Os roteiristas estão falhando de forma grosseira e preguiçosa. Dou total razão aos amigos que dizem que virou novela. De fato, virou novela, e mexicana. Eles estão alimentando o enredo com crises e problemas onde, naturalmente, não deveriam haver.
O primeiro deles é a crise inicial entre a Sansa e a Daenerys.
Por mais que a Sansa, hoje, seja uma mulher experimentada e por mais que a Daenerys seja filha daquele quem matou seus parentes, ela jamais deveria estar, nesta atual conjuntura política de Westeros, decidida a rechaçar sumariamente a Daenerys, configurando uma má vontade gratuita de mexeriqueira de ponta de calçada. Antes pelo contrário, a Sansa deveria depositar a mínima confiança e gratidão na Daenerys, independentemente da personalidade altiva da rainha. E as razões disso são muitas.
Do ponto de vista dos nortenhos, a Daenerys prestou um grandiosíssimo favor ao aceitar fornecer obsidiana, dragões e grandes exércitos para uma guerra que, a princípio, era reputada fantasiosa para os sulistas e alheia aos interesses dela. Após a grande empreitada em Essos, seguramente a Daenerys, agora, estaria imbuída de recuperar o trono da família, mas resolveu prestar um serviço ao Norte, seja por interesse futuro ou não. O fato é que ajudou! Ponto.
Além do mais, ela é a arqui-inimiga da única inimiga dos Starks, a Cersei, aquela que implantou um alvo na testa de todos eles. Por isso, mais uma razão plausível para, a priori, conferir a Daenerys um voto de confiança.
Apesar do Jon ter dobrado o joelho à Daenerys, entregando-a a subordinação do Norte, Sansa depois viu a olho nu, na Grande Guerra, que as razões do Jon eram não só justificáveis mas também a única decisão com a qual ele poderia contar para ter Daenerys como a única possibilidade de salvar o Norte.
E para Sansa arrefecer o seu espírito suspeitoso, a Daenerys já estava namorando o Jon, o que tendencia a pensar que o Norte teria grande força política quando o seu lorde fosse consorte da Rainha dos Sete Reinos. Isso seria de um poder político para o Norte sem precedentes, desde a chegada de Aegon. À propósito, não se trata apenas do poder pelo poder, mas razões de sobrevivência. O matrimônio de Jon e Daenerys indicaria uma paz ao Norte. Matrimônio esse que, pela lógica, já deveria ser sugerido pela Sansa, até como forma de Daenerys afiançar os seus bons planos para com o Norte.
Eles venceram, Winterfell e o Norte já estão em paz momentânea! Resta-lhes se dirigir à vingança da família (Ned, Cat e Robb) contra a Cersei, juntamente com Daenerys e Jon. A Sansa se afetar com Daenerys, na mesa de planejamento, é desproporcional. Portanto, tramar um golpe e trair o juramento ao irmão-primo Jon, é um risco completamente inconsequente e sem o menor sentido para o futuro da Casa Stark. E a motivação disso tudo está repousada apenas em pré-julgamentos. Sansa arrisca outra guerra civil porque simplesmente não gosta da outra.
Em segundo lugar, é acerca da trama ao trono entre Jon e Daenerys, ora desenvolvida por Tyrion e Varys.
Tyrion e Varys iniciaram uma divagação completamente inócua. A solução é só uma: casamento. No entanto, os roteiristas tentam justificar a nova problematização do impedimento ao casamento com o suposto conservadorismo nortenho. Ora, pombas, se os nortistas não toleram sobrinho se casar com tia, por que eles toleraram por 300 anos os incestuosos irmãos Targaryan? Por que sobrinho se casar com a tia é inaceitável quando sequer eles eram conhecidos?
Creio que isso não seria a grande preocupação quando se tem ameaças possíveis de um governo da Cersei.
Além disso, o argumento de que Dany não vai aceitar também é muito infundado. Quando ela encerrou o relacionamento com Daarios, Daenerys disse que, para ganhar e fortalecer o Trono de Ferro, precisaria se casar com um lorde de uma grande Casa. E, depois, sobre a sucessão, nada melhor do que o Jon para desempenhar este papel como um legítimo Targaryan, tendo em vista a discussão se ela pode ou não engravidar novamente. Revela-se muito mais conveniente isso.
Como discutiu Tyrion na sétima temporada, ela precisaria se orientar sobre o futuro do Trono, caso contrário, levaria a uma crise de sucessão quando estivesse morta. Todos deveriam estar conspirando sim para que Dany e Jon aceitassem o casamento, em vez de conspirarem para colocar um contra o outro.
Estão procurando pretexto em cima de pretexto para criar tramas quando não deveriam haver espaço para isso. Deveria ter, sim, conspirações políticas, mas não por meio destes argumentos frágeis ou mesmo com estes personagens já muito bem definidos. A própria loucura da Daenerys poderia ser desenvolvida, porém sem o paralelo com o amor platônico ao Jon.