Assisti ontem. Minha sessão foi bem tranquila. Excetuando as três aparições surpresas, a galera comportou-se como audiência de cinema, e não de estádio de futebol
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Sobre o filme, complicado avaliar. Vejo alguns usuários no tópico super "indignados" pelas pessoas que não curtiram tanto os aspectos técnicos do filme, porém elas não estão de todo erradas. É o mesmo diretor dos outros dois primeiros filmes, e o cara é a mais pura definição de "feijão-com-arroz". O Jon Watts dificilmente apresenta cenas mal coordenadas, mal editadas e afins, e ao mesmo tempo em momento algum vemos grandes saltos de qualidade ou uma assinatura digna de grande diretor. E essa era a minha impressão até o início do terceiro ato: mais um filme competente do selo Marvel, e só. O primeiro ato, em termos de desenvolvimento de personagem - coisa que demoramos uma trilogia inteira para ter - é bom, e no segundo ato temos o embate entre o Miranha e o Doutor Estranho, que foi a melhor direção de ação do filme. Nada muito extraordinário. As mesmas piadinhas que faziam o cinema mais bufar do que realmente gargalhar, uma queda de ritmo tremenda durante o segundo ato, o mesmo protagonista extremamente dependente de outras pessoas, extremamente imaturo.
E aí temos o terceiro ato. Por isso digo que é complicado avaliar esse filme. Quem não tem nenhuma ligação emocional ao personagem dos cinemas
não está errado em criticar o filme. O roteiro é abarrotado de furos, a fotografia e direção no geral não apresentam nada digno de superlativo. Não é questão de a pessoa querer assistir "O Poderoso Chefão" nas telas. Não é. O filme tecnicamente é okay e só. Porém, mas, entretanto, esse filme não foi feito para as pessoas que não possuem vínculo emocional prévio com o Homem-Aranha. Do mesmo jeito que um "Portrait of a Lady on Fire" da vida não é feito para a galera que só curte filme "massa véi" nos cinemas, e precisa de um tipo de audiência para ser cativo, a mesma coisa acontece em No Way Home. No instante em que temos o ferimento da Tia May adiante, o filme dá um salto tão, tão, tão grande, que é difícil colocar em palavras o que eu senti durante todo o terceiro ato.
Do momento em que esse Peter moleque do Tom Holanda sente o peso das consequências dos próprios erros, e da responsabilidade que é vestir o uniforme do Aranha, até o final do filme, parece que chamaram um irmão gêmeo mais talentoso do diretor para cuidar do filme. Tirando alguns cortes bem confusos na luta final, tentando posicionar todos os personagens que estavam em combate, a direção passa a ter momentos extremamente inspirados. Seja em inserções de motifs das trilhas dos Aranhas anteriores, em fotografia como a cena da chuva do Holanda vendo a reportagem de sua tragédia familiar, até a química surreal entre os três atores - simplesmente tudo encaixa. Andrew Garfield mais uma vez comprovou que não só é, de longe, o melhor ator do trio, como também o melhor Aranha. O Tobey carrega em si toda a nossa infância. Ver o cara aparecer em tela, interpretando o mesmo Peter bobo, inocente, que conhecíamos, mas com toda experiência e maturidade que o personagem ganhou ao longo desses anos foi, simplesmente, impagável. Durante o terceiro ato desse filme eu parecia em um estado de transe, daqueles que temos quando estamos vivenciando algo tão bom ou legal que simplesmente esquecemos tudo ao nosso redor. Uma pena não ver a atuação do Tobey sendo elogiada simplesmente pelo personagem dele não ter momentos dramáticos como o Holanda e o Andrew tiveram. O universo de emoções que ele conseguiu passar ao Holanda com somente um olhar, ao impedi-lo de matar o Duende Verde, mostra toda a força que o ator, mesmo afastado anos do cinema, ainda carrega.
Ademais, queria ressaltar como o Willem Dafoe é um baita ator. Roubou a cena em quase todas as cenas que apareceu, e os responsáveis pelos efeitos visuais merecem todos os méritos possíveis, também. A técnica de rejuvenescimento funcionou muito bem e praticamente não foi distrativa. Gostaria também de destacar dois momentos: Andrew salvando a MJ e concluindo de maneira magistral o arco do personagem, e todo o encerramento que tivemos para o Holanda. Definitivamente tivemos uma trilogia de história de origem para o personagem, o que mostra como ela foi abismalmente mal planejada. Foram necessários três filmes para chegarmos nesse ponto, sendo o segundo completamente inútil. Entretanto, pela primeira vez em todas as participações desse cara no MCU, eu realmente senti que estava vendo o Homem-Aranha em tela ao final de No Way Home. E não só por iconografia, mas por mérito. O ator, e o roteiro, finalmente abraçaram o manto do herói. Um manto de costura, feito pelas próprias mãos, pela dor de tudo o que ele perdeu e teve de sacrificar, imbuindo a responsabilidade que só ele e mais ninguém poderia carregar.