e exclusivamente da minha facilidade para escrever. Ao contrário, foi
consequência de uma preparação intensiva. Devo ter escrito mais de vinte redações antes de fazer a segunda fase do concurso de AFRFB.
Vicente Paulo: Você me disse que sempre teve certa facilidade para escrever. Entretanto, também considerou importante a sua preparação para
isso. Um candidato que tenha se saído muito mal nas discursivas do AFRFB/2010, e que se sinta travado para escrever, ainda pode melhorar
muito até o próximo concurso?
Patrícia Lamadrid: Com certeza, Vicente! Mas ele(a) vai ter que tomar consciência dessa dificuldade e se preparar, porque, como eu já disse, uma
boa nota num concurso público do nível do AFRFB não “cai do céu”, seja nas objetivas, seja nas discursivas. E, na minha opinião, a melhor preparação
é a prática: escrever, escrever e, quando já estiver cansado, escrever mais um pouco...rs...E, claro, ter alguém para corrigir seus textos, pois não adianta
escrever sem ter uma visão crítica de terceiro para que você possa identificar seus erros e não incorrer mais neles.
Vicente Paulo: Parece que teríamos, então, três pontos a considerar na resolução de questões discursivas: dom, técnica (teoria) e prática. Certo?
Que peso você atribui a cada uma deles?
Patrícia Lamadrid: Essa é difícil, hein? Acho que varia de pessoa para pessoa. No meu caso, acho que o dom contou 50%. Os outros 50% vieram
do treino e da técnica. Esses dois últimos estão contabilizados juntos porque, para mim, estão intrinsecamente ligados. Mais do que isso, acho que são
inseparáveis. Tenho essa opinião baseada no modo pelo qual eu aprendi a escrever. Eu nunca fiz um curso teórico de redação, mas eu sempre li e escrevi muito.
Quando criança, eu escrevia redações para o colégio e, antes de entregá-las à professora, pedia a meus pais que as lessem e dessem sua opinião. Eles
sempre tinham uma dúvida ou faziam um comentário e eu sempre acabava mudando algo na versão final do texto. Dessa forma, acabei percebendo alguns padrões - coisas que eu escrevia e que sempre causavam a mesma reação nos meus pais - e comecei a antecipar isso. Passei a escrever já pensando na reação deles e, mais tarde, na do leitor em geral. Eu escrevo um parágrafo e, automaticamente, dou um passo para trás e me pergunto: “O que meu leitor pensará ao ler isto? Será que ele vai entender facilmente? Será que a mensagem que ele vai registrar é a que eu quero passar?”. Essas perguntas, aparentemente simples, óbvias até, para mim são essenciais, pois garantem que meu texto ficará claro, objetivo e passará a mensagem que eu quero passar.
Depois de ouvir muitos comentários dos meus pais e de outras pessoas também, eu acabei desenvolvendo minha própria técnica de redação. Hoje, eu sei o que funciona e o que não funciona em um texto, porque consigo me colocar no lugar do leitor, antecipar suas reações.
Vicente Paulo: Neste momento, de véspera das provas discursivas do concurso de Auditor-Fiscal do Trabalho (que também serão aplicadas pela Esaf), que orientação você daria a um candidato que acredita já tenha sido aprovado na primeira fase e, por isso, tem sonhado com as tais discursivas (nas poucas noites que consegue dormir direito!)? O que fazer nesse período, até o dia das provas?
Patrícia Lamadrid: Sugiro fazer exatamente o que eu fiz quando estava nessa situação: selecionar aqueles temas com os quais o candidato esteja menos familiarizado na matéria, fazer redações sobre eles e pedir que alguém as leia e dê sua opinião. Pode até ser a mãe, o namorado ou um colega. Assim, ele(a) estará revisando a matéria, trabalhando seus pontos fracos e treinando redação. Ah, e o candidato deve tentar otimizar sua agenda para fazer o maior número possível de redações. Qualquer tempinho pode virar uma redação: um intervalo entre aulas, uma viagem de metrô e até uma noite de insônia...rs...
Vicente Paulo: E para aqueles candidatos que se saíram bem nas provas objetivas do AFRFB, mas, ao contrário de você, tiveram um mau desempenho nas provas discursivas, qual a sua orientação? Como esses candidatos devem buscar o aperfeiçoamento, no médio prazo, para os próximos concursos?
Patrícia Lamadrid: Essencialmente da mesma forma, mas, como esses candidatos dispõem de mais tempo até a próxima prova, para eles vale a pena buscar profissionais para lerem suas redações.
Vicente Paulo: Bem, deixando o assunto “provas discursivas” de lado, e falando da sua preparação como um todo. Em média, quantas horas você estudava por dia, antes da publicação do edital?
Patrícia Lamadrid: Antes da publicação do edital, confesso que eu estava meio perdida...rs...
Eu pedi demissão da McKinsey em fevereiro de 2009. Não sabia nada de Direito e nem tinha amigos concurseiros que pudessem me dar qualquer
dica de como estudar. Assim, fui fazer um cursinho estilo “pacotão para AFRFB” em São Paulo. Nessa época, eu passava 3 horas tendo aulas pela manhã. À tarde, estudava em casa pelas apostilas do mesmo cursinho. Devia dar umas 6 horas de estudo por dia, entre curso presencial e estudo individual em casa.
Em meados de 2009, fiz alguns concursos e fui reprovada em todos: ATA, ANAC, TCU, FINEP e ICMS-SP. Foi um balde de água fria, mas serviu para me mostrar que eu estava estudando errado.
Graças a isso, comecei a procurar outras maneiras de estudar. Foi aí que descobri seus livros de Direito Constitucional e Administrativo. Eles mudaram minha vida e me tornei sua fã e também do Marcelo Alexandrino. A tietagem me levou a descobrir o site do Ponto dos Concursos e seus cursos.
Nesse ponto, eu já comecei a desistir de algumas aulas do cursinho “pacotão”. Preferia ficar em casa lendo e resumindo o livro que eu tinha acabado de descobrir. Como eu estava adorando a leitura, comecei a estudar mais, por pura empolgação, por achar aqueles novos conhecimentos super interessantes. Nessa época, eu já devia estudar umas 8h a 10h por dia.
Quando eu estava quase acabando de ler o primeiro livro, que foi o de Constitucional, saiu o edital! Aí eu entrei em desespero, porque eu ainda não me sentia preparada para as matérias “velhas” e, para piorar, vieram as “novas”. Meu consolo nesse momento foram as discursivas...rs...
Vicente Paulo: E depois da publicação do edital, você passou a estudar mais?
Patrícia Lamadrid: Foi a partir daí que eu comecei a estudar umas 15h por dia, sem brincadeira. Eu começava lá pelas 10h da manhã, depois de caminhar 1h com a minha cachorra pelo bairro, e ia até de madrugada. Nessa época, eu passei uns tempos na casa dos meus pais. Eu praticamente não saía do quarto. Meu pai ficou até preocupado. Ele falava que estudar tanto fazia mal, que eu deveria estudar menos. Mas quando eu me coloco um objetivo, não há o que me faça parar, então fui em frente.
Além de estudar pelos livros e pelas apostilas do Ponto, comecei a fazer alguns cursos com os professores famosos. Alías, foi nessa época que tive aula com você, Vicente. Eu estava tão frenética e desesperada para aprender Controle de Constitucionalidade que pedi a você para mudar a ordem da aula, senão eu ia perder essa matéria, porque no domingo à tarde eu tinha Fuvest...rs...
Vicente Paulo: Durante a sua preparação, você resolveu muitos exercícios de provas anteriores? Se afirmativo, isso foi importante para você?
Patrícia Lamadrid: Não resolvi, Vicente. E acho até que essa foi uma das razões pelas quais meu desempenho não foi tão bom na primeira fase do concurso (eu estava fora das vagas). Apesar de sempre ter sido defensora dessa metodologia de estudo, que, aliás, eu adotei durante toda a faculdade de engenharia, para o AFRFB não consegui fazer isso. Eu precisei começar pela teoria, porque não tinha base nenhuma nas matérias.
Quando consegui terminar a teoria de todas as matérias, já estava em cima do concurso. O que eu fiz e que ajudou bastante foram alguns cursos de exercícios com os professores famosos, como o que eu fiz com você.
Vicente Paulo: Você teve a coragem de parar de trabalhar na iniciativa privada para se dedicar somente aos estudos para o AFRFB. Como você conviveu com isso? Para que tipo de candidato você indica essa atitude?
Patrícia Lamadrid: Essa eu acho que foi a parte mais difícil de todo o processo, sabia?
Para resumir a história toda, digamos que largar meu emprego foi uma decisão muito difícil e eu demorei um ano para tomá-la. Ficar só estudando, sem ganhar dinheiro, com economias que dariam apenas para alguns meses, depois dos quais eu dependeria da família era assustador. E, como esperado, foi realmente muito difícil. Por outro lado, tenho certeza de que isso foi essencial para atingir meu objetivo, dado que eu dispunha de poucos meses até o concurso e dado que meu emprego não me permitia estudar durante a semana.
Quando as pessoas me pedem conselhos de como passar em um concurso do nível do AFRFB, eu digo sempre que depende da situação de cada um. Vários fatores influenciam na escolha da estratégia de preparação, como, por exemplo: conhecimento prévio das matérias, experiência em concursos, proximidade (esperada) do concurso desejado, disponibilidade de tempo para estudar e capacidade financeira familiar.
Eu tinha: pouquíssimo conhecimento prévio da matéria, nenhuma experiência anterior em concursos, alguns meses até o concurso que eu queria e pouquíssimo tempo disponível para estudar (só finais de semana) se continuasse no meu emprego. Além disso, tinha algum dinheiro guardado e possibilidade de ter apoio da família se esse dinheiro acabasse antes de eu passar em algum concurso. Por isso, minha estratégia foi concentrar os estudos em pouco tempo, o que passou por largar meu emprego e me dedicar em tempo integral ao meu objetivo.
Por outro lado, uma pessoa que esteja em situação diferente (que já tenha uma noção das matérias, que tenha um tempo maior até o próximo concurso e que disponha de mais tempo para estudar, por exemplo), pode ter sucesso optando por outra estratégia. Basta ver o caso do Carlos Augusto Beckenkamp, por exemplo. Ele conta em sua entrevista que não parou de trabalhar durante sua preparação e, mesmo assim, passou em primeiro lugar no concurso.
Vicente Paulo: Se você tivesse de apontar, em poucas linhas, numa questão discursiva (risos), qual o seu maior acerto na preparação para o AFRFB, qual seria ele?
Patrícia Lamadrid: Essa é fácil...Meu maior acerto foi estudar muito!!! Brincadeiras à parte, acho que três acertos, e não um, foram decisivos para minha aprovação. Os dois primeiros acertos estão relacionados ao conteúdo das matérias e o último, às discursivas. O primeiro foi estudar pelos livros bons da área de concursos e pelas apostilas do Ponto, porque sou autodidata e otimizei meu tempo dessa forma. O segundo foi fazer resumos desses materiais , primeiro porque me ajudou a fixar o conteúdo, segundo porque me permitiu revisar rapidamente a matéria toda antes das provas. O terceiro foi ter praticado muitas discursivas com a ajuda de uma professora particular que corrigia meus textos.
Vicente Paulo: E o que você não faria novamente?
Patrícia Lamadrid: Não estudaria no sábado à noite, bem no meio das discursivas. Você acredita que eu fiz isso? Fiz a primeira prova, de conhecimentos gerais, no sábado à tarde e, chegando em casa, resolvi reler um resumo. Por perceber que não lembrava de algum detalhe da matéria, acabei me desesperando, querendo ler todos os resumos e perdendo o sono. Resultado: quase não dormi de sábado para domingo, fiquei super nervosa e com torcicolo! Fiz a prova do domingo de manhã nesse estado. Só à tarde melhorei um pouco, mas não completamente. Ou seja, essa história de reler um resumo na última hora não acrescentou nada. Pelo contrário, me deixou nervosa e quase me fez fracassar.
Vicente Paulo: Que mensagem você deixaria para os candidatos do AFRFB/2010 que não conseguiram ser aprovados agora, mas que querem continuar se preparando para esse mesmo cargo?
Patrícia Lamadrid: Que continuem estudando em um ritmo mais leve por enquanto. Procurem os melhores materiais e professores para cada matéria. Façam resumos. Resolvam muitos exercícios de provas anteriores. Façam muitas redações e peçam a outros que as leiam. Façam outros concursos para se habituarem a ficar horas concentrados em uma prova. E quando sair o novo edital, estudem muito para relembrar tudo e chegar com toda a matéria “fresca” na cabeça.